Lançado em parceria com a CCXP em 2017 pela editora Intrínseca, Ordem Vermelha: Filhos da Degradação é o primeiro livro do universo escrito por Felipe Castilho com cocriação de Rodrigo Bastos Didier e Victor Hugo Sousa.
Traumatizado pelos eventos ocorridos no último Festival da Morte e marcado pela linha da servidão eterna desde criança para pagar a Dívida Familiar, vinte anos depois Aelian Oruz se vê novamente como expectador de uma nova edição do festival que mudará os rumos da sua vida e colocará tudo que ele e todo o povo de Untherak sempre acreditaram em dúvida.
É muito interessante que logo no prólogo do livro é apresentado todo o background do universo. O autor conta a criação desse mundo pelos seis deuses e descreve as raças que, a princípio, convivem pacificamente até que, por inveja da raça humana, todas as raças (anões, kaorshs, sinfos, gigantes e humanos) são condenadas e passam a servir eternamente à deusa Una, que é a fusão dos deuses, no único pedaço de terra habitável chamado Untherak e isolado por um muro que o cerca. Todo o mundo externo ao muro foi transformado num grande deserto que é conhecido como a Degradação.
Os primeiros capítulos mostram como aquelas pessoas estão encarando aquele mundo governado por Una e apresentam as duas personagens que vão conduzir a história: o humano Aelian e a kaorsh Raazi. À primeira vista as duas histórias não tem muito a ver, porém é o que eles têm em comum que os une e provoca um dos pontos de virada que dão um novo rumo para a trama, deixando a leitura mais rápida e emocionante. Até chegar no ponto de virada, que é no fim do primeiro ato, a leitura é um pouco monótona e um pouco confusa, não dá para entender direito o que está havendo e sem muitos acontecimentos impactantes.
Após o primeiro ato, o livro mantém um ritmo frenético com revelações que quebram muita coisa que foi construída e mantém essa constância de tensão por alguns capítulos. Porém há uma pequena queda no ritmo a partir do capítulo 17 que, embora ainda deixe a trama interessante, faz com que a velocidade da leitura caia.
A dualidade de sentimentos durante a leitura é muito estimulante: num primeiro momento, o sentimento é de desespero e desolação onde não dá para enxergar uma saída; em outro momento há uma ponta de esperança que é logo derrubada e no fim existe um misto entre esperança e desespero que atiça a curiosidade para o que virá pela frente.
Algumas coisas que incomodam são certas amizades iniciadas muito rapidamente entre personagens que ou não se conheciam ou possuíam fortes desavenças; e a formação de uma insurgência composta por personagens alheios um ao outro sem uma explicação de porque especificamente eles foram escolhidos para derrubar a tirania vigente.
A partir da queda no ritmo da trama, a curiosidade para o próximo volume diminui um pouco, pois já tinha acabado o frenesi das revelações e tensões iniciais, mas o epílogo aumentou essa curiosidade, porque deixa indícios de que ainda tem muitas reviravoltas para acontecer até a história chegar nesse ponto. Mas não fica claro se o próximo volume retomará do final do epílogo ou mostrará o que aconteceu nesse meio tempo, espero que seja a segunda opção, para saber a jornada dos personagens logo após o último capítulo.
Ordem Vermelha é um livro que se difere da literatura fantástica que costumo ler por abordar temas que não tinha visto antes de forma tão explícita, além de fazer várias referências à cultura brasileira, como folclore e capoeira, e até uma referência pontual à Branca de Neve.
Toda a situação retratada na obra me lembrou bastante o primeiro volume de Maze Runner, só que na era medieval e as personagens têm ciência da existência da Degradação do lado de lá do muro, que guarda muitos mistérios.
É notável uma certa semelhança do Festival da Morte com os Jogos Vorazes, visto que quem ganha o Festival da Morte ganha sua semiliberdade e passa a não precisar mais servir a deusa Una eternamente e, nos Jogos Vorazes, os ganhadores passam a ter uma nova vida morando na Vila dos Campeões.
Não dá para negar a influência da obra Mistborn, de Brandon Sanderson, na de Felipe Castilho. Todo o ambiente de dominação de Una e a conspiração para derrubá-la lembra muito a dominação do Senhor Soberano e o plano para derrubar o Império Final, entre outros elementos que também fazem referência à obra do Sanderson.
Eu comecei a ler esse livro meio que sem esperar nada. Nunca li nada do Felipe Castilho, mas, no geral, gostei muito da experiência e posso dizer que estou ansioso para o próximo.
Para quem gosta de uma literatura fantástica pós apocalíptica/distópica, vale muito a pena.
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