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Sabe aquelas adaptações que têm um ótimo material original na mão, mas, por vários motivos, não conseguem fazer justiça a ele? Esse é o caso de Woori the Virgin.
Oh Woori (Im Soo-hyang), roteirista assistente em um drama de sucesso, mora com a mãe, Eun-ran (Hong Eun-hee), professora de canto, e a avó, Gwi-nyeo (Yeon Woon-kyung), dona de um restaurante de tonkatsu. Já que a mãe a teve quando era adolescente e a avó é muito religiosa, Woori promete que vai se manter virgem até o casamento. Atualmente, ela tem esperanças de esse casamento acontecer logo, pois namora o detetive Lee Kang-jae (Shin Dong-wook) há um tempo. Mas uma consulta com a ginecologista vira seus planos de cabeça para baixo.
Raphael (Sung Hoon) é o CEO de um grupo de empresas de cosméticos e está enfrentando uma crise em seu casamento com Lee Ma-ri (Hong Ji-yoon). Ela, que se casou por dinheiro e conquistou certo sucesso profissional dentro da empresa, não quer perder tudo no caso de um divórcio. Seu plano é tomar medidas extremas: engravidar secretamente através de uma inseminação artificial para impedir que ele a deixe. Os dois núcleos se entrelaçam quando a médica acidentalmente faz em Woori a inseminação que deveria ser feita em Ma-ri. E, para piorar, Raphael teve um câncer que o deixou estéril, então essa era sua única oportunidade de realizar o sonho de ter filhos.
No meio de tudo isso, existe um assassino em série à solta e seus passos parecem estar totalmente entrelaçados com o grupo do qual Raphael é CEO. Kang-jae trabalha na investigação e já não consegue confiar nele.
Como fica óbvio pelo próprio nome, Woori the Virgin busca adaptar para o formato de k-drama a série estadunidense Jane the Virgin. Aliás, a própria série já foi inspirada na premissa de uma novela venezuelana (Joana, a Virgem), mas o material base desta adaptação é a obra estadunidense. A ideia básica é a mesma: garota promete à avó católica fervorosa que vai se manter virgem até casar e, quando seu relacionamento já parece estar chegando perto de um pedido de casamento, uma inseminação artificial é feita nela por engano e ela fica grávida de seu chefe.
Existem outras nuances que se repetem, como a família composta pela protagonista com sua mãe e avó, a motivação do chefe, a conexão do passado, a profissão do namorado da protagonista, e o fato de haver um assassino em série à solta. A dinâmica meio Lorelai-Rory da mãe “rebelde” com a filha “perfeita” também aparece aqui. E, assim como Jane, Woori também é escritora, mas sua vida profissional é bem diferente e condensa dois núcleos em um só.
No começo, funciona. A apresentação inicial dos conflitos e personagens de Woori the Virgin consegue ser instigante e lembra a série da CW. Perdem-se alguns elementos muito característicos, como a questão das mulheres latinas e as personagens LGBT+, mas isso só quem conhece Jane the Virgin sente.
É uma tarefa complexa, se não impossível, adaptar cinco temporadas e cem episódios de cerca de 42 min para um total de 14 episódios de uma hora. São mais de 50 horas de diferença. Tudo o que é desenvolvido com folga e tempo na série, e até uma certa enrolação, aqui não pode ser feito dessa forma. Precisa ser simplificado, e é. O mais curioso é que, em boa parte do drama, se abre mão justamente dos elementos de sátira e comédia romântica em prol da investigação policial, que ocupa bastante espaço.
A partir daqui o texto pode conter spoilers.
Isso não se mostra uma boa decisão. Embora os episódios em si tenham sido divertidos de ver — principalmente pela personagem de Ma-ri, que até fez justiça a Petra —, o ritmo e o desenvolvimento deixaram a desejar. Por esse foco na investigação, o drama se torna um pouco mais pesado que o esperado e o arco do assassino acaba cedo, deixando completamente de lado a própria premissa da gravidez, por exemplo. Para uma adaptação que acontece justamente no período de gestação do bebê e antes do casamento da protagonista, essa é uma escolha que não faz sentido.
Mas a premissa não é a única coisa que sofre. A relação de Woori com Kang-jae e a que desenvolve com Raphael têm relativamente pouco tempo de tela, o que acaba prolongando demais um “suspense” bobo sobre qual dos dois a protagonista vai escolher. Em certo momento, quando ela finalmente toma uma decisão, o drama até opta por ocultar do público quem foi o escolhido, perdendo mais uma chance de desenvolver essas relações.
Kang-jae é um personagem menos carismático que Michael, Raphael não tem a presença e o charme de Rafael, e Woori só herdou de Jane a síndrome de superioridade moral. Choi Sung-il, o ator que se revela pai de Woori, também não tem nenhum dos elementos que tornam o Rogelio de la Vega de Jaime Camil tão cativante. Mas até ele fez mais jus ao personagem que o trio principal. Aliás, foram os personagens secundários de Woori the Virgin que contribuíram para esse drama não ter sido uma completa perda de tempo.
O arco de Ma-ri é o que mostra mais desenvolvimento e evolução, além de ser mais fiel ao de Petra — apesar de abrir mão da bissexualidade da personagem, até pela falta de tempo para tratar disso. Tudo consegue entrar aqui de alguma forma que faça sentido: o passado forjado, a mãe manipuladora na cadeira de rodas, o ex vindo de um país distante, a ambição, e até a competência profissional. Uma das características mais importantes da personagem é como ela se importa com o trabalho e é boa nele, embora tenha conseguido a oportunidade pelo casamento agora fracassado. Outra é como vamos percebendo que ela não é uma vilã por não ficar do lado dos assassinos. Só achei que a saída dela de cena antes do fim deixou um gosto amargo. Não era necessário.
Woori the Virgin faz algumas referências muito específicas a Jane the Virgin. E elas são bem-vindas, divertidas e encaixam bem no contexto. Colocam um sorriso no rosto de quem viu a série estadunidense. O problema é que ficam esquecidas na maior parte do drama, concentradas no primeiro episódio e no último. É como se, lá no episódio 14, alguém na sala de roteiristas tivesse se lembrado de que isso era uma adaptação e corrido atrás do tempo perdido.
Realmente, talvez o último episódio tenha sido o melhor da segunda metade. Foi leve como se esperava que o resto do drama seria, e recheado de referências, inclusive no momento final. Ele brilha muito mais quando não se leva a sério. Mas o escopo da história que eles escolheram contar contempla, no máximo, duas temporadas de uma série que teve cinco. Depois, pula para um encerramento quase igual ao da série. Quase. Fica a sensação de que faltou algo.
E Jane the Virgin não foi, de jeito nenhum, perfeita. Houve momentos de enrolação, arcos inúteis, e a série deu algumas voltas nela mesma, como era de se esperar na CW. Mas o fim, quando chegou, foi satisfatório. Nós passamos a nos importar com todos aqueles personagens, com os relacionamentos entre eles, e com a investigação, e ali era hora de encerrar todos aqueles ciclos.
O mesmo não pode ser dito de Woori the Virgin, que aposta em um ritmo desbalanceado e cheio de furos. Embora até desenvolva bem a investigação e os personagens secundários, não faz o suficiente para nos importarmos com o trio de protagonistas e constantemente deixa de lado pontos-chave do enredo. Os dois “pretendentes” mais brigam entre si do que se relacionam com a protagonista. Woori sequer parece estar grávida na maior parte do tempo. Até mesmo quando um certo personagem torce o ombro, o drama deixa furos, mostrando o braço esquerdo engessado quando ele tinha torcido o ombro direito.
De modo geral, foi divertido acompanhar Woori the Virgin, mas, chegando ao fim, o saldo não foi tão positivo assim. O desenvolvimento desbalanceado pesou e não fez jus à obra que buscava adaptar. Se você for fã da série e quiser muito dar uma chance, vale pelas referências e alguns personagens secundários, no máximo. Talvez valha se você se frustrou com o casal principal da série. Mas, se estiver chegando agora, talvez seja melhor apostar na própria Jane the Virgin.
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