Fragmentos do Horror é uma coletânea de contos lançada pelo grão-mestre do terror japonês, Junji Ito. Lançada originalmente no Japão em 2014, foi traduzida para o português por Akemi Ono e publicada pela Darkside em 2017.
Como muito vemos na obra do autor, os contos desta coletânea mesclam os seguintes elementos: do horror místico japonês, com muitas influencias do animism xistoista, ao horror cósmico de bases lovecraftianas; do cômico ao trágico, do grotesco ao erótico (e muitas vezes grotescamente erótico e eroticamente grotesco).
As histórias presentes nessa coletânea são: Futon, onde um rapaz não consegue mais sair de sua cama devido às assustadores imagens que o assombram; Monstro da Madeira, em que uma antiquíssima mansão chama a atenção de uma estranha estudante de arquitetura; Colarinho Vermelho, em que um adúltero marido é amaldiçoado por uma bruxa e sua vida fica por um fio; Adeus Suave, em que uma família possui uma forma específica de lidar com seus mortos; Dissecação-chan, em que uma moça possui um fetiche muito específico; Pássaro Negro, em que um rapaz é resgatado após um mês preso numa floresta e sua sobrevivência é um mistério; Magami Nanasuke, em que uma jovem aspirante a escritora vai em busca de seu ídolo para aprender mais; e A Mulher que Sussurra, onde uma moça extremamente indecisa é auxiliada por sua dedicada cuidadora.
Eu conheço a obra de Ito já há alguns anos e é de longe um de meus mangakás (autores de mangá) favoritos. Comprei essa coletânea em meados de 2018 e, ao reler recentemente, notei algumas coisas que estranhei quando comparadas a outras obras do autor. Antes de entrar nisso, gostaria de ressaltar que essa obra foi a primeira após um hiato de oito anos em que Ito não produziu nada de horror, apenas trabalhando em seu mangá Monstro Yon, um slice of life meio bizarro sobre seu gato. Ito comenta no posfácio de Fragmentos do Horror que esses anos sem produzir nada no meio em que foi consagrado foram anos “vazios” e que teve muita dificuldade em retornar a escrever terror. Ele mesmo considera o primeiro conto, Futon, como um de seus piores e diz que publicou a coletânea sem considerar que seu “talento” tinha retornado.
Comentado isso, eu concordo com Ito. Com algumas poucas exceções, os contos de Fragmentos do Horror não são nada se comparados ao seu auge, inclusive destoando muito do tom de suas obras “típicas”. Inclusive, minha maior crítica vai ao conto Magami Nanasuke, que é bem transfóbico.
Apesar dos problemas, a coletânea tem um conto que adorei: Adeus Suave. Não é o primeiro conto de Ito, nem o único na obra, a levantar questões do psiquismo humano. Ele aborda de uma forma muito interessante a questão do luto e suas etapas, dando uma ênfase especial à Negação (onde negamos a existência do problema, no caso a morte) e a Barganha (onde fantasiamos que podemos reverter o ocorrido). Inclusive não consigo considerar esse um conto de terror, mesmo com imagens um tanto perturbadoras, mas sim uma história de drama familiar.
Mesmo lançando uma obra abaixo de sua capacidade, e problemática em vários sentidos, Ito segue sendo um autor que vale a pena conhecer. Eu não recomendo Fragmentos do Horror para leitores novos dele, pois terão contato com um material que não reflete a potência do escritor. Para tal eu recomendo Uzumaki (já falei um pouco sobre ela no texto 3 Indicações de HQs de Terror) e Gyo. Essa coletânea eu recomendo apenas para aqueles que já são fãs de Junji Ito, pois a qualidade gráfica, tanto da capa quanto da impressão, é impecável. Nesse quesito, parabéns, Darkside!
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