Eu tenho sentimentos conflituosos para com a série House of Night. Se por um lado me traz sentimentos reconfortantes por ter sido uma das primeiras séries que já li — e amei, no auge dos meus 12/13 anos — na vida, por outro, com a minha percepção de hoje, fica visível quão fraca essa série é. Mas talvez o conflito se dê justamente porque as minhas expectativas — paralisadas no tempo, de uma adolescente de 13 anos — foram confrontadas com o meu senso crítico de uma adulta de 23 anos.
Parei de ler a série House of Night alguns (muitos) anos atrás, porque os livros eram lançados com anos de diferença entre um e outro. Eu comprava quando eram lançados, mas quando ia ler já não lembrava o que havia acontecido no anterior. Então, recentemente, passando pela minha estante, percebi que não havia lido aproximadamente os últimos quatro livros da série e resolvi ler todos de uma vez. Qual não foi a minha surpresa ao ter uma opinião bastante diferente da que eu tinha anteriormente?
Mas vou começar pelo início. Comecei a ler essa série quando tinha por volta de 13 anos de idade. Nessa época, após o sucesso de Crepúsculo, as produções vampirescas estavam no seu auge. Depois das mudanças na visão dos vampiros, trazida pelos livros de Stephenie Meyer, de repente eles não eram mais monstros sugadores de sangue que habitam os pesadelos das criancinhas, mas criaturas belas, inteligentes, sedutoras… e cada nova série que surgia criava uma nova mitologia, por assim dizer, que os cercava.
Com House of Night não foi diferente. Com uma mitologia completamente nova envolvendo os outrora amedrontadores vampiros, ela traz uma visão totalmente diferente sobre eles. Na série, os vamps são nada mais nada menos que uma espécie de evolução dos humanos normais e estão inseridos na sociedade. Ao chegar aos 16 anos, alguns adolescentes, digamos, especiais, são marcados — o título do primeiro livro, diga-se de passagem, é Marcada — por rastreadores (uma vocação vampírica, por assim dizer), com uma lua crescente no meio de sua testa.
Isso mesmo: os vampiros são identificados por meio de suas tatuagens, pois, no momento em que são marcados, elas surgem. Então, os novatos — assim chamados os adolescentes marcados — precisam ir para a Morada da Noite — a escola dos vampiros — mais próxima, ou seu corpo rejeitará a transformação e eles morrerão. Na escola, eles passam aproximadamente quatro anos basicamente aprendendo como ser vampiros, até que ao fim desse tempo ocorre a transformação — ou no meio do processo seu corpo a rejeita e o referido novato morre.
Com a transformação, os novatos se transformam efetivamente em vampiros ao ganhar a tatuagem completa, que representa algum elemento da sua personalidade. Além disso, os vampiros veneram sua deusa, Nyx, que os criou e concedeu a alguns novatos especiais certos dons. A exemplo desses dons temos uma profetisa, que consegue antever acidentes e com isso impedi-los, afinidades com os elementos (terra, ar, água, fogo), uma proximidade especial com animais, entre outros.
Obviamente, com pessoas diferentes que bebem sangue e possuem poderes especiais, os humanos normais se sentem ameaçados. Há uma espécie de acordo tácito entre os humanos e os vampiros de se deixarem em paz, mas existe uma hostilidade para com os vamps por baixo da superfície, em especial pela falta de conhecimento por parte dos humanos sobre o funcionamento da sociedade vampírica — basicamente, preconceito.
Enfim, esse é o cenário no qual a série se passa. Acompanhamos, então, Zoey, a protagonista, que é marcada e vai recomeçar sua vida na Morada da Noite de Tulsa. Conforme ela vai desbravando esse novo mundo, alguns acontecimentos estranhos — até mesmo para o padrão vampírico — vão ocorrendo. Ao longo da série, vários desdobramentos acontecem, nos quais não posso me adentrar sob o risco de entregar algum spoiler — afinal, são doze livros. Porém vou fazer minha crítica de forma a tentar não expô-los.
Bem, começo por uma característica que não sei bem se é um defeito por si só, mas que certamente me incomoda. Cada livro acontece no decorrer de aproximadamente dois ou três dias. E a série toda, todos os 12 livros de House of Night, se passam em um intervalo de alguns meses. E acreditem em mim quando eu falo que os desdobramentos que acontecem nessa história são muitos. E dos mais diversos. Então, não é possível que tanta coisa aconteça em tão pouco tempo. Temos mudanças abruptas de personalidades, transmutações e até mesmo — será que é isso mesmo? — reencarnações, se é que o que acontece nessa série se qualifica como uma.
Pela minha percepção, isso simplesmente não faz sentido. O sentimento ao final de cada livro é de que no mínimo, sei lá, uma semana se passou, de tanta coisa que aconteceu, uma atrás da outra. Mas não. Quando se vai prestar atenção, foram só dois dias mesmo. Essa cronologia dos eventos me incomodou bastante, como se percebe.
Outra crítica que eu tenho é com relação ao desenvolvimento dos personagens. Como já falei, o tempo cronológico no qual toda a série House of Night se passa é muito curto — para doze livros. Mas, ainda assim, a impressão que passa é a de que demorou muito mais que isso. E, tendo em vista a quantidade de acontecimentos e reviravoltas que essa série tem, era de se esperar que os personagens de fato crescessem. Mas isso não acontece. Eles continuam tendo as mesmas atitudes infantis e discussões bobas e, francamente, irritantes — acho que o propósito era que elas fossem engraçadas, mas isso não acontece.
A maior decepção nesse sentido é a protagonista, Zoey. Ela é especial, desde o início da série sabemos disso. E a cada novo livro isso se confirma com alguma nova forma de torná-la importante, sejam tatuagens extras, habilidades mágicas ou o fato de que praticamente todos os caras da série se apaixonam perdidamente por ela — e sua incapacidade de namorar apenas um de cada vez. Mas, levando em consideração o tanto de coisa que acontece com ela, somado ao fato de a própria Nyx tê-la escolhido para desempenhar papéis de vital importância para o mundo, era de se esperar que ela adquirisse alguma personalidade e firmeza durante a série — mesmo se a princípio não tivesse.
No começo da série é compreensível que ela seja uma adolescente tomada de dúvidas e incertezas, levando em conta que sua vida acabou de virar de cabeça para baixo. Mas no décimo segundo livro, depois de passar por várias situações que, em tese, deveriam tê-la feito evoluir, ela continua com as mesmas indecisões e comportamento infantil. E quando resolve se impor, também é de maneira infantil e raivosa. Tudo bem que houve outros fatores que contribuíram para o seu comportamento errático, mas isso não muda o fato de que ela simplesmente não cresce. E — alerta de spoiler — não há nenhum motivo especial para ela ser especial. Pelo menos não um que esteja relacionado à sua personalidade, atitudes ou o fato de — não — se portar como uma grande sacerdotisa deveria.
Além dessa falta de evolução por parte de Zoey, outros personagens parecem querer compensar isso e acabam mudando completamente sua personalidade, a exemplo de Erick, Erin e Dallas. Nem todas elas foram do bem total para o mal… mas falo da forma de agir e de atitudes que não condizem com o demonstrado anteriormente. Até entendo que as autoras quiseram passar que nada é definido, tanto para o bem quanto para o mal. As pessoas mudam. O problema é que essas mudanças aconteceram de forma muito abrupta. De repente, sem nenhuma explicação.
Por outro lado, alguns personagens tiveram o amadurecimento devido em House of Night. Damien, Shaunee, Stevie Rae e até mesmo Aphrodite são exemplos disso. Ainda houve questões, digamos, filosóficas sobre a relação entre o bem e o mal que foram abordadas e deixaram boas lições com um pano de fundo bastante mítico.
Por fim, acho que a série pode ser uma ótima pedida para o público devido. Para a minha versão de treze anos de idade, foi incrível desbravar o universo de House of Night, e acredito que jovens que estão começando a adentrar nesse mundo dos livros podem gostar bastante do que essa série tem a oferecer. Porém, para a minha versão mais velha e um pouco mais calejada, a experiência foi um tanto quanto frustrante — a despeito de uma parte de mim ainda ter se emocionado e devorado a série apesar dos pesares em razão dos velhos tempos (à la guilty pleasure).
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