Ao pensar em rock no Brasil geralmente pensamos em São Paulo. O estado com maior população do Brasil realmente produziu os grandes nomes do gênero e, se quisermos esticar o raio de ação “rockeiro”, podemos ainda adicionar o Sul, o resto do Sudeste e Brasília como os epicentros de gênero estadunidense do Brasil. Bandas como Legião Urbana, Ira!, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Sepultura são marcos na música nacional no gênero e ditaram como o rock era tocado no Brasil até os anos 2000. Mas algo vem mudando desde 1990.
A partir de Chico Science e Nação Zumbi, os ouvidos rockeiros passaram a prestar mais atenção no que estava acontecendo ao Nordeste do país e como misturar, ainda mais, o rock com os ritmos regionais. E, como fruto disso, o menor estado do Brasil vem sendo um dos melhores celeiros de rock do país. Sergipe é conhecido como “país do forró” e, futuramente, será conhecido também como a terra do “xaxado overdrive”. Para você não perder o bonde da história, trago aqui 5 álbuns de rock sergipano para entender por que Sergipe é a terra das revelações do rock nacional.
1. The Baggios – Sina (2013)
Já começamos retirando o “elefante branco” da sala. The Baggios é a banda de rock sergipana mais famosa e mais reconhecida nacional e internacionalmente. Concorreu ao Grammy Latino de melhor álbum de rock duas vezes, com os discos Brutown (2016) e Vulcão (2018), além de já ter executado uma turnê latino-americana, passando pelo México. A escolha de indicar o Sina é por ele ter mostrado uma evolução da banda que se tornou mais profunda a partir dos discos seguintes.
Em Sina, a banda ainda era um duo com Júlio Andrade (guitarra e voz) e Gabriel Carvalho (bateria), que faziam um blues rock de primeira, inspirado bastante em Black Sabbath. Entretanto, esse álbum marca um maior teor de experimentações, trazendo elementos “psicodélicos” — como a entrada em Afro — baseados nos rocks anos 1970, uma pegada de “forró” em Salomé me disse e, até mesmo, uma ciranda “overdrive” em Esturra Leão. Todas essas misturas foram complementadas com participações especiais que adicionavam novos instrumentos e “sabores” a essa rica mistura sonora, como Big John (Coutto Orchestra) na sanfona em Salomé me disse. Após essa experimentação e evolução sonora em Sina, The Baggios deixou de ser o “Black Keys” do agreste para ser uma referência em criatividade e composição de rock e música regional. Também vale ressaltar que depois desse disco, e a partir de Brutown, o duo virou trio com a adição de Rafael Aragão nos teclados, o que permitiu uma “viagem” sonora ainda maior e possibilitou que Júlio se soltasse mais ainda em solos nas apresentações.
2. Skabong – EP Aruana Ska Weekend (2013)
Praia, litoral e verão: a receita perfeita para uma banda de reggae. Mas o que acontece quando você junta jovens fãs de punk e reggae? Exatamente, o Ska — e, em Sergipe, a junção perfeita que é a Skabong.
Formada em 2013 e com um EP lançado de imediato, a banda foi um estouro em Sergipe, encerrando shows de bandas como Dead Fish e apresentando-se frequentemente em festivais regionais, como o Zons. A banda cantava em inglês e com letras de significado leve, geralmente falando sobre curtição entre os amigos e comida. O que realmente importava eram o ritmo e o som, algo sempre divertido que você notava a transição entre o “peso” e o “leve” em Aruana Ska Weekend e a evolução da velocidade para o mosh pit na música California Summer Day.
Infelizmente, pouco tempo depois de o EP ser lançado, o vocalista da banda, Levi (Nucleador), veio a falecer e a banda entrou em hiato. Para a alegria de todos, em 2019 eles voltaram com uma nova vocalista, Sara Bini, e dois novos singles: Zombies e His Noodly Might. A nova fase da banda promete e aguardamos a pandemia acabar para vê-los ao vivo.
3. Taco de Golfe – Nó Sem Ponto II (2020)
É uma afirmação comum entre músicos que tocar jazz, ou algum outro estilo musical que privilegie a quebra de tempo e improviso, seja algo difícil. Imagine ainda compor vários álbuns instrumentais desse modo e com um detalhe: todos os membros com menos de 30 anos.
Taco de Golfe sem dúvida é um fenômeno no sentido mais puro da palavra: devastador e único. Formado por Gabriel na guitarra, Alexandre na bateria e Filipe no baixo, a Taco passeia pelo math rock, progressivo e jazz em uma facilidade impressionante. Não é um CD instrumental que te faz parar e trabalhar como uma música de fundo. É um trabalho musical que vai te puxar para dentro do turbilhão sonoro e te fazer pedir para ouvi-lo de novo para perceber novos detalhes.
A banda teria uma série de apresentações no ano mas a Covid-19 desacelerou um pouco os planos dos meninos. Ainda veremos muito dessa banda e com certeza ainda mais influências e referências dentro dos próximos álbuns.
4. Sarina – Sarina (2014)
Sarina é uma banda de origem sergipana com participação também de membros de outros estados. Isso não invalida a banda, que começou com seus shows no cenário sergipano.
É uma banda que traz uma forte influência do indie e de soft rock. Mesmo que não invistam no som “pesado”, as composições são muito bem construídas nesse CD, que conta com os irmãos Ícaro (Finitude) no baixo e guitarra e Vitor Hugo (Skabong) na bateria, além de Thiago no vocal, baixo e guitarra. O foco na “falta” de peso é um detalhe curioso, pois tanto Vitor como Ícaro participaram de bandas de punk e metal. O CD também contou com a participação de Tai Britto, que saiu logo depois para ir para a Qualquer Bordô.
O interessante da Sarina é que todos os membros cantam e revezam-se em múltiplas funções e que seu estilo agrada tanto quem busca um som mais leve quanto quem admira um instrumental bem trabalhado, como mostrado na música O Ouro e também em Remendado. Em 2016, eles lançaram um segundo disco chamado Ela, também disponível no Spotify.
5. Finitude – Dissensio Homines, Pt 1 (2013)
Como não poderia faltar em uma lista escrita por mim, teria de ter um metalzinho. Em Dissensio Homines, Pt 1, a Finitude mostra o talento do metal sergipano em toda sua glória. As influências do power metal são claras, mas o que impressiona é a mistura de estilos que traz traços do thrash de Death Angel e Testament, um tom de modernidade e frescor ao “power” que enriquece a composição e agrega peso nos riffs, fortalecendo a combinação peso e melodia.
Esse álbum é impressionante pelo alto nível de todos os membros da banda: André Moreira na bateria, Djalma Moreira no baixo, Ícaro (ele mesmo da Sarina) e Luiz Gustavo nas guitarras e, especialmente, Marcelo Menezes brilhando no vocal. A qualidade da gravação também é excelente, tendo em consideração que foi feita em 2013 e em Sergipe, o que dá pra indicar que, sendo realizada em 2020, não deixaria nada a desejar às gringas.
A banda não atualizou suas redes após esse CD, o que é uma pena, já que, se a “Pt 1” foi tão boa, todos estavam ansiosos pela “Pt 2”. O álbum é a prova de que o metal também tem qualidade e vez em solo nordestino e sergipano.
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