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A fama de Sh**ting Stars já é contraditória. Apesar de ter sido um dos dramas mais populares e queridos da temporada, também está entre os que receberam mais críticas negativas já em sua primeira semana — e, se me perguntar, as duas coisas foram justas.
Gong Tae-seong (Kim Young-dae), o maior ator do momento, está prestes a voltar para a Coreia após um ano de voluntariado em um país da África. Oh Han-byeol (Lee Sung-kyung) é a gerente da equipe de Relações Públicas da Starforce, agência que representa o ator. Os dois têm uma boa parceria no trabalho, mas não se dão muito bem e vivem brigando — Han-byeol parece, inclusive, ser a única pessoa imune ao charme de Tae-seong, o queridinho do país. E o retorno dele, muito provavelmente, significa o fim da paz dela. Ao longo do drama, vamos descobrindo bem o porquê disso.
A história acompanha o dia a dia dessa agência e os bastidores do mundo do entretenimento por várias frentes. Além dos próprios atores, como Tae-seong, e de quem trabalha limpando a reputação deles, como Han-byeol, alguns dos personagens de mais destaque são empresários, repórteres, advogados e outros que trabalham nos bastidores. Sh**ting Stars faz questão de mostrar os perrengues, as noites maldormidas, as desavenças, e os baldes de café necessários para passar por isso. Faz questão de mostrar como o trabalho em equipe é importante e como a vida sob os holofotes é, também, a vida sob uma lupa. Como cada passo que se dá é delicado. Poderia, até, ter ido ainda mais fundo nesses assuntos.
O título do drama, Sh**ting Stars, é escrito com asteriscos mesmo, indicando um jogo de palavras. Alguns fãs que falam coreano explicam melhor essa questão, como a Paroma do Dramas Over Flowers (em inglês), mas vou resumir um pouquinho aqui por que ele funciona. A ideia mais óbvia é que o título seja lido como “shooting stars”, que significa “estrelas cadentes”, se referindo ao corpo celeste. Mas ele também pode ser lido como “shitting stars”, que, agora se referindo a celebridades, seria algo na linha de “estrelas fazendo merda”. Sugiro humildemente “estrelas cagantes”.
E isso é proposital. O título original, 별똥별, que em tradução literal é “estrela cadente”, também vem de uma frase em coreano, “별들의 똥을 치우는 별별 사람들”, que quer dizer “limpar as cagadas das celebridades”. Inclusive, o “똥” no título realmente significa “merda”. Essa conotação foi mantida no título internacional com os asteriscos.
Uma questão que me incomodou um pouco foi o “turismo de caridade” no continente africano e essa fetichização da pobreza muitas vezes associada a ele. Tae-seong passa um ano por lá, mas nunca sabemos qual é o país específico, por exemplo, como se a África fosse uma coisa só. Além disso, todas as cenas dele nesse tempo têm um filtro amarelado, árido, aquele mesmo que filmes estadunidenses costumam usar para representar lugares “estrangeiros” e subdesenvolvidos. Aqui também o local é extremamente pobre, tanto que a comunidade precisa da ajuda do salvador vindo de um país desenvolvido para ter abastecimento de água. É uma abordagem bem rasa, problemática e ultrapassada, que felizmente ocupa pouco tempo do drama, mas causa uma má primeira impressão.
E a escolha dessa “África” genérica seria totalmente dispensável pelo contexto. Nesse um ano, Tae-seong poderia estar em qualquer lugar do mundo e ainda faria sentido, pois seu objetivo era fugir. Um dos motivos da escolha do local foi justamente causar uma boa impressão por ser um turismo “humanitário” — o que poderia ter sido uma crítica ácida com outra abordagem, mas acabou só reforçando ideias problemáticas.
Outro momento que não pegou bem, também no começo, foi uma provável referência que o drama fez a um acontecimento de 2008. Na época, um cantor de 60 anos foi alvo de rumores envolvendo um gângster, a Yakuza, e castração. Ele não gostou nada do que se dizia por aí e, em rede nacional, ameaçou mostrar a todos que, bem, não tinha sido castrado. Em Sh**ting Stars, um erro de digitação da equipe de RP faz com que o protagonista seja alvo do mesmo tipo de rumor. Bravo, Tae-seong vai atrás de Han-byeol e também ameaça se expor. É provável que seja mesmo só uma referência, até porque ele, assim como o cantor de 2008, acaba não se expondo. Mas não é uma ideia muito boa começar um drama com uma cena em que o seu protagonista parece um assediador, né?
No geral, porém, Sh**ting Stars tem mais pontos positivos que negativos. Não demora para a história e os personagens conquistarem o espectador, e incômodos grosseiros como esses dois primeiros não vão muito longe. Aliás, muitas outras coisas acontecem. Famílias disfuncionais, antifãs, stalkers, doenças graves, meia dúzia de romances secretos entre colegas de trabalho, mal-entendidos envolvendo vizinhos, amizades improváveis, maternidade, vingança, saúde mental após a fama, referências a outros dramas… tem de tudo. E quase sempre de uma forma mais cômica, brincando com as situações e tentando torná-las mais leves.
Se o que você pensou foi que não é possível executar tantas coisas em 16 episódios desenvolvendo todas elas de forma satisfatória, talvez tenha razão. Embora o saldo seja positivo, alguns desses arcos começam e terminam muito de repente, com soluções mágicas, e alguns são muito mais interessantes que outros. Sem entrar em spoilers, a parte relacionada à saúde mental e à fama lembra muito a abordagem de True Beauty para o assunto, mas bem menos desenvolvida. Seria até melhor se tivesse recebido mais tempo de tela.
A questão da maternidade, abordada muito brevemente em duas frentes, foi uma das minhas favoritas. Na Coreia, certos aspectos das vidas pessoais de celebridades podem afetar suas vidas profissionais de forma muito mais brusca que aqui, e um deles é a maternidade. Se para pessoas que não são expostas aos holofotes essa já é uma questão delicada (vide Romance is a Bonus Book), nesse meio tudo é potencializado. Ou você almeja o sucesso profissional, ou você deseja ser mãe — não é possível conquistar as duas coisas em alguma medida. Mas algo no fim do drama talvez seja um indicativo de mudança. Ou pelo menos foi assim que interpretei.
Os personagens secundários de Sh**ting Stars também roubam a cena em relação ao casal principal, que, apesar de ser divertido, é um pouco infantil. Entre esses personagens, talvez o maior destaque seja o advogado Do Su-hyeok (Lee Jung-shin), que inicialmente mostra interesse em Han-byeol, mas passa a realmente brilhar na história depois de ser rejeitado. Sua dinâmica com Tae-seong é impecável, assim como o casal que se forma mais perto do fim do drama. E ele parece o tipo de amigo que eu gostaria de ter: sabe fazer um bom latte e gosta de jogos de mesa.
Aliás, as relações de amizade, inclusive entre colegas de trabalho, estão entre os pontos mais altos do drama. É aí que Sh**ting Stars brilha de verdade. Não existe um grande esquema do mal, nem um personagem tentando puxar o tapete do outro, salvo em um ou outro arco específico. São só pessoas existindo e convivendo da melhor forma que podem.
Sh**ting Stars foi transmitido pela tvN entre 22 de abril e 11 de junho. Os 16 episódios estão disponíveis no Viki.
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