Quantas vezes você é capaz de falar do seu livro favorito sem parecer que está apenas se repetindo? O meu livro favorito é um quadrinho e é ele o assunto da vez.
Li Daytripper, dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, pela primeira vez há pouco menos de dez anos, cedendo às indicações insistentes do meu melhor amigo depois de ler The Umbrella Academy. Desde então, já perdi a conta de quantas vezes reli, indiquei, emprestei ou comprei um exemplar para presentear alguém — seja esse alguém leitor de quadrinhos ou não. Já até trouxe para o Puxando da Estante. E os próprios gêmeos já comentaram várias vezes que esse é o tipo de quadrinho que funciona como entrada para muita gente no estilo, ou que pelo menos é mais acessível para as pessoas que não leem quadrinhos. Afinal, é uma história sobre a vida. E sobre a morte.
Existem algumas obras naturalmente difíceis de descrever para quem não conhece sem acabar revelando demais. Daytripper é uma delas. Basta dizer que esta é a história do escritor Brás de Oliva Domingos, que no momento é escritor de obituários, mas que gostaria de escrever outras coisas. Seu pai também é escritor, e até o batizou com o nome de um personagem icônico da literatura brasileira, mas a relação dos dois não é muito boa. Ou, pelo menos, é assim que conhecemos o Brás. E o resto se descobre ao longo dos dez capítulos, lançados originalmente em intervalos de um mês.
Embora tenha sido lançada primeiro em inglês, no mercado estadunidense, Daytripper é uma história brasileira. Ela se passa principalmente em São Paulo, cidade onde nasceram e moram Bá e Moon, e ocasionalmente em Salvador. Também é brasileira nas pequenas coisas, como no conforto que só um cafezinho pode proporcionar. E esses lugares e sensações são retratados na arte (traço de Moon, com cores de Dave Stewart) de uma forma vívida. Quase viva.
Em 2012, quando li pela primeira vez, não existia This is Us, então também não existia a comparação que vou fazer. Mas hoje, depois de reler e reler Daytripper e de conhecer tantas outras histórias, criadas antes ou depois dela, essa é a principal referência que me vem à mente. A série e o quadrinho não tratam da mesma coisa, nem são exatamente parecidos, mas há algumas sensações e sentimentos em comum. Ambos são difíceis de explicar, pois logo no início acontece algo que muda tudo o que sabíamos sobre a história. Ambos abordam sutilezas da vida, da morte e do que acontece entre um e outro. Ambos retratam de forma muito bonita as relações e conexões humanas. E ambos nos fazem sentir emoções com muita facilidade. Até poderia comentar outras coisas, mas acabaria entrando em spoilers.
Mas sim, curiosamente, Daytripper foi lançada antes no exterior. Aqui, saiu pouco após a conclusão da minissérie, em volume único, pela Panini. Também contou com tradução do Érico Assis, um dos melhores e mais conhecidos tradutores de quadrinhos no Brasil — vale conferir seus textos no Blog da Companhia e o livro Balões de pensamento, que compila alguns deles.
Na época, em 2011, o quadrinho ganhou o prêmio Eisner de Melhor Série Limitada. Hoje, talvez tenha atingido o status de clássico moderno. As reimpressões se esgotam rapidamente e parece que há uma eternidade entre uma e outra, mesmo que isso não seja verdade. Os gêmeos já foram premiados novamente no Eisner por seu trabalho na adaptação de Dois irmãos, do escritor manauara Milton Hatoum. Dois irmãos virou série de TV, assim como The Umbrella Academy, trabalho de Bá e de Gerard Way.
E, sempre que os outros excelentes projetos dos gêmeos ganham esse tipo de destaque, mais e mais novos leitores chegam a Daytripper. Para onde sempre voltamos.
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