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Em pleno 2022, uma obra sobre heavy metal é lançada com boa relevância e pela maior plataforma de streaming do mundo. Metal Lords vem das lembranças e nostalgia do roteirista D.B. Weiss, que viveu uma juventude headbanger e quis transportar sua adolescência para as telas. O filme contou até com o apoio do Tom Morello (guitarrista do Rage Against the Machine e Audioslave) para a produção e composição da trilha. Quem vivenciou o período metaleiro na adolescência irá se identificar automaticamente com todos os clichês do estilo e os estereótipos adolescentes, e talvez sentirá uma vergonha alheia nostálgica de si mesmo. Uma boa comédia romântica escolar com bastante distorção.
A história de Metal Lords é simples: Kevin é um jovem nerd de uma escola de ensino médio dos Estados Unidos que tem como melhor amigo Hunter, o clássico metaleiro “tr00zão” do rolê. Hunter arrasta Kevin para o mundo do metal e quer criar uma banda para o Duelo de Bandas do colégio, com o objetivo de destronar o marasmo do pop e trazer o metal de volta aos holofotes e à glória. Para essa jornada existem dois obstáculos: o primeiro é que Kevin precisa aprender bateria e tocar metal e o segundo é que eles precisam de um baixista. Nesse meio tempo, Kevin encontra Emily, uma violoncelista escocesa recém-chegada aos Estados Unidos que é uma ótima musicista, mas o fato de ela ser uma menina e não ser metaleira é algo que incomoda Hunter.
A trama é simples como toda comédia romântica deve ser. Os conflitos são claros. Kevin se apaixona por Emily e isso gera um choque em Hunter, que abusa de seus ciúmes e misoginia para impedir uma aproximação com Emily. Além disso, enquanto Hunter se afasta de todos com seu purismo sobre o que é o metal e a superioridade do estilo, Kevin é mais flexível e se relaciona bem com todo mundo, até mesmo com os rivais do pop do colégio. Isso gera mais acessos de ciúmes e infantilidade em Hunter.
O filme aborda os primeiros temas de maneira leve. O primeiro é a misoginia e homofobia dentro do metal e a questão ultra masculinista que ronda o meio até hoje, apesar de ter havido certos avanços. Há uma cena em que Emily questiona Hunter sobre esse tema, e é hilária, pois a câmera muda para mostrar fotos do Manowar sem camisa e besuntados em óleos, o Rob Halford (assumidamente gay) com todo seu couro e a capa de um disco que é um pênis de goblin com piercing. A cara de desconfortável de Hunter sobre sua hipocrisia é impagável e tem uma “correção de rumos” genial ao final. E especialmente pela falta de memória a todas que seriam as “rainhas” do metal e papel feminino no estilo. À primeira vista, muitos só lembram das The Runaways, mas o gênero deve muito às mulheres, incluindo mais recentemente nomes como: Angela Gossow, Alissa White-Gluz, Courtney LePlante, Tarja Turunen e Floor Jansen. É um apagamento muitas vezes proposital, mas que prejudica o próprio estilo e a riqueza do movimento.
Outro tema abordado em Metal Lords é a questão de pessoas neuroatípicas em um momento escolar e como a socialização delas pode ser facilitada ou dificultada a depender de quem está junto. Emily apresenta uma condição do tipo e necessita de seus remédios para demonstrar o equilíbrio demandado pelo mundo exterior. O que dificultava seu relacionamento com os outros agora a aproxima de Kevin, que a inclui e entende sua condição. As cenas dos dois são excelentes, um tipo de amor adolescente e puro que aquece o coração. Ao mesmo tempo, Hunter representa o outro lado: a intolerância, exclusão e briga. Porém, vale destacar que o bullying feito por Hunter não tem a ver com a condição, mas sim com puro ciúme.
Por fim, a maior discussão de todas é sobre o Metal. Uma bolha que contém pessoas como Hunter, puristas e excludentes, e outras como Kevin, que buscam a inclusão de todos nesse estilo tão rico que permite a união. E essa é a mensagem: o Metal é o gênero que traz a voz dos excluídos e que gritam para se expressar. É a união daqueles que estão afastados do centro da sociedade e conseguem criar algo único. Essa evolução é representada no próprio Hunter, que cresce nessa compreensão e tem um excelente arco narrativo. Ao mesmo tempo em que se sentia excluído, queria excluir os “mais fracos”. A mudança é gradativa e muito bem trabalhada, dando um recado de que o Metal só sobrevive por conta da inclusão, e não do purismo.
As atuações do elenco principal são muito boas. Jaden Martell tem a cara de nerd perfeita para fazer o Kevin, e já mostrou seu talento em IT: A coisa. Isis Hainsworth faz uma excelente Emily e nos traz todas emoções nos momentos corretos. Agora, o astro é Adrian Greensmith como Hunter. É o primeiro trabalho em vídeo do ator e, mesmo que tenhamos ódio do personagem na maior parte do filme, sua interpretação tem um pedaço de dor e motivação que faz com que você mantenha certa simpatia. Hunter é atormentado pelo afastamento da mãe e de um pai ausente e mulherengo, e isso explica parte de sua misoginia. A atuação e gradientes que Greensmith traz para o personagem impedem que ele seja insuportável. Aliás, Greensmith realmente toca as guitarras quando ele interpreta, já que era guitarrista de jazz antes. É chocante imaginá-lo como um jazz boy quando o vemos como Hunter.
Metal Lords nos transporta para uma nostalgia gigantesca, especialmente para os metaleiros de mais de 25 anos. Talvez seja uma boa porta de entrada para apresentar o estilo para novas gerações. O filme conta com ótimas atuações por parte de seus protagonistas, mas tem coadjuvantes um pouco mais fracos. Além disso, uma direção correta, mas não sem brilho. Entretanto, nada disso atrapalha o brilho de uma comédia romântica leve que agradará a todos. E, sobre o metal, a mensagem é clara:
Eles que fiquem com a modinha. A moda é passageira. Nós somos para sempre.
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