O famoso escritor checo Rainer Maria Rilke recebe uma carta de Franz Kappus, um jovem poeta inseguro, pedindo-lhe conselhos sobre o processo de escrita. Esse pequeno pedido desencadeia uma correspondência durante anos, em que Rilke escreve sobre a vida e todas suas ramificações, que são a verdadeira e bela poesia.
Cartas a um Jovem Poeta nos presenteia, em 10 cartas, com visões potentes de Rilke sobre o ser e suas controvérsias. Sobre a solidão e o amor, e como isso tudo se interliga no ato poético da escrita — esta que para ele deve ser feita apenas após um mergulho em si mesmo.
O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever?
A partir desse pequeno trecho — retirado da primeira carta de Rilke —, podemos pensar erroneamente que para ler esses escritos se faz necessário ser um aspirante a escritor. Todavia, me arrisco a dizer que existe uma única necessidade para mergulhar-se nesse livro: ter sede de si.
No decorrer das Cartas a um Jovem Poeta somos apresentados ao ato potente e assustador de voltar-se para si mesmo. A solidão como um espaço de oportunidades, onde há um sofrimento que deve ser suportado para que haja o ganho das possibilidades que esse sentimento carrega em si. Banhados pelas águas fenomenológicas e existenciais, os pensamentos de Rilke são atemporais, mostrando a importância de olhar para dentro de si e partir justamente daí.
Não se deixe enganar em sua solidão só porque há algo no senhor que deseja sair dela. Justamente esse desejo o ajudará, caso o senhor o utilize com calma e ponderação, como um instrumento para estender sua solidão por um território mais vasto.
Essa pequena frase (em conjunto com todo o livro) foi lida quando ainda estávamos em quarentena, me causando a sensação de que Rilke estava respondendo minhas perguntas jamais verbalizadas, mas sentidas. Cartas a um Jovem Poeta me forçou — de modo nada gentil — a sair do casulo protetor e encarar a solidão que me cerca.
Aventure-se também por essas cartas e permita que Rilke responda alguns dos seus possíveis questionamentos jamais verbalizados. Prometo que valerá bastante a pena.
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