Quando falamos em discos clássicos de rock, poucos estão tão consolidados na cultura popular quanto The Dark Side of The Moon, não só pela sua música, mas também pela sua icônica capa. O prisma em formato de triângulo é visto nas suas mais diversas aplicações, e é bem comum ver pessoas com a camiseta estampada com o símbolo, mesmo que muitas delas não saibam da sua origem. Mas isso mostra o quão grandioso é esse álbum: sua importância transcende o mundo do rock. O intuito desse texto não é fazer uma crítica do álbum, mas analisar seu impacto no mundo da música e nas nossas vidas.
Escuto Pink Floyd desde pequeno, até mesmo quando não tinha muito poder de escolha, pois meu pai é fã da banda desde sua adolescência. Por isso que sempre nas nossas viagens lembro-me de escutar Money, Another Brick in the Wall, Wish You Were Here etc. Diante dessa “lavagem cerebral”, acabei herdando esse amor do meu pai, e ainda tenho a lembrança muito clara da felicidade que fiquei ao comprar a minha primeira camisa de rock, no alto dos meus 15 anos, com o álbum Pulse estampado nela. Mas, com essa idade, eu não tinha noção do real significado da mensagem que o Pink Floyd transmitia em suas músicas, gostava muito do ritmo e era isso. Só mais recentemente, já com um bom entendimento de inglês e a casa dos 30 chegando, é que comecei a refletir sobre o significado das letras, o que só me fez admirar mais ainda a banda. Mas a música que mais me marcou foi Time – mais do que isso, o contexto do álbum em que ela estava inserida.
E antes de começarmos a falar do álbum em si, quero primeiro mostrar alguns dados, pra entendermos melhor o terreno onde estamos pisando. The Dark Side of The Moon é o 3º álbum mais vendido do mundo (45 milhões de cópias) e foi o álbum que por mais tempo ficou na Billboard 200, lista de álbuns mais vendidos nos EUA (900 semanas). A ideia do álbum veio a partir da percepção do Roger Waters de que a sociedade britânica era muito fria e ambiciosa, o que “estrangulava” pessoas mais sensíveis e que não se encaixavam nessa ordem. Essa percepção do Roger veio muito de uma experiência pessoal que teve com Syd Barrett, que foi um dos fundadores da banda, mas que sucumbiu a loucura por conta do abuso de drogas e do rápido estrelato, e que posteriormente acabou morrendo.
Com base nisso, logo na primeira faixa (Speak to Me) são apresentados os elementos em que o disco se baseará. Nela conseguimos escutar o relógio que está presente em Time, o som da caixa registradora de Money, os vocais de The Great Gig in the Sky, o helicóptero de On The Run e a risada do louco de Brain Damage. Na minha percepção todos esses elementos têm algo em comum, vejo que eles representam a saga da vida humana moderna. Todos esses elementos representam algum estágio da nossa jornada. Por ser um tema tão sensível, cada pessoa extrai a própria interpretação. Por isso que The Dark Side of The Moon é um álbum que você não apenas escuta, você aprecia. Não é o tipo de música que conseguimos compreender completamente se apenas escutarmos sem pretensão, pois ela exige uma interpretação muito particular de cada música. Isso pode ser notado nos shows da banda, onde o público se comporta como se estivesse em um espetáculo, sem muita euforia, prestando muita atenção em cada elemento. Não tem como você escutar Time atentamente e não refletir sobre sua vida, sobre a relevância de fazer coisas memoráveis enquanto ainda é jovem, saudável e aparentemente tem muito tempo de vida pela frente. Talvez a pandemia de Covid-19 tenha acentuado essa reflexão.
“You are young and life is long and there is time to kill today.
And then one day you find ten years have got behind you.
No one told you when to run, you missed the starting gun.”
“Você é jovem e a vida é longa e hoje há tempo para desperdiçar.
Aí um dia você descobre que dez anos se passaram.
Ninguém disse quando era para correr, você perdeu a largada.”
Vou te dar algumas sugestões pós-texto. A primeira delas, é claro, é escutar o álbum completo, refletindo e dando a sua própria interpretação sobre cada elemento – e não esquece de comentar aqui no texto ou nas nossas redes sociais sua visão. A segunda é assistir a esse vídeo de idosos escutando as músicas do Pink Floyd e as suas reações emocionadas. Minha terceira sugestão, mas não menos importante, é pesquisar sobre a teoria que diz que, se você tocar simultaneamente o The Dark Side of the Moon e o filme O Mágico de OZ de 1939, há uma forte correspondência de eventos, o que chamam de “The Dark Side of Oz”. Um canal do Youtube inclusive nos fez o favor de juntá-los, o que você pode conferir aqui, além da página na Wikipédia que demonstra as relações.
Ah, vale a pena conferir também o canal no Youtube Polyphonic, que disseca vários álbuns e artistas com uma riqueza de detalhes impressionante, e que inclusive tem uma série incrível sobre o The Dark Side of The Moon.
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