“Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga, Esse estribilho: “Nunca mais”.
(O Corvo, Edgar Allan Poe, trad. Machado de Assis)
A concepção de literatura ocidental seria, com certeza, deveras diferente sem a influência de Edgar Allan Poe, com seus contos e poemas. O autor de “O Corvo” viveu apenas 40 anos e deixou a vida de maneira trágica e misteriosa, como um personagem das suas histórias extraordinárias, gerando, ainda hoje, diversas discussões sobre a sua real causa da sua morte. O certo é que, aberta ou veladamente, autores como Jorge Luis Borges, Sir Arthur Conan Doyle, Júlio Verne, Franz Kafka, Oscar Wilde, H.P. Lovecraft e os lusófonos Fernando Pessoa e Machado de Assis já declararam as vastas referências a Poe em suas obras literárias.
Se você já leu algum desses autores, ou se ouviu falar em Edgar Allan Poe, mas nunca o leu, vale a pena conferir a lista de 5 contos do rei do terror, para iniciar a leitura desse mestre. Para aqueles que estão familiarizados com as obras de Poe, é válido recordar se já leram todos os contos da lista abaixo, pois eles são imprescindíveis para uma visão geral sobre o autor e as temáticas dos seus textos.
1. O Poço e o Pêndulo
Esse conto, escrito em 1842, é narrado em primeira pessoa e mistura histórias reais com elementos de horror, percorrendo a linha tênue entre o real e a fantasia. O pano de fundo da trama é a Inquisição espanhola e o homem, que é, simultaneamente, narrador e vítima, foi preso pela Santa Inquisição e jogado amarrado em um buraco (O Poço). O foco do conto está na descrição minuciosa do desespero, do medo da morte e de como eram bizarras as torturas físicas, emocionais e psicológicas impostas pelos inquisidores. Demônios e horríveis criaturas fazem parte da decoração desse poço, e um pêndulo “dialoga” mortalmente com seu peito, enquanto ele se encontra amarrado. Diante da riqueza de detalhes com que as torturas são contadas, o leitor é capaz de sentir a agonia do protagonista e se imaginar naquela situação. Então, se sentir falta de ar ao ler, não se desespere, pois não deve ser Covid.
2. O Gato Preto
Os mitos acerca do gato preto, evidentemente, não surgiram a partir do conto de Edgar Allan Poe, mas aqui ele usa dessa crendice antiga para dar uma nova conotação ao espécime, trazendo o seu toque especial de horror. Ao estilo Memórias Póstumas de Brás Cubas (Referência de Machado a Poe?), o narrador relembra fatos que ocorreram entre ele e um gato preto com estranhos comportamentos. A obra explora a psicologia da culpa, com a loucura entre um imaginário humano deturpado e um simples gato. Mais uma faceta do autor é revelada nesse conto, que, apesar de curto, compõe uma ode aos caminhos tortuosos pelos quais a mente humana pode transitar.
3. A Carta Roubada
Esse conto é o último de uma trilogia policial escrita por Edgar Allan Poe. Sim, Poe também escreveu contos policiais! A Carta Roubada acompanha o personagem do detetive Auguste Dupin em mais um caso ocorrido na Paris dos anos 1800, envolvendo o roubo de uma carta que estava na casa do Monsenhor G., delegado da polícia parisiense. O narrador do conto mora na mesma casa de Dupin e conduz uma trama sortida de reviravoltas e enigmas – tão famosos em Sherlock Holmes –, que é resolvida de forma minimalista e curiosa. Uma boa pedida para quem quiser conhecer mais sobre os romances policiais de Poe!
4. Berenice
Outra trilogia famosa de Edgar Allan Poe é a das “Mulheres Etéreas”, composta por Ligeia, Eleonora e Berenice – parece que ele gostava de nomes um tanto quanto incomuns. Berenice é casada com seu primo Egeu, que desenvolve uma estranha obsessão pelos dentes da esposa. Para não dar spoilers, vou me limitar a falar isso. Ler Poe é descambar para o creepy, sempre, e nesse conto ele exprime o suprassumo da sua obra, que é dar ares de horror a personagens/objetos comuns das narrativas. Em Berenice, são os seus dentes.
5. O Escaravelho de Ouro
Finalizando nossa lista, temos um verdadeiro conto do ímpeto aventureiro de Poe. O Escaravelho de Ouro narra a história de William Legrand, um rapaz rico que mora com seu ex-escravo Júpiter, numa casa afastada. Um dia, Júpiter encontra um escaravelho de ouro que é a chave de um tesouro escondido e, a partir daí, os dois saem em uma expedição para encontrar essa riqueza. A história é bem divertida, especialmente porque Júpiter é um personagem muito engraçado e de personalidade forte, algo bastante incomum para a época – os personagens negros eram quase inexistentes ou eram os vilões da história. O final do conto despende um tempo considerável explicando a resolução do mistério, o que pode parecer um pouco maçante para um leitor desacostumado com as obras de Conan Doyle ou Agatha Christie. Uma curiosidade interessante é que o autor modernista Oswald de Andrade escreveu um poema de mesmo nome, mostrando mais uma vez a influência de Edgar Allan Poe para os escritores modernos.
Por fim, é isso! Espero que tenham gostado das indicações e recomendações de contos desse autor clássico da literatura mundial. Garanto que cada história de Poe vai prender a atenção dos leitores e deixá-los boquiabertos com os finais sempre surpreendentes. É impossível parar de ler Edgar Allan Poe depois que se ousa começar.
Comentem que outros contos do mestre do terror vocês apreciam, ou nos contem alguma peculiaridade sobre esse escritor americano. Abraços!
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