Da mesma forma que os humanos não conseguem nos ver ao lado deles, eles não percebem que a morte sempre está lá em suas vidas. Lembre-se da morte, nós estamos sempre ao seu lado.
(Ceifador Black, o coletor de almas)
A morte é uma temática bastante complexa de ser trabalhada, sendo considerada por muitos como um tabu. Deparar-se com a finitude da existência humana gera angústia, mexendo com os medos mais profundos do ser humano – em especial, o medo do desconhecido. E se conseguíssemos saber quando uma pessoa estivesse próxima de morrer? E se, além disso, tivéssemos a capacidade de saber exatamente de que forma isso aconteceria? Despertaríamos um complexo de super-herói onde tentaríamos fazer tudo ao nosso alcance para mudar a realidade, especialmente se tratando de pessoas queridas, ou teríamos maturidade o suficiente para deixar a vida seguir o seu fluxo? Seria essa habilidade, então, um dom ou uma maldição?
Partindo dessa premissa, o k-drama Black, produzido pela emissora OCN e distribuído pela Netflix, trabalha essa temática sobre uma perspectiva inovadora ao confrontar os protagonistas com as verdadeiras consequências de suas decisões e atitudes ao enfrentar a morte e interferir no ciclo natural da vida. O drama começa lento, fazendo com que o risco dos espectadores menos pacientes acabarem desistindo de acompanhá-lo exista, mas, uma vez que os ganchos vão se encaixando e a história se desenrola em uma série de plot twists impressionantes, os personagens vão nos cativando e envolvendo. A percepção sobre o drama muda completamente à medida que nos aprofundamos na trama, nos deixando ávidos para saber o que virá a seguir.
A história de Black gira em torno de Kang Ha Ram, uma jovem que possui a habilidade de prever a morte, e Black, o Ceifador de número 444 que possui o corpo de um detetive para ir em busca de seu parceiro que fugiu para o mundo dos humanos. Para Kang Ha Ram, a habilidade de ver as sombras da morte, como as chama, não passa de um fardo que a acompanha. Além da capacidade de ver, ao tocar nas sombras, Ha Ram tem um vislumbre sobre como a morte chegará para a pessoa, sendo estas sombras os Ceifadores que acompanham o humano até chegar o momento de coletar sua alma. Em relação aos ceifadores, o drama trabalha de forma interessante a existência desses seres considerando sua origem distribuída em dois tipos: os puros de sangue, criados para exercerem essa função, e os ex-humanos, pessoas que chegaram aos caminhos da morte através de suicídio. Ao longo do enredo, descobrimos uma assustadora realidade em relação aos ceifadores considerados puros de sangue.
No início do drama, Ha Ram convive com o peso de sua habilidade, um fardo que precisa carregar por ser considerado, por ela, como uma maldição. Para tentar fugir de suas visões, a protagonista está sempre usando óculos escuros que a impedem de enxergar as sombras da morte. As coisas começam a mudar quando conhece o detetive Han Moo-gang, que tenta convencê-la a utilizar seu poder para ajudar a salvar vidas. Quando os dois tomam a iniciativa para impedir que um acidente aconteça, as coisas saem do controle e o detetive acaba morrendo, atormentando Ha Ram, que se culpa pelo acontecido. Enquanto isso, Black, um Ceifador puro-sangue de elite, está à procura de seu companheiro desaparecido, um ex-humano que havia se tornado ceifador há pouco tempo. Seu parceiro deveria ter ido ao mundo humano coletar a alma de Han Moo-gang, mas se desviou e se escondeu dentro de um corpo vazio para continuar vivendo como alguém que ainda está vivo. Sobre essa situação, é importante perceber que os Ceifadores possuem essa habilidade de possuir um corpo vazio de alguém que acabou de falecer, mas fazer isso é proibido e aqueles que descumprirem essa regra serão punidos quando capturados. Além disso, também é proibido aos ceifadores mudar o destino dos humanos e, mais do que isso, será severamente punido aquele que matar um humano. Em relação à primeira proibição, como Black era responsável por sua dupl,a a punição pela infração cometida por seu parceiro também seria aplicada a ele e, para evitar que isso acontecesse, o Ceifador decidiu segui-lo ao mundo dos humanos, caçá-lo e trazê-lo de volta. Como Black não sabe quem seu companheiro está fingindo ser, ele decide que é uma boa ideia se utilizar do corpo de um detetive para procurá-lo, tendo mais chance, assim, de investigar seu paradeiro – dessa forma, Black entra no corpo de Han Moo-gang e começa sua busca no mundo humano.
A relação de Ha Ram e Black começa a ser construída e estreitada porque o Ceifador percebe que precisará da ajuda da jovem para descobrir onde seu parceiro está. Ha Ram, além de ver as sombras seguindo as pessoas, consegue ver as sombras dentro delas também, algo que Black não consegue fazer. Essa situação é novidade para Ha Ram e Black se aproveita disso para convencê-la de que precisam encontrar as pessoas com as sombras dentro delas para ajudá-las, tendo como verdadeiro objetivo encontrar e matar seu parceiro, enviando-o sem memórias para o outro mundo. Para esconder sua própria sombra de Ha Ram, Black passa a só utilizar roupas pretas porque ele descobre que, da mesma forma que os óculos escuros impedem a jovem de ver as sombras, roupas escuras também a impedem de enxergar a sombra que está dentro dele.
Os Ceifadores, antes de partirem ao mundo dos humanos, recebem uma capsula contendo seu número e, em seguida, a pessoa que morrerá e precisará ter sua alma coletada. Se um Ceifador não estiver por perto na hora da morte, a alma da pessoa ficará vagando sem destino, perdida, pelo mundo dos humanos. Quando adentrou o corpo de Han Moo-gang, Black levou sua cápsula com ele ao mundo dos humanos e a mesma indicou que a próxima alma a ser coletada por ele era a de Kang Ha Ram. Com a aproximação da relação entre os dois, Black começa a desenvolver sentimentos humanos e, junto com eles, o amor. Quando percebe que sua frieza e indiferença está dando lugar a sentimentos humanos, Black tenta fugir e não consegue sair do corpo do detetive, percebendo que está aprisionado. Ao entrar em um corpo vazio, os Ceifadores podem entrar e sair a hora que quiserem, então Black conta com a ajuda de dois amigos Ceifadores para tentar descobrir o que está acontecendo com ele. Sem escapatória, Black precisa aprender a lidar com essa nova realidade, aceitando suas emoções e passando por descobertas bastante divertidas. Além disso, também se preocupa com o futuro de Ha Ram, fazendo de tudo para impedir que seu destino aconteça, sem saber ao certo a situação que levará a jovem para o outro mundo.
Pela própria temática do k-drama estar diretamente envolvida com a morte, Black se mostra um seriado pesado, abordando questões referentes a estupro, prostituição de menores, suicídio e vingança, explorando a fundo a crueldade humana. Essa aura obscura se mostra presente especialmente nos últimos episódios, culminando em um final de partir o coração que leva às lágrimas qualquer um que tenha se proposto a acompanhar as aventuras de Black, demonstrando que, às vezes, o amor altruísta é o melhor caminho para a felicidade. Por conta dessa temática sombria, alívios cômicos são frequentes no drama para tirar um pouco o nosso foco e fazer com que a gente se divirta e sejamos cativados pelos personagens, além de acompanharmos seus crescimentos e torcermos pela felicidade deles.
Se você, leitor, está em busca de um drama que te faça sentir grandes emoções, que tenha personagens secundários bastante carismáticos e que apresente o desenvolvimento de uma história de amor de forma envolvente e bonita, acompanhando o desabrochar dos sentimentos em um rapaz frio, tendo o drama ao mesmo tempo um lado bonito e sombrio, com uma trama que te faz querer continuar assistindo um episódio atrás do outro, Black é definitivamente uma boa escolha. Saiba, no entanto, que nem todas as suas dúvidas serão respondidas ao final, mas entenda que é porque o roteiro foi escrito para que a história fosse contada em 20 episódios e não apenas 16, como exposto pela escritora aqui. Essa situação, no entanto, embora gere um pouquinho de frustração, não tira o encanto da série. Dessa forma, convido você a conhecer essa história de “um tolo Ceifador que se apaixonou por uma humana”, a experiência definitivamente vale a pena.
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