Mandamentos de um Serial Killer é uma série belga que foi lançada em 2017. Como o próprio nome sugere, é um thriller policial que se baseia nos Dez Mandamentos da lei de Deus. Confesso que o piloto não foi lá tão interessante ou chamativo, é até bastante monótono, mas a curiosidade falou mais alto e, olha, ainda bem!
A série se inicia retratando o drama de Vicky Degraeve (Marie Vinck), uma policial das Forças Especiais que havia sofrido um acidente de carro alguns anos antes, mas que não havia se recuperado completamente do trauma físico. Ela foi então aceita pela Polícia Criminal Federal e passou a atuar como investigadora. Na ocasião do acidente, a mãe dela entrou em coma e a narrativa é permeada por um forte drama familiar. O sentimento de culpa que acompanha Vicky é quase palpável.
É uma série de uma temporada só, sem rodeios, o que garante uma densidade narrativa consistente para quem acompanha o drama. Segue os padrões clichês de série policial: conhecer o assassino, tentar desvendar seus próximos passos, perseguí-lo, encontrá-lo e finalmente saber da boca dele o porquê de ele ter feito o que fez da forma como fez.
O drama começa mesmo durante a investigação de um crime de honra – um tio havia assassinado uma moça grávida para proteger o nome de sua família do vexame. Logo após ser liberado por falta de provas, esse tio tem o corpo incendiado, mas não é morto. No local do crime, há a inscrição do primeiro mandamento – amar a Deus sobre todas as coisas.
A partir daí, Moisés – como o criminoso carinhosamente se auto intitula quando entra em contato com a polícia – assume o seu papel de justiceiro e começa a punir pessoas que cometeram algum tipo de crime. Ele faz referências muito claras aos mandamentos. Para quem não se lembra das aulas de catecismo, Moisés foi um dos escolhidos de Deus para guiar o seu povo à Terra Prometida. Foi nessa ocasião que Deus entalhou em pedra todos os mandamentos que deveriam ser obedecidos por Moisés e seus descendentes. Uma referência muito simples, mas sagaz. O fato de haver referências bíblicas torna a série ainda mais macabra visto que, quando se fala em religião, lembramos sempre de bondade e de benevolência, não de punição.
(Grandes spoilers adiante)
É uma série que aborda, de forma muito sutil, a diferença entre psicopata e serial killer, usualmente confundida. Nem todo serial killer é, necessariamente, um psicopata. Descobrir que “Moisés” é, na verdade, Peter Devriendt (Dirk van Dijck) é chocante já que não há qualquer tipo de dica ou indício que aponte para ele. Peter não é um psicopata, embora apresente um comportamento bastante frio e narcisista vez ou outra. Para mim, ele não passa de um policial veterano frustrado que sonhava em combater o crime e tornar o mundo melhor, mas viu que o seu trabalho pouco influenciava nisso. Ver criminosos perversos sendo soltos e saindo impunes de seus crimes fez crescer dentro dele o ódio e a revolta, que eclodiram no nascimento de Moisés.
No processo, ele ainda destruiu sua família. Ao fim da série, a relação dele com a ex-mulher e com a filha quase não existem, o que lhe dá uma carga ainda maior de culpa e remorso. Não é difícil ver o quanto ele tenta salvar sua própria filha em outras garotas – Montana, Blue e até mesmo Vicky.
(Fim dos spoilers)
Outro detalhe interessante é que, mesmo tendo sido traduzida para Mandamentos de um Serial Killer, Moisés não os mata, como é de praxe em casos assim. Isso, na verdade, é ainda pior já que tudo fica mais trabalhoso. Se não as mata, as vítimas podem reconhecê-lo pela compleição física ou pelo tom de voz, que nenhuma delas ouviu. Depois de atacados, alguns dos seus alvos se suicidam ou são mortos por outras pessoas, mas nunca por ele.
A paleta de cores da série não transcende muito o clima europeu, sempre mais fechado e cinzento. Isso também a mantém num platô de obscuridade adequado à narrativa. Cores mais vívidas raramente aparecem e estão, vez ou outra, na roupa de uma criança ou de algum dos investigadores. A classificação indicativa é de 18 anos e vou avisando logo que pode conter alguns gatilhos fortes: estupro, pedofilia, cadáveres em decomposição, mutilação, etc., entretanto, o que “pega” mesmo é a tortura psicológica, devastadora para algumas de suas vítimas, uma mensagem clara de que não é o corpo que está doente, mas a alma, seu subconsciente.
De uma inteligência excepcional, Moisés só é pego por causa de alguns descuidos – que acredito terem sido bem conscientes – depois de finalizados os mandamentos, é aí que ele começa a matar. Vicky, sempre muito desconfiada, fica com uma pulga atrás da orelha em relação a ele, que pede que ela o avise sempre que houver novas pistas, coisa que ela não faz. Ao contar sobre suas suspeitas, ela ainda é desacreditada por seus superiores no departamento, mas se prova precisa em suas suposições. Mandamentos de um Serial Killer vai ficar com a terceira colocação no meu ranking de séries sobre serial killers.
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