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Se o que você procura é uma história aconchegante, leve e sensível para passar algumas horinhas em boa companhia, Heartstopper é a resposta.
Originalmente uma webcomic e graphic novel criada por Alice Oseman, que também é produtora executiva e roteirista da adaptação, Heartstopper é uma história de amadurecimento. Também é uma comédia jovem, um romance fofo e o dia a dia de um grupo de amigos incrível. Mas o amadurecimento é o principal.
Tudo começa quando a nova dupla de Charlie Spring (Joe Locke) na aula é Nick Nelson (Kit Connor), astro do time de rúgbi da escola exclusiva para meninos onde os dois estudam. Charlie é inteligente, muito tímido e leal, mas foi alvo de bullying por ser gay. No momento em que a história começa, ele se encontra secretamente com Ben, que também faz parte do grupo dos atletas, mas finge que não o conhece quando está perto dos outros. Charlie pede desculpas com frequência, não percebe o próprio valor e sempre segue os termos dos outros. É fácil se reconhecer nele.
Já Nick, além de atleta popular, é uma pessoa extremamente atenciosa. Um golden retriever humano. Mas ele seguia vivendo sem questionar muitas coisas, pois sempre foi acolhido e aceito como era. E, a partir do momento em que faz amizade com Charlie, começa a questionar tudo: desde a postura tóxica dos amigos até sua própria sexualidade.
Tao Xu (William Gao), Isaac Henderson (Tobie Donovan) e Elle Argent (Yasmin Finney) são os melhores amigos de Charlie, com quem ele convive diariamente. Tao é um cinéfilo assumido, defende as pessoas que ama e fica ao lado delas acima de tudo, mas às vezes pode ser difícil de lidar. Isso se intensifica quando ele sente mais medo de perder essas pessoas — particularmente depois de Elle passar a estudar na escola exclusiva para garotas e de Charlie começar a se aproximar de Nick. Elle é uma garota trans, foi alvo do bullying dos colegas antes de Charlie e agora precisa aprender a conviver em um círculo totalmente novo ao mudar de escola. E Isaac é bem introvertido e vive escondido atrás de um livro, mas não tem um arco muito aprofundado nesta primeira temporada. Ele também é o único personagem do grupinho mais próximo que não existe nos quadrinhos originais de Heartstopper.
Já Nick começa a perceber que não gosta tanto assim de seus amigos. A maior parte dos colegas atletas não faz questão de ser agradável, tendo como passatempo favorito atormentar Charlie, Tao e qualquer um que seja visto como “mais fraco” ou diferente. Fica nítido até para a mãe do Nick como a mudança de companhia faz bem e o deixa mais leve. Imogen Heaney (Rhea Norwood) é a mais legal desse núcleo e não esconde seu interesse em Nick, mas esse interesse não é correspondido, pois os olhos dele já estão voltados para o Charlie.
Uma das personagens mais importantes desse começo da história é Tara Jones (Corinna Brown), ligada aos protagonistas por ser a primeira amiga de Elle na nova escola e por ter sido o primeiro beijo de Nick, aos treze anos. Especificamente, esse evento é importante para os dois entenderem suas identidades. Para Nick, o fato de ter gostado dela não foi invalidado quando ele começou a gostar de Charlie. Para a própria Tara, aquele beijo foi a prova de que ela era mesmo lésbica — aliás, sua namorada, Darcy Olsson (Kizzy Edgell), também estuda na mesma escola e se torna parte do grupo de amigos.
Talvez o principal objetivo desse primeiro arco de Heartstopper seja explorar como lidar com mudanças. No caso de Nick, descobrir e aceitar sua própria identidade enquanto bissexual; no caso de Charlie, deixar para trás um caso tóxico e perceber que é digno de um relacionamento saudável. Elle literalmente mudou de uma escola “para garotos” para uma escola “para garotas”. Já Tao, que tem dificuldades para lidar com qualquer mudança, vê seus amigos mais próximos cercados delas.
E faz sentido. A vida muda o tempo inteiro e é geralmente na adolescência que isso começa a acontecer. Mas Heartstopper não é uma série ultradramática ou deprimente — é bem leve, otimista e acolhedora. É perceptível como foi feita com respeito e amor ao material original e muita sensibilidade em cada detalhe. Acho que precisamos disso. Acho muito interessante que a próxima geração de jovens bissexuais, gays, lésbicas, trans, assexuais, arromânticos e LGBTQIA+ em geral possa crescer com algo assim tão acessível na mídia. Os cis e héteros também, mas especialmente os que não fazem parte desses grupos mais privilegiados. Todo o sucesso que a série já está fazendo é merecido e um bom sinal.
Heartstopper parece real, mas de um jeito bom. Os personagens parecem adolescentes de verdade. Os dilemas são dilemas reais de pessoas LGBTQIA+. Os amigos e parentes são presentes e acolhedores. Os erros são realistas. E essa primeira temporada, em especial, fala de descobertas e identidade e mostra o impacto positivo que as pessoas certas podem ter na nossa vida.
Nos núcleos familiares, por exemplo, a irmã do Charlie não poupa comentários ácidos e brincadeirinhas, mas se preocupa com ele e o acolhe, e a mãe do Nick é presente e parceira e se importa que o filho seja feliz vivendo sua verdade. Vivemos longos anos de séries adolescentes onde os adultos e irmãos mais velhos não existiam, não se importavam ou só apareciam para dificultar as coisas. É bom finalmente ter alguns exemplos positivos que se pareçam mais com nós mesmos.
Todos os oito episódios da primeira temporada de Heartstopper, com duração média de 25 minutos cada um, foram escritos por Alice Oseman e dirigidos por Euros Lyn. Eles estão disponíveis com legendas e dublagem em português na Netflix.
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