Clint Eastwood é famoso e muito conhecido por já ter estrelado diversos longas e série, além de ser um exímio diretor. O início da sua carreira no cinema é marcado por personagens bastante efusivos e fortes, quase sempre em filmes de ação, seguido ao longo dos anos por atuações mais dramáticas refletindo sua maturidade. Depois de se tornar reconhecido mundo afora com a Trilogia dos Dólares, o ator superou sua caricata imagem de pistoleiro do faroeste e passa, nas décadas seguintes, a ser um pistoleiro do asfalto. Hoje falaremos sobre uma pentalogia do gênero policial das décadas 70/80 tendo no papel principal, como o detetive Harry Callahan, o tio Clint.
Os 5 filmes se misturam entre enredos com temáticas policiais típicas, e são dirigidos por diferentes diretores e até um deles pelo próprio Eastwood.
Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971)
Dirigido pelo Don Siegel, o primeiro e mais conhecido filme da coleção é também o melhor. Sempre começando com tomadas aéreas de São Francisco (cidade natal de Clint e onde se passam todos os filmes da série), mostra-se o dia a dia da corporação daquela cidade e desde o início é percebido que sim, Harry Callahan não é mais um policial tradicional e tem um passado vivenciado pelos seus colegas e chefe que mostra isso. A trama do longa é sobre um serial killer que mata e exige dinheiro para parar de criar vítimas. Callahan é designado para o caso e o personagem é desenrolado com o passar das investigações. Linha dura e típico casca grossa, Harry é caracterizado por agir fora da lei e da burocracia para conseguir parar o(s) bandido(s) e encerrar o caso. Ele faz o trabalho sujo, daí o nome.
Neste primeiro filme, o diretor usa bastante takes em prédios, pouca luz nos momentos noturnos e uma câmera nervosa quando o Callahan precisa correr atrás de algum meliante. O ator consegue desenvolver um poder de persuasão e uma estratégia que todos personagens do filme e nós espectadores já sabemos que ele vai conseguir fazer tudo o que for preciso e sair são e salvo. Essa força interna é muito bem construída por ele durante todos os 5 filmes. Ele é o durão e atua like a boss, quebrando carros, casas, prédios, mas prendendo (ou matando) sempre os caras maus.
“I know what you’re thinking: “Did he fire six shots or only five?” Well, to tell you the truth, in all this excitement, I’ve kinda lost track myself. But being this is a .44 Magnum, the most powerful handgun in the world, and would blow your head clean off, you’ve got to ask yourself one question: ‘Do I feel lucky?’ Well, do you, punk?”
Magnum 44 (Magnum Force, 1973)
Dando sequência, Magnum 44 traz Ted Post como diretor e assegura uma premissa/indagação iniciada no primeiro filme: Até que ponto é moral e ético ir além da lei para fazer sua justiça? Um grupo de jovens da corporação de São Francisco se unem para acabar com aqueles bandidos que nunca são pegos e julgados da forma “correta”. Parece a cara do Callahan, e por isso o choque entre os pensamentos intriga tanto este longa. Harry se coloca do outro lado da moeda e precisa decidir se confia no judiciário do seu país ou se colocar panos quentes nas ações dos Robins Hoods.
Embora a ideia do filme seja muito interessante e prenda o espectador até certo momento, na minha opinião, foi desperdiçada a chance de ter feito um filme melhor pelo desfecho e pela cena final – característica da finalização de qualquer trama policial. O diretor até apela para mais violência e cenas mais sanguinárias, mas a sensação que o filme poderia ter terminado melhor fica na cabeça.
Sem Medo da Morte (The Enforcer, 1976)
Um filme um pouco mais light depois dos dois primeiros filmes. Sem medo da morte muda um pouco a temática e explora de forma diferente o Callahan e suas relações interpessoais. O antagonista do filme é uma gangue com motivações “sociais” que roubam uma quantidade grande de explosivos e que pretendem ameaçar autoridades da cidade de São Francisco. Entretanto, o filme foca bem menos nas investigações desse grupo – o que decepciona um pouco. Harry é destituído do departamento de homicídios por não respeitar ninguém e querer agir com bem entende, e passa a trabalhar recrutando novos inspetores. O ponto alto aqui é que ele sai do RH da corporação para tratar do caso em questão, mas é obrigado a ter como parceira uma mulher (Kate Moore); que, conhecendo o jeitão de Callahan, não poderia existir castigo pior.
Entretanto, a relação entre os dois cresce aos trancos e barrancos e acaba por ser o ápice do filme. Além disso, Harry explora um ponto de contato entre a polícia de São Francisco e a comunidade negra da cidade, que não gosta das autoridades policiais, porém têm informações que ajudarão na resolução do caso. Interessante exploração de personagem aqui, ao sair ainda mais de sua zona de conforto.
Impacto Fulminante (Sudden Impact, 1983)
Talvez o filme mais “fraco” da coleção e, também, o único dirigido por Clint. O roteiro de Impacto Fulminante coloca o Harry numa espécie de papel coadjuvante, o personagem não é tão principal quanto nos filmes anteriores – talvez a ideia do diretor seja “descansar” o Callahan. Nesse filme, a personagem principal é Sondra Locke. Ela e a irmã foram vítimas de um estupro e anos depois ela monta um estratégico frenesi para se vingar dos meliantes.
E aí o filme fica lento e chato porque não há ação e suspense em nenhum nos assassinatos, além do Harry se envolver numa espécie de relacionamento com ela. O final é que ele chega depois do “descanso” e resolve tudo. Flerta com a temática do segundo filme da coleção, mas deixa de explorar esse tópico profundamente.
Dirty Harry na Lista Negra (The Dead Pool, 1988)
17 anos depois, o último dos cinco filmes da série. É muito interessante acompanhar o envelhecimento do ator, as mudanças na forma de fazer cinema e nas novas tecnologias e câmeras ao longo desses anos todos. Este filme é uma singela homenagem e boa despedida para o já cansado Harry Callahan. O longa narra a investigação em busca do responsável pelos assassinatos de celebridades encontrados na Lista Negra, um jogo iniciado pelo diretor Peter Swan (Liam Neeson), em que são listados oito famosos que morreriam em um determinado período.
Aqui a maturidade de não ser somente mais um filme de mocinho contra bandido é de fato verificada. Existe um antagonista louco de pedra que com uma ótima direção em primeira pessoa só é revelado a identidade no fim do filme. E é isso que o filme se propõe a entregar: ser um filme de suspense, ação, absurdo e até humor. Também é o filme em que mais vemos o Callahan temer por sua vida e não parecer tanto o herói todo poderoso. As cenas de fuga do carrinho de controle remoto e dele indo até a prisão falar com um antigo desafeto comprovam isso. No fim, uma morte brutal para resolver o caso, mostrar e nos relembrar que o Harry Callahan casca grossa ainda existe!
Para quem estiver afim e tiver curiosidade, o filme resume bem o início da trama policial no cinema moderno e é muito interessante perceber a evolução bem conservadora que acontece entre os 5 filmes. Um amante do ator certamente irá apreciar a também evolução do Clint Eastwood.
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