Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Ele é a estrela do time de futebol, ela é solitária e preza por sua privacidade. Mas a mãe de Connell trabalha como empregada na casa dos pais de Marianne, e quando o garoto vai buscar a mãe depois do expediente, uma conexão estranha e indelével cresce entre os dois adolescentes – contudo, um deles está determinado a esconder a relação.
Comecei a ler Pessoas normais por volta das 23h — aquela leitura antes de dormir para o sono chegar. Ou ao menos essa era a minha intenção. Qual não foi a minha surpresa quando olhei para o relógio e, subitamente, eram 3h da madrugada.
Esse fenômeno, de ler noite adentro, não acontecia comigo fazia alguns anos… talvez desde a adolescência, até onde eu me lembro. Mas Sally Rooney conseguiu despertar isso em mim, essa ânsia louca de descobrir o que vai acontecer a seguir, independentemente dos afazeres do dia seguinte. A vontade de ignorar as obrigações só para ler mais uma página.
Para um leitor, acredito que esse seja um dos melhores sentimentos. Quando um livro consegue te capturar tão completamente. E, pelo menos pela minha experiência, quanto mais se lê, mais difícil fica de encontrar livros que despertem essa sensação. Talvez isso seja paradoxal. Mas o que importa é que, quando se acha um livro que causa isso, é como encontrar um tesouro. E, como fazia muito tempo que isso não acontecia comigo, encontrar um tesouro que eu nem me dava conta que estava procurando. É extasiante.
Por isso, hoje resolvi falar desse livro, que despertou sensações antes esquecidas. Pessoas normais é, curiosamente, precisamente o que o título indica: trata de pessoas que poderiam ser quaisquer outras. A autora retrata, através dos protagonistas, acontecimentos talvez, comuns, na vida das pessoas. Não se tem aqui se uma história extraordinária, com personagens excepcionais, que realizam feitos grandiosos. Muito pelo contrário. São pessoas até, por uma certa ótica, perturbadas — mas não só isso, de forma alguma —, que passam por problemas e acontecimentos traumáticos, e, cada um à sua maneira, encontram formas de lidar com eles.
Porém, a autora retrata uma história tão comum de uma forma absolutamente extraordinária. A maneira como ela escreve te deixa, ou ao menos me deixou, sedenta por mais. E cada capítulo que passa não é suficiente para suprir a curiosidade de adentrar na vida — e nos pensamentos — dos dois protagonistas, Marianne e Connell. São dois adolescentes que, ao longo da vida, parecem incapazes de desapegar um do outro, por qualquer que seja o motivo. Como o próprio livro diz: “Duas pessoas que, ao longo de vários anos, pareciam ser incapazes de deixar o outro em paz” – página 258.
Essa não é uma história bonitinha, onde tudo se encaixa, o amor é lindo e eles vivem felizes para sempre. Tampouco é uma história marcada por traumas — apesar do que foi apontado acima. Os acontecimentos vão passando, os problemas, assim como as conquistas, vão acontecendo, e a vida vai seguindo. O livro é um recorte sobre a vida dessas duas pessoas, e como eles se encontram e desencontram ao longo da jornada.
Apesar de a história ser, de certa forma, comum, a forma como a autora escreve é excepcional. Pessoas normais me surpreendeu muito e com certeza vale a pena a leitura. E, caso queira passar mais um tempinho com esses personagens, ainda há a possibilidade de emendar na minissérie baseada nele, que está disponível no Lionsgate+.
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