As fantasias definitivamente dominaram as minhas leituras nos últimos tempos. Eu li várias sagas de fantasia, conheci desde feéricos até bruxas e conheci uma parte enorme desse gênero, mas a saga que me fez ficar fascinada mesmo foi a trilogia O Povo do Ar. Escrita pela autora estadunidense Holly Black, essa saga de fantasia young adult é composta por três livros: O Príncipe Cruel, O Rei Perverso e A Rainha do Nada.
É uma fantasia bem mais política do que as da Sarah J. Maas, por exemplo, que têm um foco maior no romance. Aqui conhecemos a história de Jude Duarte, uma garota mortal que foi levada para o Reino das Fadas quando era pequena e, quando mais velha, tenta um lugar na pérfida Alta Corte e acaba se envolvendo nas intrigas políticas dela.
O verdadeiro poder não é dado. O verdadeiro poder não pode ser tirado.
A história inicial é bem complexa, com a sequestrada amando o seu sequestrador. Em vários momentos em que a Jude conta sobre o pai dela, eu me pegava pensando em como a relação dos dois é problemática, mas não é nada que prejudique a narrativa, porque isso ajuda de certa forma no desenvolvimento da personagem.
E ela tem muitas mudanças relevantes. A gente sempre espera, em um livro de fantasia, que a personagem principal seja a mocinha, certo? Que ela tenha um príncipe encantado e que seja íntegra. Mas Jude Duarte não é nada disso. Ela é exatamente o oposto, super complexa, com várias camadas que a gente vai descobrindo ao longo da história. Ela sabe das fraquezas que tem, de todas as suas limitações enquanto mortal, mas ela ainda consegue ser uma pessoa muito poderosa, se tornando (ainda no primeiro livro) uma peça fundamental para o reino. Ela engana até o leitor que vê o que ela está pensando. É claro que ela precisa de terapia (quem não precisa, né?), mas a sua construção é tão bem-feita que me fez pensar várias vezes se não era uma pessoa real.
Se eu não posso ser melhor que eles, vou me tornar algo muito pior.
E então acompanhamos o nascimento e a evolução da nossa protagonista. Ser humilhada e maltratada diariamente é uma das formas com que ela foi moldada. Ela não tem nada a perder, não é a mocinha nem está procurando um príncipe encantado. Ela prefere ser uma criatura cruel e com poder. Ela é o ponto alto da narrativa, não porque é escrita em primeira pessoa, mas porque vemos claramente quem ela é, do início ao fim. É complicado lidar com personagens que não sabem o que querem, mas a Jude se arrisca sempre, sem ser inconsequente, e isso é a melhor parte dela.
Não temos um universo que foi construído fora do que conhecemos. Elfhame está dentro do nosso mundo. Uma das partes mais legais da narrativa é a Black ter decidido por fazer mundo real e mundo fantástico estarem no mesmo mundo. A escrita dela é intensa e direta. Sem meias palavras e sem muitas descrições, mas que ainda assim nos faz imaginar muitas coisas, tipo um sapo gigante que serve como montaria.
Todos os três livros são pequenos quando comparados com outras sagas de fantasia, mas isso não quer dizer que existam pontas soltas no enredo. Tudo se fecha muito bem. As reviravoltas são bem construídas e bem chocantes, é de ficar com o queixo no chão. Existem cenas que seriam facilmente dirigidas por Quentin Tarantino.
Eu quero ganhar. Não quero ser tratada com igualdade. Em meu coração, eu quero ser melhor que eles.
Mas por que eu disse que era uma fantasia mais política? Bom, basicamente aprendemos como dar um golpe de Estado. E eu não estou nem brincando. As tramoias da politicagem correm soltas nos bastidores do castelo do Reino das Fadas. E mesmo que os feéricos não possam mentir, eles sabem como enganar. Os jogos de palavras existem aos montes para confundir. E a Jude é formada em todos eles e mistura tudo isso com a sua capacidade de mentir e a sua inteligência. A trilogia não é muito concentrada na ação, pois não há guerras acontecendo. A guerra acontece no campo da política.
Para quem gosta de um pouco de romance, não espere muito nessa trilogia. Ele existe? Sim, mas são migalhas, chega a ser uma coisa estranha. E isso pode ser um motivo para demorar a engatar na história, afinal, temos um príncipe cruel que é realmente cruel. Mas existem muitas coisas que compensam quem gosta de romance nesse gênero, porque a magia e a politicagem correm soltas. É uma das fantasias mais completas que eu já li, por tudo o que se propõe e cumpre.
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