No Longer a Heroine! (não confundir com o mangá No Longer Heroine, de Momoka Koda) é uma webtoon sul-coreana de drama e romance, que aborda algumas situações de abuso, tragédia e questões psicológicas decorrentes delas. Por conta disso, é uma série que pode desencadear alguns gatilhos para pessoas mais sensíveis. A obra está completa, com 111 episódios, sendo 4 deles episódios extras e um depoimento da autora, e foi publicada no ocidente pela Line Webtoon. No Longer a Heroine! foi escrita e desenhada por Maenggi Ki, que também criou My ID is Gangnam Beauty! e Sisters at War.
No Longer a Heroine! acompanha a história de Lisa Cheon, uma atriz mirim que se tornou super popular no seu país por sua atuação extraordinária e que, por conta disso, se tornou queridinha do público. Tudo muda quando ela se envolve em um escândalo envolvendo o uso de drogas, que a força a deixar sua brilhante carreira. Anos depois, ela recebe a oportunidade de retomar a carreira e ser a estrela da série “Marigold High”, cuja protagonista passou por situações semelhantes às dela. O problema é que seu par romântico na história é seu ex-namorado e ela não consegue mais atuar sem antes consumir bebidas alcoólicas. Dessa forma, ela precisa enfrentar problemas do seu passado para tentar recuperar aquilo que perdeu.
A história aborda temas ligados à indústria de entretenimento, como a idealização que os fãs têm de seus ídolos, a vigilância constante da vida pessoal das celebridades, os efeitos dos rumores na carreira deles, a exploração pelos pais dos talentos dos filhos (independente da vontade deles) e até onde uma pessoa é capaz de chegar para alcançar e manter o sucesso. A história mostra bastante o lado “por trás das câmeras” e não tão bonito da indústria de entretenimento, mas não se restringe a isso. Ela também mostra as ações dos personagens e as repercussões delas, mostrando que toda ação tem uma reação, e ainda desenvolve como o psicológico dos personagens é afetado por todos esses acontecimentos.
Foi uma história diferente do que costumo ler. Os assuntos tratados na história despertavam a atenção e a curiosidade, fazendo com que nos perguntássemos como que aquela situação se resolveria e que consequência ela teria. Inclusive, em alguns momentos fui capaz de fazer paralelos de situações abordadas na história com reportagens que já vi sobre celebridades reais. Alguns assuntos tratados foram mais pesados, como violência contra a mulher, violência dos pais contra os filhos e abuso de poder, mas todos esses elementos se relacionavam muito bem com a história que estava sendo contada. Não foram elementos colocados ali só para chocar, eles tinham um motivo e foram trabalhados ao longo dos capítulos.
O interessante é que a história demonstrou repercussões psicológicas do que acontecia nos personagens. Algumas das situações geraram bastante empatia, enquanto outras me fizeram refletir “e se fosse eu, como eu reagiria?”. Nós antipatizamos e simpatizamos com os mesmos personagens em muitas situações, o que os torna mais vivos. Eu acho que No Longer a Heroine! mostrou muito bem que nós não somos somente bons ou somente maus, nós não somos perfeitos e cometemos erros.
O desenvolvimento de No Longer a Heroine! fluiu bem, acredito que abordou os temas na velocidade que deveria e não me lembro de um momento em que tenha se alongado mais do que deveria em algum arco que não se mostrou relevante para a história depois. No geral, eu gostei da história e da execução dela, pois fecha quase todas as questões que apresenta. Minha crítica justamente é em relação a finalização do arco do ex-namorado, que nos deixa com uma sensação de “incompletude”. Li os capítulos finais ávida por saber o que aconteceria com ele, mas não temos uma resposta. Nenhum episódio especial aborda o que aconteceu com ele, o que achei uma pena. Mesmo que a vida dele não fosse grandiosa, eu queria saber como ele conseguiria lidar com tudo o que aconteceu e como daria a volta por cima — se é que daria.
Também gostei dos personagens apresentados na história. Todos têm seus objetivos e motivações muito bem definidos e a presença deles faz diferença no roteiro. Se fossem retirados, a webtoon não seria a mesma, e eu acho que isso indica a boa preparação da autora e a boa construção que ela fez. Eles estavam ali por uma razão, não foram jogados de qualquer jeito para a autora ter que pensar o que fazer com eles à medida que os capítulos fossem passando.
A protagonista, Lisa Cheon, foi capaz de me inspirar tanto antipatia quanto simpatia. Mesmo detestando a personalidade dela em alguns momentos, isso não foi suficiente para eu parar de torcer para que ela se reerguesse e conseguisse ser bem-sucedida. Eu consegui perceber um bom desenvolvimento de personagem dela, principalmente em relação à carreira de atriz, mas tenho uma ressalva ou outra para fazer sobre esse desenvolvimento. Particularmente, achei que ela seguiria para a produção ou direção de programas de televisão. Acho que teria encaixado melhor, por tudo o que a história nos trouxe da relação dela com a atuação, e acho que seria uma lição interessante: não é porque somos “gênios” em algo que somos obrigados a permanecer naquilo, principalmente caso não seja da nossa vontade.
Outros personagens tiveram um desenvolvimento interessante, começando na história com uma visão de mundo e terminando com outra. Não foi uma mudança abrupta, foi gradual, e foi muito bom acompanhá-la acontecendo aos poucos ao longo dos capítulos. Novamente, elogio o trabalho da criadora na elaboração do roteiro e dos personagens. Minha única crítica continua sendo ao ex-namorado esquecido no final da história, e ao cantor antagonista que desaparece depois de um escândalo que teve.
E a arte, embora simples, ainda assim era cativante para mim.
No Longer a Heroine! é uma ótima história para aqueles que gostam de acompanhar o amadurecimento e desenvolvimento dos personagens, que gostam de acompanhar a trajetórias de pessoas imperfeitas, com defeitos e decisões erradas que impactam seus futuros. É uma história que nos faz ter raiva, que nos faz clamar por justiça — e até vingança.
Ela nos faz questionar “e se fosse eu, até onde eu chegaria? Como eu resolveria isso?”. Também nos faz refletir sobre nosso papel como público. Estamos idealizando nossos ídolos de forma exagerada? Qual o nosso papel e como nós moldamos (e somos moldados) como consumidores nessa indústria do entretenimento? Mas tenha consciência de que a história abordará alguns assuntos bastante pesados, e de que talvez a conclusão de algum ponto ou outro da história não seja tão satisfatória assim.
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