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Podemos começar dizendo que o título de Crazy Love faz jus à obra, porque o que não falta aqui é loucura e absurdo.
Lee Sina (Krystal Jung) tem câncer em estado terminal. Ela não contou a ninguém: nem ao pai, nem ao irmão, nem à melhor amiga com quem divide apartamento. Sina sonha em ser professora, ou instrutora, nos melhores cursinhos preparatórios de Seul, mas por enquanto trabalha no maior deles, o Gotop, como secretária do CEO Noh Gojin (Kim Jae-wook). E o estresse de trabalhar ao lado de Gojin é tão absurdo que essa é até a causa apontada pelo médico para o aparecimento do câncer. Ela é a primeira secretária que dura mais de três meses no cargo. Então, agora que não tem nada a perder, Sina decide se vingar. Mas digamos que as coisas fogem um pouco do que ela tinha planejado.
Acontece que Sina não é a única pessoa que odeia Gojin. Na verdade, passa longe disso. Mas a vingança que ela tinha em mente envolvia menos “assassinar Noh Gojin” e mais “se demitir dizendo algumas verdades na cara dele”. Então, quando alguém realmente tenta assassiná-lo e ela acaba estando por perto na hora do incidente, a situação muda. Ela o leva ao hospital, ficando como acompanhante, e aproveita a oportunidade de uma amnésia misteriosa para fingir que é noiva dele.
Crazy Love é um drama recheado de reviravoltas, algumas mais previsíveis que outras. E o jeito que ele abraça alguns clichês de comédias românticas e de novelas enquanto brinca com outros é muito divertido: tudo tem um quê exagerado, mas os personagens são desenvolvidos de forma realista. A trama segue direitinho o ritmo esperado para um drama do gênero, sem tentar reinventar a roda ou acrescentar obstáculos que não combinem com os personagens, mas se destaca por sempre apresentar algo novo. O mistério de quem tentou matar Gojin (e o porquê) logo assume a função de arco principal, aproveitando o fato de ele ser uma pessoa tão odiada para apresentar vários suspeitos. Ficamos tentando montar o quebra-cabeça e entender qual é o envolvimento e a motivação de cada um dos personagens na história, mas essas peças são amarradas de um jeito interessante.
Por ter sido um drama do Disney+ (na Coreia, original da KBS2), ainda sem previsão de lançamento no Brasil, Crazy Love parece ter ficado um pouco apagado em relação aos grandes títulos transmitidos mundialmente pela Netflix. Como a maioria das produções que o serviço de streaming do Mickey Mouse inventou de comprar, só podemos encontrar o drama em sites de fãs. O que é uma pena. Pelo menos a Tudum só atrasa as produções, não as mata completamente.
Além de uma comédia romântica típica, que se encaixa bem no ritmo e não cai em armadilhas antigas, Crazy Love é principalmente uma história centrada em traumas, egoísmo, vingança e competitividade. Cheia de personagens tão concentrados em seu sofrimento e seus traumas que não conseguem ver a dor que causam nos outros. Isso vem de todos os lados, mas especialmente na figura do protagonista.
Noh Gojin não pode confiar em ninguém, contar com ninguém, permitir algo menos que a perfeição de ninguém, por causa de tudo o que já tinha dado errado no passado. Mas ele está numa posição de liderança, conduz as coisas de uma forma extremamente tóxica e é incapaz de ver o mal que isso faz a todos que trabalham com ele. Ex-funcionários planejam vingança, funcionários atuais planejam sabotagem, todos o temem e o odeiam, e ele não faz ideia. Ele só percebe isso de verdade depois de quase morrer, receber ameaças e ser salvo incontáveis vezes por Sina — que também tinha seus motivos para odiá-lo, só não queria vê-lo morto.
Mas é justamente aí que entra um dos grandes diferenciais desse protagonista: ele realmente percebe o problema e, a partir disso, tenta reparar o que fez. Não tenta esconder, fugir, fingir que não importa ou qualquer coisa do tipo. Ele machucou mesmo aquelas pessoas, enfrentou consequências e foi capaz de se colocar no lugar delas. Esse desenvolvimento se estende a alguns “obstáculos” e “vilões” do drama também, embora não a todos, e é muito satisfatório ver tantos personagens tridimensionais na tela.
Sina também é uma personagem satisfatória de acompanhar e sua construção dá espaço para Krystal brilhar — o que não aconteceu em Police University. Afinal, são muitas camadas. A primeira que conhecemos é a jovem inconformada com a vida curta que o destino reservou para ela, triste por não querer deixar sua família na mão após já ter perdido a mãe há pouco tempo. Sua determinação implacável é comprovada pelo tempo que aguenta como secretária de Gojin, três vezes maior que a média. Ela não costuma se abrir sobre o que está acontecendo, parece que não quer ser um fardo para ninguém, mas isso não significa que aceite as coisas passivamente e não saiba se impor. É muito fácil gostar de Sina, por mais que a história lentamente deixe de girar em torno dela e se torne mais sobre Gojin.
Até o romance dos dois fica, de certa forma, em segundo plano em certo momento de Crazy Love. E isso não é algo ruim, só significa que o conflito já foi resolvido. Esse arco segue um desenvolvimento bem próximo do clássico esperado quando os personagens começam como inimigos ou em relacionamentos falsos, mas sem perder tempo com besteiras e términos desnecessários. Quando os dois se odeiam, eles realmente se odeiam e têm motivos. Quando começam a se afeiçoar mais do que o esperado de um relacionamento falso, você percebe a confusão e os conflitos internos pelos quais estão passando. E, quando decidem ficar juntos, esse conflito acabou e é hora de, juntos, resolverem os outros problemas. É exatamente o tipo de desenvolvimento que eu e Maria Raquel tanto elogiamos por aqui.
Crazy Love acertou em todos os pontos e tem potencial para ser uma das joias escondidas do ano. Embora não tenha os maiores galãs e não esteja (ainda) disponível mundialmente, vale dar uma chance. Ao menos as risadas estão garantidas.
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