Demi Lovato: Dancing With The Devil é uma série documental sobre Demi Lovato, artista que ficou conhecida inicialmente por sua participação em Barney e Seus Amigos, juntamente com Selena Gomez, quando ambas eram ainda crianças. Ela ganhou os holofotes na Disney ao fazer parte de produções originais como Camp Rock, Sunny Entre Estrelas, Programa de Proteção para Princesas, entre outras. O documentário estreou dia 23 de março de 2021 e teve um total de quatro episódios, além de alguns curtas chamados de “diários”, produzidos unicamente por Demi Lovato e sua câmera.
É importante ter em mente que essa não é a primeira vez que Demi permite que entremos nos bastidores de sua vida, tendo em vista que ela já gravou outros documentários, como Stay Strong, em 2012, e Simply Complicated, em 2017. Além disso, sempre foi aberta sobre a forma como se sentia diante da fama e sobre seus transtornos (bulimia e a bipolaridade). No entanto, não lembro de ter visto a Demi de uma forma tão vulnerável quanto essa – ao menos não por vontade própria.
O documentário aborda tudo a partir da visão de todas as pessoas mais próximas de Demi: pessoas da sua equipe, sua família, seus amigos e seu empresário. A construção dos episódios dessa maneira permitiu que tivéssemos conhecimento de como isso afetou não apenas a vida dela, mas a de todos eles. E como isso afetou a forma de a própria Demi se perceber.
Os quatro episódios de Demi Lovato: Dancing With The Devil percorrem um plano de fundo que exerce a função de criar uma narrativa para o foco principal: a overdose sofrida por Demi, na noite de 23 de julho de 2018. A narrativa, principalmente do primeiro e segundo episódios, ao ser atravessada por flashbacks de momentos que antecedem essa noite, torna tudo mais impactante, deixando nítido como ela consegue enganar bem até mesmo as pessoas mais íntimas, fazendo-as acreditar que está bem.
Nos flashbacks com cenas capturadas durante a gravação do documentário que a acompanhou durante parte da turnê Tell Me You Love Me — mas que nunca foi lançado —, vemos uma Demi que mostra apenas a ponta do iceberg do que está acontecendo em sua vida. Ela não quer destruir a visão que os seus fãs criaram dela.
Vejo meus fãs como se fossem minha família. Mas por ter sido tão sincera sobre o que tinha passado, eu achava que precisava servir de exemplo.
Demi deixa implícito como a sua sinceridade, que deveria ser libertadora, foi, na verdade, o que a colocou em amarras. Atravessada de expectativas para ser um exemplo de sobriedade, de alguém que tentou o suicídio e sobreviveu, de alguém que consegue controlar o transtorno alimentar — de alguém, acima de tudo, perfeita. Essa manutenção da perfeição era feita e reforçada por sua (antiga) equipe, que estava no controle de tudo que acontecia na vida dela. Foi feita até mesmo uma dieta tão rigorosa que em seus próprios aniversários havia bolos de melancia. Não é certo afirmar o que ocasionou a recaída de Demi às drogas, porém com certeza tudo isso contribuiu. E ela não tentou esconder o seu pedido de socorro. Ela o fez da forma que mais sabe fazer: cantando.
Em 21 de junho de 2018, Demi lançou a música Sober, que em um trecho fala:
Mamãe, me desculpe, não estou mais sóbria. E papai, por favor, me perdoe pelas bebidas derramadas no chão. Àqueles que nunca me deixaram, nós já passamos por essa estrada antes. Eu sinto muito, não estou mais sóbria.
Em 23 de julho de 2018, Demi tem a overdose. Ela teve três derrames, uma parada cardíaca, pneumonia, falência de múltiplos órgãos, sofreu lesões cerebrais devido aos derrames e tem pontos cegos em sua visão.
Em 26 de janeiro de 2020, Demi voltou aos palcos durante uma apresentação linda no GRAMMY, onde cantou sua, até então, inédita canção Anyone, que foi gravada dias antes da overdose.
Eu tentei falar com o meu piano. Eu tentei falar com o meu violão, falar com a minha imaginação. Confiei tudo ao álcool. Eu tentei e tentei e tentei um pouco mais. Contei segredos até minha voz doer.
(trecho da música traduzido)
Demi Lovato: Dancing With The Devil conta toda a história por trás dessas três datas que destaquei, além de falar sobre o relacionamento dela com Max Ehrich, que começou um pouco antes do início da quarentena em função da COVID-19, em 2020. Eles passaram os primeiros meses da quarentena juntos e noivaram em meados de julho, porém não chegaram ao altar. Demi relata brevemente, em um dos diários do documentário, o que talvez seja a conversa mais sincera que já teve sobre o relacionamento com Max, uma vez que não há nada além dela e de sua câmera. Nada além dela mesma encarando seus sentimentos controversos e dolorosos. É uma prática de catarse e, portanto, sem filtro algum em seu sentir.
O fim de Demi Lovato: Dancing With The Devil me deixou com a sensação de que agora Demi realmente está no controle de sua vida. Isso não quer dizer que ela não tenha pensamentos disfuncionais, mas sim que está conseguindo controlá-los e pedir ajuda quando precisa. Ela não quer ser um exemplo de perfeição. Ela nunca quis. A única coisa que deseja é viver a própria verdade da forma mais fiel possível. Com isso em mente, ela permite que vejamos além da ponta do iceberg, reconhecendo um pouco da leveza de sua vida e vendo Demi se libertar das amarras. É tocante e vulnerável. Não acho que sou capaz de descrever isso. Então, assistam e sintam a leveza que a liberdade de ser e sentir de forma fiel a si carrega.
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