Como falar sobre Linkin Park e não sentir saudades? Nossa, como eram bons os tempos de MTV. Ano após ano estávamos no sofá acompanhando os prêmios do Video Music Awards (VMA), e me recordo que quase sempre LP levava um deles. É bem provável que essa banda também tenha sido marcante para você em algum momento da vida.
No entanto, embora sua consolidação no mainstream tenha se firmado logo nos dois ou três primeiros álbuns, com Numb, In The End, Faint, Papercut e outras, eles não pararam de evoluir e, para muitos, as mudanças foram bem bruscas. O maior “choque” veio no A Thousand Suns, disco lançado em 2010 com uma proposta totalmente inovadora, acompanhado de muitas críticas negativas até mesmo da parte dos fãs.
O Nu Metal e o Rap Metal ainda estavam muito presentes nos corações deles, e talvez após o lançamento do Minutes to Midnight você provavelmente ficou naquele clima de “será que no próximo eles vão fazer algo parecido com o que era antes?”. Ao invés disso, na real, eles espantaram de vez o fantasma do Hybrid Theory e suas peculiaridades. Mas não se engane: mesmo com toda variedade sonora, Linkin Park jamais decepcionou, e é a partir de agora que vamos relembrar um dos discos mais “conceituais” do Rock, na minha humilde opinião.
A Thousand Suns (2010)
Lançado no dia 14 de setembro de 2010, o álbum conta com 15 faixas gravadas em estúdio pela Warner Bros, totalizando 48 minutos. Esse disco fala de temas como guerra, caos e morte, mas também trata discretamente de virtudes como a justiça, vida e compaixão. É nítido que as letras se baseiam numa narrativa voltada para o fim do mundo. Uma atitude ousada, cheia de faixas de transição e canções com Hip Hop, Rock Eletrônico e Industrial. Uma das principais referências que encontramos é a citação do Físico Nuclear Robert Oppenheimer, projetista da bomba atômica que destruiu Hiroxima e Nagazaki (“Agora, eu me tornei a morte, a destruidora de mundos.”), comentário literalmente reproduzido na segunda faixa The Radiance, que acaba traçando todo o trajeto e o conceito/sentido da obra.
O que contribuiu ainda mais com a cena caótica foram os instrumentos incomuns utilizados pelos próprios integrantes, como Brad tocando instrumentos eletrônicos e percussivos ao invés de guitarra, categorizando ainda mais a paisagem musical ali proposta. Outro detalhe que eu achei simplesmente genial é que se você ouvir as músicas na ordem e sem pular, verá que elas se conectam entre si, e as faixas de transição acabam fazendo alusão a canções posteriores, como em The Requiem fazendo menção a The Catalyst. Uma das que mais curto é Burning in the Skies, melodia totalmente crescente, com guitarra e baixo bem presentes, as duas vozes (Chester e Mike) se completam e, por incrível que pareça, em alguns trechos parecem ser a mesma pessoa. A letra soa como uma lamentação e uma meditação nas consequências pós traumáticas de um grande desastre. Como se fosse uma distopia de algum pós guerra, alerta para questões que precisam ser resolvidas urgentemente. A minha favorita é Waiting For The End, que fala do fim como sendo algo pelo qual estamos despretensiosamente esperando, ou criando dentro de nós, seja por causa de uma revolta com o sistema ou por uma simples decepção amorosa. Essa música te faz parar e refletir se você está, de fato, só esperando pelo fim/por aquela pessoa ou fazendo algo a respeito.
Confesso que foi um pouco estranho ouvir Wretches and Kings pela primeira vez. É um som agressivo e energético, traz um pouco do Hip-Hop e não tem como negar a influência do Rage Against The Machine. Mas com certeza é algo que, na época, não se esperava do Linkin Park que conhecíamos. The Catalyst é poesia em sua plenitude. Uma das maiores músicas já compostas pelo Linkin Park, ela se inicia em forma de prece, e sua temática aborda um certo clamor de misericórdia pelas atitudes humanas. É a canção que mais define esse álbum. Como se fosse um “AMÉM” por tudo que foi falado ali.
É mais que necessário entender que nem tudo sai como planejado e que todo artista sente a necessidade de mudar e explorar diferentes universos em sua capacidade criativa, principalmente no vasto mundo da música e nem sempre dá pra seguir o mesmo molde. Artistas operam com talento e criatividade, e muitas vezes essas virtudes levam a estilos totalmente diferentes. A Thousand Suns é um trabalho para ser contemplado e compreendido, pois aborda temas que precisam ser discutidos.
Para Mike, vocalista e cofundador, o álbum A Thousand Suns foi o trabalho mais maduro da banda, necessário para a evolução do grupo e para o crescimento pessoal. Chester, também vocalista, comentou que foi um som que eles jamais imaginavam ter criado. Então fica claro que, acima de qualquer polêmica, o Linkin Park apenas disse o que precisava ser dito, e se você não gostava ou não entendia na época, talvez passe a ter outra visão agora. Ou melhor, outra noção da dimensão e do peso da mensagem que esse álbum carrega para o mundo.
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