Quase todo mundo nascido entre os anos 1990 e 2000 já ouviu muito Charlie Brown Jr. Seja por realmente ser fã da banda, seja por ter feito a música de abertura da novela Malhação ou até pelo simples fato de que sempre estava nas rádios. E não dá para falar de Charlie Brown sem falar de sua alma e personificação: o vocalista e compositor das músicas, Chorão. Chorão: Marginal Alado (2019) é um documentário que acompanha desde a ascensão da banda até o suicídio de Chorão em 2013, com o objetivo de decifrar as várias facetas desse artista e o impacto que ele teve em seu público, na música e em todos ao seu redor.
O documentário, lançado em 2019, ganhou nova força ao entrar para o catálogo da Netflix em 2021, sendo uma grata surpresa para quem cresceu ouvindo a banda. Goste ou não de Charlie Brown Jr., é impossível quem tem hoje entre 20 e 35 anos ficar indiferente a essa que foi uma das bandas de maior sucesso comercial do início do século XXI. E não é um desafio fácil narrar essa história, que terminou com o trágico suicídio de Chorão após uma overdose e, meses depois, outro suicídio por parte de Champignon, baixista da banda.
Chorão: Marginal Alado tem uma linha cronológica simples, começando pela formação da banda até o seu fim. A banda surge em um contexto do início dos anos 1990, em que o skate vira uma febre em São Paulo e no litoral, e, com ele, o início da cultura hardcore. A cena do skate e a efervescência musical da época fizeram com que Chorão começasse a se apresentar e montar sua banda, com muito mais influência da cena hardcore e metal naquele momento do que aquele que seria o som característico do Charlie Brown.
Ao escutar o recém-lançado Usuário do Planet Hemp, Chorão pensa em uma nova sonoridade para a banda, trazendo novas influências, como o hip-hop e o reggae, o que finalmente define o som do Charlie Brown que conhecemos. Daí para os primeiros contatos com o produtor Rick Bonadio, foi só crescimento e sucesso.
Mais do que um documentário sobre a banda, Chorão: Marginal Alado tenta delinear o complexo perfil de seu vocalista. Um perfil que se pode resumir na palavra “intenso”. Chorão era intenso em tudo, o tempo todo. Em seu amor e em seu ódio. O filme deixa claro que Chorão talvez tenha vivido menos do que o esperado também por ter vivido duas vezes mais que qualquer pessoa. Produzia sem parar, incomodava a todos até ter as coisas do jeito que ele queria e não se acostumava com a mediocridade de seus resultados. Ao mesmo tempo em que era esse poço de perfeccionismo e vaidade, era uma pessoa que sempre lutava pelos seus e absorvia todas as responsabilidades para si, até mesmo as que talvez não fossem necessariamente suas. Chorão queria agarrar o mundo, mas talvez o peso dele lhe tenha sido demasiado.
O grande ponto positivo do documentário, sem dúvida, são os depoimentos que conseguiram para realizar essa história. Os personagens-chave estão lá. O amor de sua vida, a Graziela; seu filho; Rick Bonadio (produtor do Charlie Brown Jr.); os membros da formação original da banda (e aqui incluso Champignon, que faleceu semanas depois do depoimento); amigos próximos; e outros músicos que conviveram com ele, como Marcelo Nova (Camisa de Vênus) e João Gordo (Ratos de Porão).
Os causos e histórias são excelentes e sempre têm a dualidade de todos os envolvidos: amor e, em alguns, raiva. Mas em todos é comum a admiração pela pessoa e artista que foi Chorão. Talvez o auge do documentário tenha sido a cena em que ele para a van da banda para conversar com um fã que os segue pelo Brasil. É emocionante e dá para perceber que ele não fazia personagem.
O documentário peca em sua simplicidade. Com pouco mais de 1 hora de duração, quem já conhece a banda fica esperando surgir alguma informação que não conheça para entender mais o Chorão. Além disso, não tem depoimentos dos membros da segunda fase da banda. Outra questão é que, por ser curto, não explora temas abordados de maneira profunda, como, por exemplo, as brigas que contribuíram para a primeira separação da banda e os conflitos com Champignon após sua volta. São citados, mas não explorados devidamente.
Chorão: Marginal Alado reaquece o coração de quem viveu o fenômeno Charlie Brown Jr. e faz com que você tenha saudade, especialmente por saber que Chorão se foi tão novo e não poderemos vê-lo cantar novamente. O grande problema do filme é seu curto tempo. Possivelmente teria sido mais interessante no formato de série, como A História de Sandy & Junior. Uma bonita homenagem a um dos maiores artistas de sua geração, mas que poderia ser ainda melhor se não fosse tão breve quanto sua vida.
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