Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+, comemorado todo ano no dia 28 de junho. Em homenagem a isso, pensei em indicar algumas séries que abarcam, de alguma forma, a particularidade diversificada existente dentro da comunidade. No entanto, depois de pensar um pouco mais, achei que talvez fosse mais interessante falar sobre uma única série que conseguisse abordar de forma ampla e em diferentes vertentes a comunidade LGBTQIA+. Então lembrei de Liberdade de Gênero, uma série de documentários que vi sem expectativa alguma há pouco mais de um ano, mas que gerou inúmeras inquietações em mim.
Liberdade de Gênero é dirigida por João Jardim e foi lançada no canal da GNT em 2016. A série aborda as existências marginalizadas pela sociedade de uma forma sensível e verdadeira. Além de ser uma ótima introdução às existências que possuem nula legitimação até mesmo dentro da comunidade LGBTQIA+, é uma forma de aprofundar o conhecimento acerca dessas existências. E a melhor parte: não pelo olhar de outrem, mas pelo próprio olhar delas.
“O que a gente está tentando fazer é um retrato dos vários tipos de gênero ao nosso redor”, declarou o diretor João Jardim em uma entrevista ao Portal A Crítica. Para isso, ele diz que houve inúmeras pesquisas, tentando não estigmatizar nenhuma dessas formas de existência e abarcar as mais distintas vivências no Brasil, indo de norte a sul. A sexualidade aqui fica de plano de fundo na maioria dos debates, por mais que seja difícil a dissociação de sexo e gênero. No entanto, é compreensível, uma vez que o debate principal é acerca do gênero.
Em Liberdade de Gênero não há uma grande atriz representando o que é ser não-binário, transexual, entre outros, no Brasil. Há a Luiza, uma mulher transexual, sendo extremamente vulnerável e falando a dificuldade que é não apenas ser mulher, mas ser mãe. Temos o Jordhan, de 50 anos, falando sobre o processo de sua própria aceitação e de como foi difícil aceitar que, na verdade, não era nada daquilo que a sociedade impõe, iniciando assim sua transição aos 47 anos. Temos a Linn da Quebrada falando como é ser uma “bixa travesty” de visibilidade, dos preconceitos que ela teve e tem que enfrentar todos os dias. Além disso, ela aborda como o fazer arte através da música faz parte do seu grito de liberdade.
Temos também a Melissa, de 11 anos, sendo extremamente corajosa ao falar aos seus pais que não se identificava com as expectativas de gênero que o seu sexo biológico masculino pressupõe. Temos várias pessoas falando sobre o seu singelo existir no documentário. E há tantas outras no nosso cotidiano que não estão em congruência com as expectativas de gênero, sexualidade e atração da sociedade e, por isso, sofrem violência psicológica e física.
São histórias reais para abordar existências que são marginalizadas todos os dias; que são mortas todos os dias. Existências que são vistas como nada além de corpos abjetos, ou que não são vistas. Existências que possuem nome e devem ser legitimadas: assexuais e arromânticos, transexuais e transgêneros, bissexuais, queer, intersexuais, gays, lésbicas e tantas outras.
Em Liberdade de Gênero, temos inúmeras existências dando um grito de liberdade que representa tantos outros e ressoa por toda comunidade. De “ei, eu existo e tenho orgulho de quem sou”. Elas continuam (re)existindo e subvertendo à norma em uma persistência poética e potente. É lindo perceber o quanto estão fazendo fissuras na estrutura preconceituosa e normativa da sociedade.
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