No começo deste mês entrou no catálogo da Netflix a série tailandesa #NãoMeJulgue (The Judgement), um drama que explora e retrata as nuances dos crimes sexuais e seus reflexos no psicológico e na vida das vítimas em meio a uma sociedade extremamente tradicional. Com 13 episódios, a série acompanha a trajetória da universitária Lookkaew ao ver sua vida tranquila transformada completamente após ser estuprada por uma pessoa de confiança e ter vídeos e fotos deste momento vazados através das redes sociais. Ao mesmo tempo em que precisa lidar com a violência sofrida, a jovem enfrenta a exclusão, o preconceito e o julgamento dos colegas, que a rotulam como vadia.
Este drama aborda uma temática bastante pesada através de diferentes perspectivas. Lookkaew não é a única a sofrer agressões sexuais. Ao longo da trama encontramos outros personagens que passam pelo mesmo tipo de violência – cada um de maneira diferente. É interessante perceber de que forma o contexto em que a pessoa vive influencia na forma como ela lida com o fato: há quem denuncie e decide lutar contra isso de frente, há quem prefere negar o acontecido para proteger a família e há quem sofre ao ponto de não encontrar mais uma saída. Independente do caminho tomado, o abuso tem consequências na vida de todos – passando desde a própria família não conseguir lidar com a vítima até o fato de a própria sociedade renegar, no mercado de trabalho, quem tenha um histórico “manchado”.
Um ponto forte de #NãoMeJulgue é o fato de que a série não apela para cenas de nudez explícitas nestes momentos da trama – um diferencial entre as séries que trabalham com esse tema. O telespectador já sente a angústia dos personagens, se indigna e sofre junto com eles, não sendo necessário acrescentar esses detalhes para causar comoção.
Uma outra questão levantada neste drama é relativa a limites. O estuprador de Lookkaew não entende que o que fez foi uma violência. Ele acredita simplesmente que foi uma “forma de demonstrar amor” – e não entende o porquê de a jovem querer manter distância e discutir tanto com ele sobre isso. É angustiante quando ele começa a perseguir a jovem, tentando restabelecer o antigo relacionamento que os dois tinham enquanto a garota não quer olhar na cara dele. Embora seja uma questão problemática, é interessante levantar este ponto: o que estamos ensinando, enquanto sociedade, aos garotos? O consentimento é a palavra-chave para um relacionamento saudável e a descoberta do estuprador de que o que ele fez foi errado, é um crime, pode ser também o caminho dos telespectadores que pensassem igual a ele entender o que de fato está acontecendo ali. O retrato do estuprador como uma pessoa normal ao invés do retrato comum de que ele precisa ser necessariamente uma pessoa má, sem consciência ou remorso ajuda na identificação dos jovens de situações em que eles podem ter sido possíveis abusadores, além de retirar o estigma de que “ah, uma pessoa legal nunca faria isso”.
Outro ponto interessante é a relação enteada-madrasta representada. Lookkaew ama bastante seu pai e demora a aceitar a madrasta em sua vida, sendo que esta falha de comunicação entre as duas faz com que a jovem sinta que a outra não lhe dá espaço o suficiente com seu pai, roubando-o dela e retirando seus direitos de filha. A aproximação das duas e a construção dos laços de amor depois de tanto conflito é algo bastante delicado que dá um toque especial em meio a todo o drama vivenciado pela personagem.
Um ponto negativo da série é a atuação de alguns personagens que deixa um pouco a desejar, em especial a de Lookkaew nos primeiros episódios. A história em si, no entanto, é tão envolvente que você acaba relevando essa questão, mantendo o foco apenas no que virá a seguir.
Por falar em personagens, em meio a todo esse drama de #NãoMeJulgue surge um garoto tímido que chama bastante a atenção: seu nome é Archa. Ele possui uma paixão secreta por Lookkaew e a relação dos dois vai se estreitando ao longo dos episódios. Embora desconfiado no início, quando descobre o que aconteceu com a jovem, ele se prontifica a apoiá-la enquanto todas as outras pessoas da faculdade viram as costas para ela. Para quem é fã de Riverdale, vai uma nota: é impossível olhar para o Archa em cena e não lembrar do nosso querido Jughead Jones!
Em uma sociedade onde a competição é estimulada, o falso moralismo impera e a relação das pessoas com rumores de redes sociais se dá de maneira doentia, #NãoMeJulgue aborda a hipocrisia dos indivíduos ao mesmo tempo que lida com um tema pesado, mas necessário. #NãoMeJulgue é um drama envolvente que te prende desde o início, culminando em um grande final impactante e angustiante. É definitivamente uma boa pedida, eu recomendo! Eu não sou muito fã de séries dramáticas, mas essa realmente chamou a minha atenção. Vale a pena dar uma chance, são apenas 13 episódios e a história está completa. Com certeza abre portas para muitas reflexões, se você estiver disposto a embarcar nessa.
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