Lá estava eu explorando a Netflix para encontrar algo para assistir enquanto comia e, é claro, comi tudo e não encontrei nada. Três horas depois, me deparo com esse filme de nome bem peculiar e com Ana Lúcia Torre na capa. Eu precisava assistir. Em um primeiro momento não parecia atrativo, além de ser prejudicado pelo preconceito que às vezes carregamos pelos filmes brasileiros. Mas Reflexões de um Liquidificador é, sem dúvida, o melhor filme brasileiro do gênero suspense/terror que já vi, com um elenco maravilhoso e, como sempre, com aquela boa e velha reflexão que os longas nacionais mais underground costumam deixar.
Reflexões de um Liquidificador conta a história de uma dona de casa, Elvira, que enfrenta momentos difíceis em sua vida devido à falência de sua pequena lanchonete, onde vendia sucos e vitaminas com o marido Onofre (Germano Haiut). Quando ele desaparece misteriosamente, ela vai à delegacia fazer um boletim de ocorrência e logo é considerada suspeita no caso. A trajetória do casal é mostrada em idas e vindas entre passado e presente e Elvira, sozinha e extremamente preocupada, passa seus dias conversando com um velho liquidificador (na voz de Selton Mello).
O filme é simples, curto e com poucas mudanças de cenário, mas é carregadíssimo de tensão e suspense. Também é muito intrigante o fato de ela conversar com um liquidificador, o que prende muito a atenção e não torna a simploriedade do filme algo chato ou cansativo, além de ser muito diferente do convencional. As breves, mas belas e interessantes, narrativas de Selton Mello, o liquidificador, trazem pensamentos e reflexões profundos sobre questões existenciais.
É evidente que o diretor André Klotzel se inspirou em Psicose (clássico de Alfred Hitchcock que deu origem à série Bates Motel) e isso só torna tudo mais interessante. A trilha sonora, o sadismo e as referências que vemos na personalidade de Dona Elvira (que vocês irão perceber e, se eu falar, perde a graça) são aspectos nada comuns no nosso cinema; ele se assemelha mais a um clássico americano. O que mais se destaca é a forma de comédia: sádica, diferente daquela com base na sexualização de quase tudo e nos tons de voz sempre muito altos e diálogos exagerados. Você não verá nada disso aqui.
Vale muito a pena assistir. Com certeza, Reflexões de um Liquidificador é um dos filmes brasileiros que elevam a qualidade do nosso cinema, com sua narrativa fora do comum e surrealista. A única coisa ruim é que ele acaba.
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