Dramas com ritmos lentos muitas vezes agradam bastante o público acostumado com esse gênero. Personagens que se destrincham lentamente, intrigas que demoram temporadas e mais temporadas se construindo, tudo isso de fato faz parte de qualquer boa série dramática. Entretanto, há algumas pessoas que não possuem tanta inclinação para isso tudo, e preferem assistir a um drama mais fast-food. Bom, se você é uma delas, Succession é a série perfeita para você.
Succession acompanha a história da família Roy e os desdobramentos da relação entre Logan Roy e os seus quatro filhos no controle de um dos maiores conglomerados de comunicação e entretenimento do mundo. Se família e negócios são sempre temas polêmicos, é justamente essa abordagem áspera e tênue que a série propõe a debater e lidar.
Nova York, atmosfera nublada, ternos, escritório, linguagem business, motoristas e café. Parece mais uma série daquelas de negócios que mostra homens ricos e poderosos no comando de grande corporações e etc. E parece que é. Mas também é mais do que isso. Succession aposta nesse subgênero, mas subverte seus principais signos. Geralmente séries com essa temática gostam de explorar o exagero com dinheiro, poder, traição, drogas, sexo, subversão psicológica, entre outros. Entretanto, aqui se foge desse apelo +18 sombrio que geralmente é clichê desse estilo cinematográfico.
O tema central da série, como ela mesmo se nomina, se dá no mistério de quem vai suceder o pai a frente da empresa. E se pudéssemos encontrar e nominar a base do roteiro para isso tudo, eu poderia dizer que seria na relação entre os personagens. A série gira na construção de personalidade dos quatros filhos: Kendall, Connor, Shiv e Roman; e o pai deles, Logan Roy, que fundou e conduz a Waystar Co. A série logo nos apresenta que a relação entre eles não é tão boa, e que eles se parecem muito com aquele rótulo de filhos ricos, mimados interessados no dinheiro do pai. E é muito importante falar um pouco sobre cada um desses personagens.
Logan Roy (Brian Cox) é o pai já velho com personalidade forte, que conduz todas as suas relações e decisões com mãos de ferro. Aprendeu a desconfiar de tudo e de todos e tem um jeito muito único de lidar com seu negócio. Kendall (Jeremy Strong) é o mais ligado à empresa entre os irmãos, estudou para isso e quer com todas as forças ser o próximo na sucessão como CEO. Shiv (Sarah Snook) tem personalidade forte e tenta ficar mais distante da empresa e construir sua própria carreira – muito também para chamar a atenção do pai. Connor (Alan Ruck) é o mais velho e mais diferente dos quatro. Com um estilo mais sustentável, também vive distante da empresa e está sempre alheio a qualquer decisão familiar. E por fim, Roman (Kieran Culkin), o mais novo, é o diferentão dos irmãos. Extremamente irônico e debochado, faz piadas em horas extremamente sérias e leva a vida com muito sadismo em tudo o que faz; é o mais abusado e rebelde dos quatro. Aqui nos são mostrados personagens enxutos que se desenvolvem de forma completamente distinta durante a temporada.
É interessante que, na nossa visão binária de analisar as coisas, o telespectador fica (pelo menos eu fiquei) tentando se situar na procura de um mocinho e um vilão a temporada toda. Mas a resposta é que não dá para encontrar ninguém totalmente bonzinho. TODOS possuem máculas ou loucuras que repelem esse antagonismo muito vezes encontrado em outras séries de drama.
Após assistir à primeira temporada, já sabemos claramente o ponto forte da série: o poder que emana de Logan Roy. Somente com feições, ele representa a figura de poder que o alavanca perante os filhos e funcionários mesmo quando tudo parece ir contra ele. Todos o temem, ninguém fica tranquilo quando ele está por perto. Descrevem perfeitamente a atuação dele na série:
“Logan Roy é um planeta, todos estão orbitando ao redor dele.”
Outros personagens que rodeiam a família Roy e são importantes para o desenvolvimento da série são Tom (Matthew Macfadyen), marido de Shiv, que está tão interessado no poder de trabalhar na Waystar que topa qualquer coisa para tê-lo. E Greg (Nicholas Braun), um primo bobão que entra na família querendo se tornar um estagiário mas que vai evoluindo aleatoriamente na participação das coisas mais importantes da temporada.
A direção da série é interessantíssima. Jesse Armstrong utiliza as câmeras que aparecem sem estabilização, principalmente em lugares fechados, para dar a sensação de pessoalidade. Parece que você vê a série pelas lentes de uma pessoa que está ali sentada. Isso também é realçado quando o diretor toma alguns takes por entre frestas de portas e vidraças, e “espia” diálogos entre as pessoas. Succession também quase não tem trilha sonora, exceto pela da abertura, que é mais do mesmo desse estilo de série, parecendo muito com Narcos ou mesmo House of Cards.
Por fim, juntando todos esses aspectos, podemos dizer que é uma ótima escolha a se assistir. Com excelentes atuações e as camadas criadas dos personagens e entre eles, temos aqui todo o tom da série. Não obstante, Succession desbancou séries como The Crown e Big Little Lies ao levar o prêmio de melhor série de drama no Globo de Ouro de 2020.
“Não se preocupe, isso acontece nas melhores famílias!?”
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