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Ambos os aspectos da carreira artística de Jennifer Lopez, como estrela de cinema e ícone da música pop, vêm caminhando em paralelo durante 30 anos, com altos e baixos nem sempre simultâneos. Em Case Comigo (Marry Me, 2022), J-Lo mostra ao público que tem plena consciência de sua história e, além disso, também sabe seu próprio valor como estrela dentro da cultura popular. A vida de Kat Valdez, a protagonista cantora de Case Comigo, se confunde de forma proposital com a de Jennifer Lopez e faz com que nos sintamos mais próximos da atriz durante as quase duas horas de filme. É como se estivéssemos vendo algo além dos posts de Instagram e das notícias de tabloide, não só da vida de Kat como da própria J-Lo.
Prestes a protagonizar o maior ato de sua carreira, a cantora Kat Valdez vai se casar com o noivo Bastian (Maluma, ótimo no que sabe fazer — estar em um palco cantando —, mas mais ou menos como ator iniciante), que inspirou seu último álbum. O casamento vai acontecer em um show onde o casal também vai cantar a música Marry Me, um grande hit lançado justamente para a ocasião. Segundos antes do grande número, já entrando no palco, Kat descobre que Bastian a traiu na noite anterior com sua assistente. Sem rumo diante de uma plateia em números de milhares, Kat pede que acendam as luzes da casa sem saber o que fazer a seguir. É aí que vê na multidão um homem segurando uma placa com os dizeres “Case Comigo”. É Charlie Gilbert (Owen Wilson), professor de matemática e apenas um cara normal, divorciado, com uma filha pré-adolescente que tem vergonha dele. Ao aceitar o convite desesperado da melhor amiga Parker (Sarah Silverman) para não desperdiçar ingressos que seriam da ex dela e ao mesmo tempo parecer “legal” ao levar a filha pré-adolescente a um show, Charlie acaba por subir ao palco a pedido de Kat, que se casa com ele ali mesmo.
É uma premissa um tanto absurda, mas que tem ramificações calcadas na realidade: Kat e Charlie começam a se conhecer, passar tempo juntos, e descobrem que, apesar de viverem em mundos diferentes, gostam da companhia um do outro. Divórcio e erros passados são temas comuns e constantes em conversas dos dois, e o convívio é mostrado tão claramente que é possível entender de onde poderia surgir um relacionamento duradouro entre Charlie e Kat. Jennifer Lopez e Owen Wilson, dois atores maduros, entendem perfeitamente seus personagens e o que é pedido deles como atuação em relação ao filme. A química dos dois é tão convincente que é possível perguntar se já haviam atuado antes como par romântico (não haviam).
Apesar de os créditos mostrarem que o filme é baseado numa graphic novel, na verdade Marry Me é uma webcomic escrita por Bobby Crosby e ilustrada por Remy “Eisu” Mokhtar. Há anos as séries coreanas vem enxergando o potencial de comédia romântica de webcomics e webtoons criados por pessoas semianônimas na internet; era apenas questão de tempo os filmes estadunidenses irem também buscar inspiração nesse tipo de material, ainda mais com a volta crescente do gênero. As mudanças entre quadrinho e filme elevam a história de Case Comigo a uma qualidade máxima, e Jennifer Lopez traz toda sua bagagem a Kat. Se na webcomic Stasia (a versão original da protagonista) é uma jovem popstar impulsiva de 24 anos, Kat Valdez por sua vez é uma mulher com uma grande carreira consolidada e com uma lista de “erros” em sua vida amorosa, um passado já vivido, e a vontade de não continuar a cometer esses mesmos erros. A mudança de idade é exatamente o que traz uma perspectiva e representação na personagem totalmente diferentes de sua concepção original.
A direção de Kat Coiro é impecável ao conseguir não deixar o filme cômico demais, mas ainda luta com uma identidade visual própria, o que faz parecer que o filme bebe demais das fontes das comédias românticas da década passada, ou mesmo dos anos 2000. Não tira a qualidade da obra, mas também não seria possível distinguir em que ano se passa se não fosse pelo roteiro muito bem marcado na era das redes sociais. As referências musicais são feitas de forma respeitosa o bastante para parecerem referências e não sátiras, o que encaixa no balanço perfeito entre comédia e romance de Case Comigo. Kat Valdez representa, acima de J-Lo, outras grandes estrelas pop que também têm vidas amorosas conturbadas e sempre em evidência, como Madonna e Lady Gaga. E as músicas em si têm tudo para virarem hits também no mundo real, nos lembrando que Jennifer Lopez é sim uma grande cantora.
O grande deslize de Case Comigo é sua falta de representação LGBTQIA+, um quesito cada vez mais imprescindível, principalmente em obras de comédia romântica. Fazer os únicos dois personagens LGBTQIA+ se beijarem sem estarem atraídos um pelo outro, numa cena completamente desnecessária, deixa uma mancha no que poderia ter sido um filme perfeito.
É Lopez quem faz Case Comigo sair de “apenas mais um filme de comédia romântica” para o lugar de representante do gênero. Se fosse qualquer outra atriz, talvez a obra não fosse tão carismática quanto é, já que não apresenta nenhuma característica tão diferente de tantos outros filmes já existentes. São J-Lo e suas habilidades, tanto de atuação quanto de canto e presença de palco, que trazem todas as estrelas a Case Comigo.
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