Atualmente, a sociedade está levando cada vez mais a sério os transtornos psicológicos existentes, como depressão, ansiedade, síndrome de Burnout, dentre outros. Contudo, nem sempre foi assim. Houve uma época em que, infelizmente, esse assunto não era tratado com a devida seriedade e relevância. Ainda assim, muitas obras de arte já abordaram a temática, cada uma a sua maneira, e, dentre elas, selecionei 3 obras nipônicas (2 filmes em animação e 1 seriado de animação) que retratam os transtornos psicológicos de forma extremamente interessante.
Em nenhum momento darei spoilers da trama. Revelarei, no máximo, quais dos mencionados transtornos estão presentes na obra. É importante destacar que o texto abaixo contém trechos e palavras que podem funcionar como gatilhos emocionais, por isso, caso não se sinta confortável, peço que interrompa a leitura. Todas as opiniões expostas abaixo são pessoais, sem cunho profissional na área.
Koe no Katachi (A Voz do Silêncio)
Koe no Katachi, ou A Voz do Silêncio, como foi traduzido no Brasil, começa com o jovem Ishida Shouya, ainda criança, e nos mostra como ele conheceu Nishimiya Shouko, recém-transferida para a escola. Ele não compreendia direito o motivo de ela ser tão quieta e calada, apesar de ela ter informado, quando apresentada, que utilizava aparelhos auditivos para conseguir ouvir algumas coisas, pois possuía perda auditiva congênita e, consequentemente, não conseguia falar, apenas se comunicar por escrito ou pela linguagem de sinais.
Por um bom tempo, ele praticou bullying com ela, chegando até a danificar seus aparelhos auditivos. Esse comportamento acarretou na saída de Shouko da escola, e a culpa pelo ocorrido foi atribuída a Shouya, que acabou ficando isolado dos colegas por boa parte do primário. Logo após, acompanhamos o protagonista em sua fase de adolescência, no ensino médio, e vemos os reflexos da sua ansiedade e depressão – ele, inconscientemente, não consegue olhar as pessoas nos olhos e nem sequer ouvi-las.
O filme é excelente, especialmente em razão da sua visão crítica sobre a forma com que a atividade escolar (ensino fundamental e médio) pode refletir no futuro do ser humano. Em diversas cenas são retratados problemas relativos a essa fase da vida, e nos deparamos com a inabilidade natural do ser humano para lidar com esse tipo de adversidade. Afinal, nem sempre é possível solucionar os conflitos por conta própria, sejam eles pessoais ou interpessoais, muitas vezes necessitamos de ajuda e empatia.
Em Koe no Katachi, temas como ansiedade, depressão, tentativa de suicídio e bullying são abordados de forma bastante evidente, mas, ao mesmo tempo, sutil. Apesar de ser uma animação “leve” – tem aproximadamente 2 horas de duração, mas passa que você nem nota –, possui classificação indicativa de 16 anos na Netflix, devido ao seu conteúdo. Caso você esteja passando por algum problema parecido, não recomendo assistir ao filme, pois pode funcionar como gatilho.
Sangatsu no Lion
Assim que terminei de assistir Koe no Katachi, o algorítimo de recomendações da Netflix me indicou Sangatsu no Lion, um anime relativamente pequeno, com apenas duas temporadas de 22 episódios cada.
O anime começa nos apresentando Kiriyama Rei, um jovem de 17 anos que está concluindo o ensino médio. Quando pequeno, ele se divertia bastante brincando com os amigos e aparentava ser muito feliz, exceto quando acompanhava o pai em partidas de Shogi, que, assim como o Xadrez, é derivado de um jogo de tabuleiro indiano, chamado Chaturanga. Rei, ainda na infância, perdeu os pais em um acidente, o que o deixou em um estado depressivo. Logo após o acidente, ele foi adotado por uma família que também jogava bastante Shogi, e desde cedo demonstrou ter muito talento para o jogo. Em pouco tempo, o seu pai adotivo passou a lhe dar mais atenção do que aos próprios filhos biológicos, que acabaram ficando chateados por conta disso e, aos poucos, foram largando o Shogi.
É possível notar, desde o início no anime, como Rei é depressivo e ansioso, apresentando até mesmo, na análise de alguns, características da síndrome de Asperger – introspectivo e com dificuldade de se relacionar com pessoas, agindo como se fosse um robô, sem demonstrar emoções. A “narração em off” do protagonista nos faz imergir em sua ansiedade, pois em diversos momentos ele nos expõe os seus pensamentos e a sua visão acerca dos acontecimentos. Esse é um excelente recurso narrativo da obra, que nos mostra em detalhes os transtornos psicológicos enfrentados pelo personagem principal.
Death Note
É muito difícil alguém gostar de animes sem ter, ao menos, ouvido falar sobre Death Note, um dos maiores clássicos do gênero. Muito utilizado como porta de entrada para o mundo dos animes, Death Note não só fez sucesso no seu lançamento, em 2006, como teve dois filmes que resumem os acontecimentos do anime/mangá. O anime em si tem 37 episódios, enquanto os filmes possuem mais ou menos duas horas de duração cada. Apesar dos cortes, é uma versão reduzida que vale a pena assistir.
Logo de cara, somos apresentados a Yagami Light, um jovem de 17 anos que está se preparando para o vestibular, concluindo o ensino médio e fazendo cursinho preparatório, tudo conforme o esperado. Até que um dia ele encontra um caderno capaz de matar pessoas: basta escrever o nome e mentalizar o rosto da vítima. Assim, conhecemos o tão falado Death Note.
Creio que a grande maioria dos leitores conhece a obra, então não há muito o que discorrer sobre o anime que não já tenha sido dito ou documentado em algum lugar. Inclusive, temos dois textos sobre Death Note aqui no Puxadinho Geek, ambos do nosso Hater favorito da internet, que você pode conferir aqui e aqui.
Tentando manter minha promessa sobre evitar spoilers, nessa obra podemos ver dois transtornos presentes: a megalomania de Light, evidenciada no momento em que ele se considera o “todo-poderoso”, Deus do Novo Mundo; e, em contrapartida, também existe a possibilidade – não confirmada pelo autor da obra – do seu oponente, L, possuir um certo grau de autismo, devido ao seu comportamento “excêntrico” e à dificuldade em se relacionar e confiar nas pessoas.
Por fim, vale ressaltar a importância de buscar auxílio profissional, caso você esteja passando por algum problema similar aos retratados nessas obras. Converse com pessoas de confiança sobre o que está passando e busque ajuda. Você não está sozinho nessa jornada e, em algum momento, as coisas irão melhorar. Cada vida importa, todo mundo importa. Fique bem, e até a próxima!
Mais sobre A-WORLD
Opinião Sincera | See You in My 19th Life
Em See You in My 19th Life, Jieum se lembra de suas vidas passadas. Após a morte precoce na 18ª …
Opinião Sincera | Publishing Love
Publishing Love é um webtoon de comédia romântica escrito por Rosa (Yeondu) e ilustrado por Song Yi. Também conhecido como …