Um xamã e uma investigadora relutantemente se unem para prender um serial killer. Café Minamdang, kdrama de 2022 disponível na Netflix, já se instala no rol de ótimos dramas da plataforma. Park Hye-Jin, a mesma roteirista de The Emperor: Owner of the Mask (O Imperador: O Dono da Máscara, 2017, ainda não disponível no Brasil), adapta o webtoon de Jung Jae-Han, Minamdang: Case Note (Minamdang: Notas de um Caso, em tradução literal, 2018), com um humor peculiar e grandes cenas de ação envolventes, entregando um drama que entretém, diverte e intriga no mesmo nível.
Nam Han-Jun (Seo In-Guk, em mais um grande papel que mostra todo seu escopo de atuação) se apresenta como um famoso xamã que atua no Café Minamdang “auxiliando” ricos presidentes e herdeiros das maiores empresas da Coreia. Na verdade ele é um ex-investigador que teve sua carreira meteórica como policial que traçava perfis criminosos (um “profiler”) interrompida ao ser preso injustamente, acusado de adulterar evidências. Nesse mesmo caso, seu melhor amigo e promotor foi assassinado sem que Nam Han-Jun conseguisse salvá-lo — nem descobrir quem foi o verdadeiro culpado, que ele nomeou “Gopuri” por usar cordas de um ritual espiritual para matar suas vítimas e envolver seus corpos.
Após cumprir sua pena, ele reencontra a irmã Nam Hye-Jun (Kang Mi-Na), uma gênia de computadores, e o parceiro da época Kong Su-Cheol (Kwak Si-Yang), que também foi expulso da polícia e tentava ganhar a vida como detetive particular. Confundidos com xamãs, os dois resolvem investir no ramo usando os conhecimentos de investigação policial e as habilidades de hacker de Nam Hye-Jun para não só fazer justiça com as próprias mãos, se infiltrando em sistemas corruptos e esquemas de tráfico, como também tentar descobrir quem é Gopuri.
Do lado da lei, a investigadora Han Jae-Hui (Oh Yeon-Seo) muda de delegacia e se depara com um caso parecido com o do assassinato de seu irmão, o promotor morto por Gopuri. Ao investigar com seu time, o caminho dela se cruza com o de Nam Han-Jun, que ela acredita estar envolvido com o crime na época. Aos poucos Han Jae-Jui vai descobrindo o intrincado submundo de assassinatos e corrupções envolvendo o governo coreano e as grandes empresas, assim como aceitando que Nam Han-Jun foi apenas mais uma vítima de uma elaborada sequência de assassinatos. Os dois então se unem para finalmente pegar o serial killer que atormentou suas consciências por anos.
Apesar de tanto Nam Han-Jun quanto Han Jae-Jui serem personagens complexos atormentados pela morte de alguém próximo e pelo fato de que não puderam fazer nada para impedir, os personagens que os envolvem tendem para um leve estereótipo, por vezes se apoiando em um humor cansativo e desgastado. Mesmo assim, esses tipos não aparecem com tanta frequência, não interferindo no verdadeiro humor da obra, apresentado em Nam Han-Jun. Seo In-Guk vai do drama emocionante ao humor pastelão em questão de segundos, entregando sempre exatamente o que roteiro e direção prometem.
As passagens de tempo confundem e a idade dos personagens é meramente sugestiva, já que atores interpretam personagens muito mais novos, sem convencer. Tanto Seo In-Guk quanto Oh Yeon-Seo aparentam ter a idade que têm e estar na casa dos 30, assim, seus personagens serem mais de 10 anos mais novos confunde mais do que ajuda. Furo bobo da roteirista em não ajustar a ótima obra de base à aparência de atores competentes, dando um contexto temporal diferente à história, algo que poderia ser facilmente mudado sem alterar a qualidade do drama.
A montagem da narrativa é também um tanto arrastada. Faltam revelações mais constantes e mais carismáticas, como em Hello Monster (um drama parecido), por exemplo, ou ainda uma dinâmica mais ao estilo “caso da semana” do tipo Castle (já que as interações do casal principal de Café Minamdang lembram tanto as de Becket e Castle). O começo e o final empolgam, mas o meio se contém demais em explicações que poderiam ser mais sucintas e rápidas. Ao invés de 18 episódios de 1 hora, o drama poderia ter tido os tradicionais 16, se beneficiando de um ritmo mais frenético.
Logo no início do primeiro episódio é possível perceber que Café Minamdang tem algo de diferente, único. Tanto seu texto quanto o tipo de humor contido nele são apresentados de forma caótica, no bom sentido, misturando risadas e revelações chocantes de um jeito eficiente e extremamente satisfatório. Com tomadas e posicionamentos de câmera interessantes, o diretor Ko Jae-Hyun parece por vezes ir para um caminho experimental que funciona perfeitamente com o roteiro. A câmera é ágil e foca nas ações certas, principalmente nas cenas de luta, tanto de Nam Han-Jun quanto de Han Jae-Jui, entretenimento que nunca adentra um caminho tedioso ou lugar comum típicos do gênero de ação.
A subversão das expectativas dos dramas sobrenaturais é o que eleva Café Minamdang. Nam Han-Jun é, acima de tudo, um golpista, e a obra apresenta um suspense policial que não tem nada de fantasioso, mas brinca com as expectativas do espectador quanto à parte sobrenatural inexistente. E quanto à investigação, as resoluções são inteligentes e não subestimam o público em momento algum.
Café Minamdang é um perfeito suspense policial, pra quem gosta de thrillers recheados de ação, perseguições, lutas, socos, chutes e correria; com um toque exato de humor e drama e uma dinâmica de casal no ponto certo. Nossos heróis perdem e ganham na mesma proporção e entregam a química perfeita que faz com que o drama seja uma experiência extremamente satisfatória.
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