Motherland: Fort Salem é uma série de ficção sobrenatural sobre bruxas militares. Mas antes de entrar verdadeiramente na história vou contextualizar.
No ano de 1692, em Salem, uma cidade dos Estados Unidos, ocorreu uma caça às bruxas, um momento de histeria coletiva que resultou na perseguição e morte de muitas pessoas, especialmente mulheres – isso aconteceu realmente. A série apresenta algo que poderia ter acontecido se as coisas fossem diferentes.
É aí que entra a General Sarah Alder (Lyne Renée). Após ser perseguida e presa por ser uma bruxa, ela mudou o rumo da nação usando seus poderes. Alder propôs o Acordo de Salem, que determinava que, a partir daquele dia, todas as bruxas nascidas posteriormente estariam obrigadas a servir ao exército e ganhar quaisquer guerras que fossem travadas. Em troca, elas estariam livres para viver e usar seus poderes como bem entendessem – ou quase isso.
A história se inicia no dia do alistamento, quando as bruxinhas com 18 anos recebem o chamado. As Forças Armadas precisam combater uma ameaça chamada “Spree”, que cresce assustadoramente. É um grupo terrorista composto por bruxas que operam ataques em massa, matando civis em prol da quebra do acordo feito pela general e da derrocada desse sistema.
Segundo o manifesto do grupo, o alistamento é apenas outro meio de aprisionar, caçar e matar as bruxas. Aqueles que não aceitam o alistamento ou tentam fugir são perseguidos e presos ou mortos. As Spree defendem também que as bruxas são superiores aos civis e que somente elas deveriam governar o mundo.
Produzida pela emissora americana FreeForm, a história é recheada de plot twists; é um reviravolta atrás da outra. Além disso, a série vai revelando muitas informações importantes em detalhes, o nível de tédio é zero. Parar para dar uma olhadinha no celular? Nem pensar! Você presta atenção ou se perde. E desgrudar os olhos da tela é tarefa quase impossível.
Em Motherland: Fort Salem, acompanhamos a história de três protagonistas: Raelle Collar (Taylor Rickson), Tally Craven (Jessica Sutton) e Abigail Bellweather (Ashley Nicole Williams). Elas compõem uma das unidades mais poderosas entre as recrutas.
Raelle está lá contra a sua vontade e não se esforça nem um pouco para agradar ninguém até encontrar Scylla (Amalia Holm Bjelke), uma cadete necromante que a incentiva a aceitar o treinamento. O romance entre elas tem grande importância na trama e a química entre as atrizes é simplesmente maravilhosa. No entanto, em uma ocasião a sargento Anacostia Quatermaine (Demetria McKinney) aborda Scylla de um jeito que nos faz desconfiar da índole da necromante. A sargento é responsável por treinar e disciplinar as recrutas, em outras palavras, por mantê-las vivas.
Raelle é, de longe, a minha personagem favorita, a típica durona que só segue as próprias regras, mas que faria tudo para proteger quem ama. Intensa em suas emoções, ela é varrida por seus sentimentos de vez em quando. O seu poder também desperta o interesse das Spree e isso pode gerar muitos conflitos durante a trama.
Eu gostei muito da série, o enredo traz muitas discussões sobre poder, insubordinação, sentimentos e luta por direitos. Mesmo que estejam todas do mesmo lado no exército, cada personagem tem uma visão diferente do seu papel e do que é a guerra.
Ao longo da trama, somos apresentadas ainda à perspectiva das Spree e confrontadas com uma dúvida: aquele acordo era realmente justo? Conhecer as histórias a partir de perspectivas diferentes faz com que possamos compreender o porquê de cada uma lutar pelo que acredita. Em uma guerra, há perda e ressentimento de todos os lados, ninguém ganha.
E podemos ainda trazer essas discussões para a nossa vida, colocando em pauta interesses políticos, ideológicos, raciais, etc. O romance entre Raelle e Scylla ainda traz outras dúvidas. Será que alguém realmente pode se arrepender dos seus crimes por amor? E será que é possível perdoar tudo isso por amor?
Motherland: Fort Salem é uma história moderna em que as bruxas se encaixam na vida contemporânea e passam de inimigas a heroínas. O protagonismo feminino é latente já que são as mulheres que administram o Exército e comandam a segurança da nação. Também é uma mulher negra que ocupa a presidência.
A série também traz representatividade, especialmente durante o Festival de Beltane, um evento para encontrar um parceiro e renovar as energias através da conexão sexual. O resultado disso é a formação de diversos tipos de casais, heterossexuais, LGBTQ+, poliamorosos, etc., além da diversidade racial e étnica.
Outro ponto muito interessante de Motherland: Fort Salem é que uma das linhagens mais poderosas e influentes é composta apenas por mulheres negras, as Bellweather. A linhagem começou com uma escrava e, desde sempre, se destacou dentro das artes militares. Como veio de uma família importante, destacar-se enquanto guerreira é um dos objetivos de vida de Abigail, que foi criada para isso.
Há ainda uma certa romantização da guerra, em que a bruxinha se alista pelo amor à sua pátria, para proteger os seus e acaba percebendo que há muito mais em jogo. Nesse caso, a Tally representa muito bem esse papel, ela estaria dispensada por ser a última de sua linhagem, mas se alistou justamente acreditando no seu dever cívico. Depois que começam as missões, ela vê muitas coisas que a fazem duvidar de tudo isso e se sua escolha foi a mais correta. Ela também mostra que é muito mais forte do que parece.
A fotografia da série é muito bonita, bem planejada e nos permite mergulhar numa realidade sobrenatural de forma muito sutil. Ela tem muitas tomadas em ploongé (de cima para baixo) do alto, o que nos permite acompanhar as personagens de uma perspectiva muito superior, como se elas fossem sempre observadas.
A primeira temporada tem dez episódios, de 45 a 50 minutos cada, que passam num piscar de olhos. Não aguentei e precisei revê-la novamente! A série é densa e tem muito pela frente, a segunda temporada já foi confirmada, mas, por conta da pandemia, ainda não se sabe a data de estreia. Espero que não demore muito!
Curiosidade: Inicialmente, a história foi escrita para ser um livro, mas nenhuma editora aceitou a proposta. A ideia era que fossem três diários que contariam as histórias da Tally, da Abigail e da Raelle. É por isso que a história é tão densa e pode ser confusa em alguns momentos.
Curiosidade 2: Toda a vocalização das gerações – canções que ativam os feitiços – é feita pelas próprias atrizes do elenco.
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