Years and Years é uma série britânica de 2019 produzida em parceria entre BBC e HBO. A história conta como movimentos políticos ao longo dos anos afetam a vida de todos os integrantes da família Lyons, que mora em Manchester. Para um leitor desavisado ou um “profissional de passar o catálogo da Netflix” que lesse de forma rápida a sinopse dessa série, talvez não encontrasse ligação ou ponto de curiosidade para assisti-la. E é aqui que eu vou tentar desconstruir um pouco essa ponta solta: você veio aqui para isso e explico toda a minha opinião logo abaixo.
“Isso é tão Black Mirror…”
Todo mundo já proferiu ou mesmo ouviu essa frase para se referir a algum avanço tecnológico estranho frente a uma nova tecnologia. Essa frase virou um novo adjetivo ao redor do mundo, e com certeza aqui no Brasil não foi diferente, tamanha a popularidade da série, que trata de forma concreta de novas tecnologias que poderiam surgir no futuro próximo. Sendo assim, foi nisso em que ela se baseou para conquistar a sua base de fãs ao redor do planeta. De uma forma bem reducionista e introdutória, posso afirmar que Years and Years é a evolução de todo um conceito futurista criado por Black Mirror. Não é totalmente sci-fi, mas também não é totalmente drama, nem um suspense completo. Esse novo gênero temático-atmosférico institucionalizado por Black Mirror é o pano de fundo, mas não por toda a série. Years and Years é a expansão de Black Mirror para áreas como Política, Sociedade, Economia e, claro, tecnologia.
Se você ainda não assistiu à série, e ficou um tantinho interessado só por esse textinho inicial, pare aqui, porque talvez fique meio difícil falar um pouco mais profundamente da série sem dar uma pequena porcentagem de spoiler. Se você ainda não assistiu e ainda não sentiu vontade de assistir, ou ainda se você já assistiu à série e deseja ver o que eu achei de tudo isso – continue a nadar (ou melhor, a ler!).
O começo de Years and Years retrata o cotidiano da já citada família Lyons. Mostra como eles se amam, são alegres entre si e partilham todos os seus segredos. A partir desse início, já são inseridos alguns dos elementos tecnológicos presentes. Por exemplo, eles possuem um sistema (uma espécie de homelink) que interliga chamadas a todos os telefones dos familiares ao mesmo tempo.
Os personagens começam a se desenvolver desde muito cedo e avançam rapidamente. Um exemplo disso é que a TV noticia uma disputa política entre os membros do parlamento britânico, tendo como centro Vivienne Rook, que era empresária e decidiu virar política, em uma montagem acelerada.
A série vai avançando rapidamente com o passar dos anos. Cada episódio se passa em um novo ano, e esse senso de pressa vai tornando agoniante a experiência. Isso, junto com as tecnologias bizarras que vão aparecendo para nós. O ponto de inflexão se inicia quando as tensões políticas do país começam a interferir na vida de cada membro da família de forma particular. Então é aí que você vê bancos quebrando e sugando o dinheiro das pessoas, empregos sendo substituídos por tecnologia, transumanos, eventos estranhos acontecendo ao redor do mundo e alternâncias entre governos de extrema-esquerda e extrema-direita. Tudo isso faz uma verdadeira bagunça na sociedade e no cenário público, seja quando esses governos regulam o direito de ir e vir das pessoas, seja quando interferem na propriedade privada e são extremamente autoritários.
Os atores não são o ponto forte da série. Eles são muito sustentados pelo enredo e pelo trabalho de direção fantástico, que cria um panorama sombrio e usa cores muito frias que passam a sensação negativa sobre tudo o que está acontecendo. A melhor atuação dessa série se resume ao Stephen Lyons (Rory Kinnear), chefe de família que inicia sendo o menos “surtado” e termina em seu ápice ao final do último episódio.
Alguns pontos que a série quer comunicar, e eu quero tentar ser o menos tendencioso possível ao listar: ela alerta para governos autoritários e extremistas, mostra a partir da família Lyons como o impacto se dá na sociedade civil e, por fim, fala da responsabilidade de comandar seriamente uma nação. Years and Years se projeta como uma série que comunica fortemente isso, e talvez critique nações mundo afora. De fato, certas coisas são tão reais que parece que a série foi feita na semana passada.
Years and Years começa com um ritmo bem acentuado, passa por atenuações mais reflexivas no meio da temporada e volta com força nos últimos dois episódios, terminando com um tecnoespiritismo “meio doido”. Ao leitor e possível espectador, eu sugiro a reflexão de tudo o que a série quer retratar e retrata de forma cruel e fria: uma representação cinematográfica-dinâmica dos problemas em governos autoritários e radicais. Talvez olhemos para toda conjuntura social atual e pensemos: “Isso é tão Years and Years…”.
Resta a nós saber, quase como uma bola de cristal, para onde a série vai nos levar, e torcer para que não nos mostre a nossa própria realidade.
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