Com uma história bastante fidedigna, o livro e filme Tudo e Todas as Coisas é mais uma obra de romance teen com um toque de drama. Isso gera a quase inevitável comparação com A Culpa é das Estrelas, A Cinco Passos de Você, Como Eu Era Antes de Você e mais alguns outros filmes, também inspirados em obras literárias, que contam a história de adolescentes ou jovens adultos apaixonados em que um ou os dois são diagnosticados com uma grave doença.
Madeline Whittier é uma jovem de 16 anos curiosa, colecionadora de hobbies e apaixonada por livros, mas que vive presa em casa. Isso porque ela foi diagnosticada ainda bebê com IDCG (síndrome da imunodeficiência combinada grave), o que exige cuidados extremos, já que qualquer coisa pode causar um grave processo alérgico e ocasionar sua morte. Mesmo com suas limitações, ela não é uma protagonista triste ou sofrida: na verdade Madeline busca ao máximo “transformar limões em limonada” e sempre tem uma visão positiva da vida. Mesmo sem poder sair de casa, Maddy acompanha atentamente tudo que acontece em sua vizinhança, ou tudo que ela pode vê das janelas. É assim que ela conhece Olly, filho do casal que acabou de se mudar para a casa ao lado. Mesmo à distância eles começam uma amizade que aos poucos evolui graças à atração mútua.
O livro Tudo e Todas as Coisas, o primeiro da autora Nicola Yoon, publicado originalmente em 2015, tem uma narrativa singular e envolvente. Mesmo sendo um romance sem tantas reviravoltas, a história é muito bem desenvolvida ao longo dos capítulos, contada em primeira pessoa e com o excesso positivo de personalidade da protagonista ao longo da obra. O conjunto desses fatores faz com que o livro seja fácil de ser “devorado” em pouco tempo — no meu caso em uma tarde.
Mesmo com todas as limitações que a protagonista vive, de forma geral Tudo e Todas as Coisas é um livro positivo, leve. Inclusive, mesmo que a história possa ser comparada com A culpa é das estrelas, de John Green, o estilo de escrita é muito mais próximo de Meg Cabot, autora das séries A Mediadora e O Diário da Princesa e de muitos outros livros amados. Isso foi algo que, particularmente, me agradou mais e deu uma nova visão para uma história que poderia ser bem triste e sombria.
Falando mais sobre os personagens, é muito interessante acompanhar como Madeline muda, descobre e amadurece conforme vive o relacionamento com Olly. Essa é sua primeira paixão — pelo menos a primeira fora dos livros, que são seus grandes companheiros —, o que, obviamente, faz com que ela enxergue suas emoções de uma forma diferente, com que ela busque sobre outros assuntos e com que sua bolha seja estourada. Como o livro é narrado apenas na visão da protagonista, acaba que pouco se sabe ou conhece sobre os efeitos que esse relacionamento causa em Olly, mas isso não faz com que ele seja um personagem raso.
O único personagem cujo desenvolvimento realmente senti falta foi a mãe de Madeline. Durante boa parte do livro ela aparece sem grandes destaques, mas nos últimos capítulos ela é uma peça fundamental e, nesse momento, a superficialidade incomoda e faz com que pontas fiquem soltas ao final do livro. Contudo, mesmo insatisfeita com a falta de respostas, tenho dúvidas se realmente iria ser positivo para a obra explanar mais sobre a história dela. Isso porque iria trazer um tom mais maduro e denso para um livro que em 90% do tempo é bem teen.
O filme foi lançado em 2017 e é uma daquelas adaptações bem semelhantes ao livro. Na verdade, são pouquíssimas e muito sutis as mudanças que foram feitas. Inclusive, o cuidado em se manter fiel a obra original também transparece na escolha dos atores, na cenografia e até mesmo nos detalhes da trilha sonora. Amandla Stenberg (Maddy) e Nick Robinson (Olly) fazem um par romântico adolescente fofo, a atuação de forma geral é boa e atende as expectativas de quem se apaixonou pela história no livro.
Apesar de ter pontos positivos, falta algo muito importante: a sensação de “estar lendo o diário de Madeline”. O livro não é escrito como um diário, mas a forma com que a autora compartilha as experiências da protagonista é algo tão íntimo que parece seu diário. E infelizmente a adaptação não conseguiu trazer essa sensação para o filme.
Por mais que a atuação seja boa e que tantos outros pontos sejam bem feitos, o que dá um tom tão diferente para Tudo e Todas as Coisas em comparação a outras obras que têm semelhanças é a forma como a protagonista enxerga seu mundo e esse compartilhamento tão íntimo de suas vivências. A falta disso faz com que o filme fique numa zona comum e clichê — o que não tem nada de errado, mas não faz jus ao livro.
Apesar de Tudo e Todas as Coisas ser bastante comparado a obras que também envolvem romance adolescente e alguma doença, ele não tem um tom triste. Muito pelo contrário: se fosse para fazer alguma comparação seria com histórias de comédias românticas mais leves e alegres, não só pelo final mas por toda a construção ao longo do livro e do filme. Sem sombra de dúvidas, esse é mais um exemplo de livro que é muito melhor do que o filme, e vale muito a pena a leitura. Quanto ao filme, ele é legal. Se você não foi muito de ler é uma boa opção, mas saiba que ele não consegue transmitir a história tão bem quanto o livro.
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