Já tem um tempinho que venho assistindo entrevistas das mais variadas no YouTube. Tenho feito isso principalmente durante a pandemia, sendo algumas muito boas e outras nem tanto. Mas tem especialmente uma que gostaria de chamar atenção aqui (e agradecer também): a de Geovani Martins no Trilha de Letras, programa da Tv Brasil apresentado por Raphael Montes, outro jovem escritor brasileiro.
Você deve querer saber o que há de tão especial nessa entrevista, certo? Bom, para mim foi especial porque descobri o O Sol na cabeça, um livro sensacional escrito por Geovani Martins, um jovem da periferia carioca, e publicado pela Companhia das Letras. Um amigo já tinha me falado algo sobre esta obra, mas de maneira muito superficial. Já a entrevista fez o serviço completo, me deixou maluco para ler. Aproveitei e usei como indicação pro Puxando da Estante, o nosso podcast sobre literatura aqui do Puxadinho 🙂
Fazendo um breve resuminho sobre o livro — se é que dá para fazer isso —, O Sol na cabeça é composto por 13 contos que retratam a vida na periferia carioca. Na maioria das estórias, temos como foco a vida de jovens negros que crescem nas áreas mais marginalizadas da cidade. Vale ressaltar que o autor tenta fugir do lugar comum algumas vezes enquanto narra os acontecimentos. Nem todos os trechos são sobre pobreza, tráfico e a violência cotidiana; Geovani relata também como a vida pode ser simples e feliz. Um conto que exemplifica muito bem isso é o O Caso da Borboleta, de uma sensibilidade extremamente emocionante. Porém, o lugar comum, citado anteriormente, não fica de fora. Na verdade ele é intrínseco a tudo que permeia a vida dessa pessoas.
Outros contos que merecem destaque, e que me marcaram profundamente, são o Espiral e O Rabisco. Ainda é um pouco difícil eleger meu favorito — não que eu precise fazer isso, mas sempre me pego pensando qual seria o melhor. O Rabisco, por exemplo, é de uma angústia tão forte, tão marcante, que é quase impossível esquecer.
“Tentava, mas não conseguia perceber o momento exato em que se deixou levar, em que uma força venceu a outra até chegar ali. A sensação que dava era que a vida nunca deixa espaço pra planejar nada, as coisas vão todas acontecendo de um jeito ou de outro, sempre atropelando tudo que é projetado. Só no futuro – quando ele vem – é que dá pra entender, rir ou chorar as histórias vividas.”
As reflexões e o desconforto são inevitáveis durante a leitura das narrativas. Apesar de todas serem curtas, tive muita dificuldade de ler com rapidez. Simplesmente não dá pra ler coisas assim e continuar sem ruminar nenhum tipo de pensamento. Trecho de O Espiral:
“É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio, com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante. E, quando mais crescemos, maiores se tornam os muros.”
Já deu pra sentir que a leitura, apesar da linguagem coloquial, não é nada simples! Então fica aí essa indicação maravilhosa de leitura.
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