Após a polêmica envolvendo o ator Kevin Spacey, que foi associado a um escândalo de assédio sexual, House of Cards volta para sua 6º temporada, mas tem um grande desafio pela frente: excluir o protagonista da série. O personagem Frank Underwood não foi apagado da série, mas única e exclusivamente o ator, Kevin Spacey. Frank continua bem “presente”, inclusive ainda influenciando acontecimentos durante os episódios, ou seja, o personagem de fato morre – não há muito para onde correr nesse sentido – mas a influência de suas ações passadas está bem viva.
As gravações da 6º temporada já alcançavam o 3º episódio quando o escândalo com Kevin Spacey veio à tona. Diante disso, a Netflix cancelou as gravações e reiniciou sem a presença do ator. A temporada, que deveria durar 13 episódios, foi reduzida para 8. Talvez tenha sido no meio de toda essa correria que a série tenha terminado de se perder. É inegável que o nível da série decaiu nas últimas temporadas, mas sempre manteve bons elementos e um roteiro na maioria das vezes bem amarrado, mas nem isso sobrou para salvar a série. Até a quebra da quarta parede (aquele diálogo que os personagens tem com o telespectador), que é uma das características principais da série, foi mal executada, não agregou nada à trama, pois ao contrário do que era feito anteriormente, a protagonista Claire Underwood ( Robin Wright) não consegue criar um raciocínio junto a quem assiste, muito pelo contrário, parece que esse recurso foi colocado lá só para preencher um vazio ou meio que uma obrigação.
A temporada tem diversos furos no roteiro, começando pelo fato de que a toda poderosa Claire Underwood manda matar todo mundo que pisa no calo dela, isso também ocorreu nas temporadas anteriores, o problema é que antes era dado todo um contexto e até uma estratégia que foi utilizada para a morte de uma personagem, agora a série nos passa uma sensação de que basta olhar torto para a presidente e já pode cavar sua cova. O maior problema disso tudo é que no universo da série ninguém parece se importar muito com isso, chegando ao absurdo de Claire mandar matar a fucking secretária de estado americana e não ocorre uma investigação, um questionamento, nada! Outras mortes que no mundo real causariam no mínimo uma indagação, simplesmente são ignoradas por toda a série.
Outro problema com o roteiro da série, e que até é justificável em partes, foi a morte de Frank. É parcialmente justificável, pois a remoção de Kevin Spacey era inevitável, e substituir o ator é impensável. Sendo assim, a única alternativa encontrada foi matar o personagem. O problema são as consequências dessa morte, não só para a série como um todo, mas especialmente para Claire. O finado Frank se torna quase um fantasma para Claire, é sério, a temporada passa a sensação de que ela está constantemente assombrada pelo ex-marido, inclusive com portas que não deveriam estar abertas e objetos que não foram colocados naquele local. Frank continua sendo o protagonista da série, mas subjetivamente, pois toda a trama gira ou em torno das suas ações passadas ou sobre sua morte.
Nessa temporada também foram introduzidos dois novos personagens, Bill e Annette Shepherd. Mas a introdução desse núcleo me fez pensar que eu tinha pulado alguma temporada ou episódio, pois ambos simplesmente aparecem na série mandando e desmandando na presidência americana, do nada. Sem contar que Bill Shepherd é assolado com uma doença, o que dá a entender que é um câncer, mas isso não leva a nada, a série a princípio faz entender que isso vai ter uma influência nos acontecimentos, mas simplesmente é um elemento inútil, não foi utilizado e foi colocado sem sentido algum. Outro personagem que, apesar da boa atuação, foi prejudicado pelo roteiro ruim é Doug Stamper (Michael Kelly). Ele é de extrema importância para os acontecimentos da série, sendo o grande elemento de ligação e tensão entre os diversos núcleos, mas alguns acontecimentos dão a entender que ele está perdido na trama e que ela tenta incluí-lo de alguma forma. Um exemplo disso é quando a série trata como se fosse um grande acontecimento quando ele faz a barba.
Como a temporada não poderia ser de todo ruim, algumas coisas merecem ser mencionadas como pontos positivos. Uma das melhores coisas da série sempre foi a mensagem que ela passa sobre as relações de poder e como elas corrompem até a mais genuína ideia. Um exemplo disso é que quando Claire Underwood assume a presidência, ela declara que quer compor um gabinete inteiramente de mulheres, se alinhando com ideais feministas, até mesmo com declarações e entrevistas nesse sentido, e a série explica o por que desse feminismo através de flashbacks da sua infância e adolescência, recapitulando momentos chave onde ela teve que ter pulso diante de algumas situações envolvendo homens. Mas até mesmo esse feminismo é utilizado politicamente por Claire, transformando um sentimento sincero em estratégia política, utilizando seu feminismo em momentos convenientes.
Uma coisa que um amigo me falou sobre a série e que me fez refletir bastante sobre isso é de que o seu protagonista não é Frank, nem Claire e muito menos Doug, e sim o poder. E o final, apesar de fraco e de ter parecido uma solução fácil para um problema difícil, consegue passar essa mensagem. O poder corrói até a mais pura das almas, até o mais sincero sentimento, e ele não escolhe gênero, cor, muito menos classe social. E uma frase perfeita exemplificando isso foi dita por Frank Underwood, e que define muito bem a série, a política e a vida: “Ele escolheu dinheiro em vez de poder – um erro que quase todos desta cidade cometem. Dinheiro é mansão no bairro errado que começa a desmoronar após dez anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos”.
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