Escrito por Chimamanda Ngozi Adichie e aclamado pela crítica, Americanah acompanha Ifemelu, uma mulher nigeriana que imigrou para os Estados Unidos para fazer universidade. De forma menos enfática, acompanha também seu amor da adolescência, Obinze. Assim, a narrativa alterna entre o presente e o passado, desde a época em que ambos tinham 16 anos até os seus 30 e poucos anos, que representam o momento em que Ifemelu decide retornar à Nigéria depois de 15 anos morando nos EUA. Obinze é um dos motivos pelos quais ela quer retornar à Nigéria, mesmo já sendo casado e tendo uma filha. Por isso, desde o começo você sente a relevância do relacionamento para a protagonista, e isso vai ficar evidente em muitos momentos.
A história alterna também sua ambientação entre a Nigéria, os EUA e a Inglaterra para acompanhar os momentos da vida dos protagonistas. Nesse contexto, a imigração é tratada como uma problemática central em diversos momentos, tanto na experiência de Ifemelu, que foi estudante universitária e depois trabalhadora, quanto no período em que Obinze ficou ilegalmente na Inglaterra. As dificuldades que isso traz afetam profundamente os rumos das vidas dos protagonistas, que passam por situações dolorosas e traumatizantes na tentativa de viver em um país que não está totalmente aberto para você, uma vez que voltar para casa seria como um fracasso.
Neste sentido, o livro toca muito na questão do imaginário sobre o “Primeiro Mundo” e o “Terceiro Mundo”, escancarando a diferença entre o sonho da imigração para um país desenvolvido e a dura realidade enfrentada pelos imigrantes, especialmente os imigrantes negros. Em contrapartida, mostra a percepção estadunidense de que os países subdesenvolvidos têm apenas fome e miséria. Por isso, a autora traz um retrato da Nigéria que nos mostra o bom e o ruim. Para quem também é de um país de Terceiro Mundo, é muito fácil de se relacionar com a imagem mostrada: o contraste entre a riqueza cultural, o amor por suas origens e a percepção dos fortes problemas políticos e sociais ainda existentes, como o histórico de governo militar e a corrupção.
A jornada de Ifemelu para se entender como uma mulher negra, africana e imigrante morando nos EUA é rodeada de todas essas batalhas, sendo o racismo a mais evidenciada em Americanah. Desde a questão dos seus cabelos, do seu corpo, até o relacionamento com um homem branco e com amigos negros não africanos, tudo é trabalhado. Contudo, a autora traz uma protagonista que é inteligente e perspicaz, mas também doce e preocupada, o que rende um livro bem-humorado em grande parte do tempo. Você alterna entre a dor e a alegria, sentindo tudo que Ifemelu sente.
No fim, Americanah é uma história de amor. Mas é tão mais do que isso que definir dessa forma parece injusto. É um livro sobre amor, escolhas, raça, gênero, imigração, identidades e origem. É, sim, um livro sobre amor, mas é também sobre sociedade e é a crítica social que torna a história impressionante. Com certeza, Americanah é um dos livros mais impactantes que eu já li e colocou outros da autora, Chimamanda Ngozi, na minha lista de leituras futuras.
Mais sobre LIVROS
Puxadinho Cast #110 | One Piece (Netflix)
A Netflix finalmente lançou a adaptação em live action de One Piece. Em meio a desconfianças, a série conseguiu superar …
Puxando da Estante #32 | Freida McFadden: A Empregada
Para essa rodada do Puxando da Estante, nós vamos discutir A Empregada de Freida McFadden, indicado por Rudá. Este livro …