“…E portanto, culpa, arrependimento, pesar e todo tipo de dor na alma se tornou visível e tangivelmente manifestada, em todos os lugares e em todos nós. Às vezes na forma de bênçãos e graça, às vezes na forma de punição e corrupção. Essa vontade divina, igualmente piedosa e cruel, que nós não podemos e nunca seremos capazes de desvelar, foi chamada de O Milagre.”
Blasphemous é um jogo de ação e aventura no estilo Metroidvania (jogos que lembram o design de clássicos como Super Metroid e Castlevania) lançado em 2019. Foi desenvolvido pela espanhola The Game Kitchen (que lançou o incrível point-and-click de terror The Last Door) e publicada pela Team1. Foi financiado através de uma campanha de financiamento coletivo que buscava US$ 50 mil — valor atingido em apenas 24h — e arrecadou no total US$ 330 mil, com 9 mil contribuições.
O game se passa na desolada terra de Custódia, um reino assolado por uma misteriosa entidade sobrenatural chamada de O Milagre. Essa entidade, conforme descrita ao longo do jogo, tem o poder de tornar os pecados e sofrimentos dos sujeitos visíveis a todos através de punições e de deformações no corpo. Neste mundo decadente, seguimos a jornada de O Penitente, o último membro da Irmandade do Pesar Silencioso, que busca realizar sua peregrinação indo até O Berço da Aflição. Para tal, ele deverá superar as Três Humilhações e abrir os portões da Igreja Mãe das Mães.
Ao longo da nossa jornada, conhecemos vários sujeitos com os quais nos relacionamos. Cada um deles vive em sua própria penitência e está em sua própria jornada em busca de expiação: Deogracias é um gigante que se descreve como um narrador e testemunha dos atos do Milagre, e vive em prol de contar as gloriosas — e brutais — graças por toda Custódia; Redento é um membro da Ordem dos Genufletores, penitentes, que vivem amarrados e com pesos no pescoço para sempre estarem abaixados; Tirso, o representante da Irmandade dos Beijadores de Chagas, que buscam expiação ao dedicar a vida para tratar os doentes (e beijar suas feridas).
Como já deve ter ficado subentendido, o mundo de Blasphemous é brutal e cruel, além de profundamente baseado numa visão crítica a essa religiosidade pautada na dor e no sofrimento. Tudo e todos nesse mundo vivem por uma sensação de culpa que é a força motriz para uma espiritualidade de dor. É importante avisar que é um jogo extremamente violento e com muito body horror, não sendo recomendado para menores de 18 anos e pessoas que são muito devotas ao cristianismo.
Sendo um jogo espanhol, Blasphemous faz diversas referências ao imaginário cristão da península ibérica (NOBODY EXPECTED THE SPANISH INQUISITION), a começar pela incrível trilha sonora (um dos pontos altos da obra) composta com ritmos espanhóis. Além disso, o protagonista e vários outros personagens aparecem usando capirotes (chapéus pontudos típicos dos penitentes na Espanha) e entre os inimigos há representações de inquisidores, padres, querubins e até mesmo toureiros.
Quanto à jogabilidade, é um jogo muito bem feito. Nele temos diversas side quests envolvendo os diversos NPCs em que a história de Custódia é revelada. Além disso, temos que buscar contas para preencher nosso rosário (de pedras preciosas até partes de corpos), encontrar orações (como chamam as magias que utilizamos ao consumir nosso Fervor), corações de Mea Culpa (núcleos para nossa espada, adicionando bônus únicos) e relíquias sagradas, que nos auxiliam a alcançar determinadas regiões pelo mundo.
Como comentei anteriormente, Custódia é um local brutal e isso reflete na dificuldade do jogo. É bastante punitivo e qualquer erro pode te levar à morte. Inclusive, morrer aqui lembra muito o Dark Souls (já temos texto sobre ele aqui no Puxadinho), pois na morte ganhamos Culpa, o que limita o máximo de fervor e diminui o ganho da moeda Lágrimas de Redenção. Entretanto, conforme avançamos e vamos ficando mais fortes, a dificuldade vai gradualmente caindo ao invés de ir escalonando, fato que me entristeceu um pouco. O Blasphemous já conta com a DLC gratuita Stir of Dawn, onde uma nova região é liberada, com novos inimigos, contas de rosário, orações e corações para se coletar. Além disso, ela libera o upgrade de poções, o fast travel pelos save points e o modo New Game+. Ele também conta com a HQ The Kneeling, que conta eventos anteriores ao início do jogo.
Blasphemous é uma obra que acompanhei desde os tempos de financiamento no Kickstarter, mas infelizmente não pude participar pois tudo ficava extremamente caro por ser em euro. Ele é visualmente incrível e esse é seu ponto mais alto (recomendo profundamente que procurem a arte conceitual). Sua história é boa, porém confusa e críptica, o que torna difícil a compreensão total dos eventos. A experiência vale a pena, entretanto eu achei um pouco curto (zerei com quase 100% em 19 horas) e recomendo só comprar quando estiver em promoção.
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