Enquanto eu não te encontro, uma obra “orgulhosamente nordestina e LGBTQIAPN+”, como o próprio autor descreve, é o livro de estreia do nordestino Pedro Rhuas. O livro, que começou a ser escrito em meados de 2016, foi publicado neste ano (em 2021, se você estiver lendo no futuro) pela Editora Seguinte após vencer o concurso CLIPOP. O autor, que também é cantor, ainda compôs algumas músicas para fazerem parte da trilha sonora da história, pois todo romance clichê que se preze tem uma trilha sonora.
O romance, inclusive, é desenvolvido da forma mais clichê possível, se tornando até previsível, mas nada que impeça a leitura de ser proveitosa. Aliás, se há uma comunidade que carece de clichês literários é a comunidade LGBTQIAPN+, então Pedro Rhuas acertou em cheio em escrever um romance bem, digamos, “água com açúcar”.
Além disso, uma das coisas que mais gostei no livro foi que ele é atravessado de representatividade. Tanto do mundo queer quanto do Nordeste, seja nos diálogos ou na paisagem, nos cardápios ou referências. A cultura queer é descrita de uma forma leve, sendo cômica em vários momentos ao relembrar alguns memes famosos da internet, o que me proporcionou entre uma página e outra algumas boas gargalhadas.
As referências usadas pelo autor são ótimas, conseguindo deixar o livro, como se fosse possível, ainda mais queer. Temos menções a Harry Potter, Gretchen, Lady Gaga, o “Bad Blood” ocorrido entre Katy Perry e Taylor Swift, e até um debate sobre qual é o melhor álbum pop, Prism ou 1989 – uma escolha bastante difícil. Aliás, me arrisco a dizer que Pedro Rhuas escreve um livro que foi uma das leituras mais fiéis ao universo queer brasileiro que tive nos últimos tempos.
Adentrando na história em si, em Enquanto eu não te encontro somos apresentados ao Lucas, um inseguro virginiano e nordestino arretado, de Luna do Norte. Lá, morou até passar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo que se mudar com o seu melhor amigo, Eric, para Natal. Diferentemente de Eric, Lucas nunca se apaixonou, acreditando que tal façanha não ocorrerá com ele nunca. Mas isso muda quando ele conhece Pierre no Titanic, nova boate da cidade.
Pierre, com seus lindos cachos dourados e sotaque, deixa Lucas encantado desde o primeiro momento. Principalmente por ele ser um pouco daquilo que Lucas sempre quis ser: seguro de si. Essa segurança de Pierre é sentida em todos os âmbitos, sendo de certo modo um ponto encorajador para Lucas buscar desenvolver uma maior segurança em si.
Ao fim do primeiro encontro no Titanic, ocorrem vários desastres em sequência, o que ocasiona um estremecimento na amizade entre Eric e Lucas, que tem seu celular quebrado pelo amigo e consequentemente perde o número de Pierre. No entanto, esse desastre se torna necessário para que Lucas consiga ser mais sincero com Eric, falando todas as coisas que o incomodam. Isso permite que o distanciamento que havia entre eles desde a mudança para Natal acabe, proporcionando novamente o conforto e cumplicidade que eles sempre encontraram um no outro.
Lucas sofre por ter perdido o contato com aquele que o tinha deixado “festoxonado” – termo que ele usa para significar uma paixão de festa –, mas eles acabam eventualmente se encontrando. Todavia, se esse romance, assim como o Titanic, irá naufragar ou não, você terá que ler para saber.
Enquanto eu não te encontro nos presenteia com um amor LGBTQIAPN+ tão pouco falado na literatura, leve e sem as amarras impostas pela sociedade, do modo que todo amor deve ser. No entanto, aqui no nicho criado para Lucas por Pedro Rhuas, o preconceito é um plano de fundo esquecido para que o amor seja celebrado de todas as formas.
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