Disponível na Netflix, Coisa Mais Linda (2019) é uma obra de época ambientada no Rio de Janeiro quando a cidade ainda era capital do Brasil, no ano de 1959. A produção brasileira passeia pelos costumes do eixo Rio-São Paulo daquela época e nos apresenta um elenco incrível, incluindo alguns atores e atrizes que, ao menos para mim, estavam um pouco esquecidos, como Mel Lisboa.
Centrada na história de quatro mulheres — Malu, Adélia, Lígia e Thereza —, a série traz discussões extremamente relevantes sobre o papel da mulher na sociedade. É possível ver como ainda há tantas coisas que precisam mudar em relação a isso. Também é muito legal ver como as mulheres, apesar de tão diferentes, apoiam umas às outras. Não é difícil ver o choque de realidade entre as vidas delas.
É interessante ver, principalmente, a relação entre Adélia (Pathy Dejesus) e Malu (Maria Casadevall). Enquanto para a segunda a independência vem a partir do próprio sustento e de controlar a própria vida, para a primeira, mulher negra que sempre precisou trabalhar, a independência vem como uma passagem para o descompromisso e para a emancipação do trabalho.
Malu é uma paulista que vai pro Rio para encontrar o marido Pedro (Kiko Bertholini) e descobre que vai ter que se virar para reconstruir sua vida depois de ele ter roubado todo o seu dinheiro. E Adélia precisa se virar depois que seu marido Capitão (Ícaro Silva) some em uma turnê. Apesar de suas diferenças, elas se unem para construir o Coisa Mais Linda, clube noturno com música ao vivo que inaugura os primeiros acordes da Bossa Nova no Rio de Janeiro.
Com Lígia (Fernanda Vasconcellos), Coisa Mais Linda nos apresenta à mulher que abandona seus sonhos pelo marido e, posteriormente, vive um relacionamento abusivo. O casamento dela com Augusto (Gustavo Vaz) começa como um conto de fadas, como acontece com a maioria dos relacionamentos abusivos, mas a coisa começa a mudar conforme os desagrados e pressões que o marido sofre.
O fato de Lígia ser muito bonita — ela tem culpa? não! — e despertar comentários maldosos de homens próximos deixa Pedro visivelmente desconfortável. Tipicamente, ele bebe demais, depois a violenta sexual e fisicamente, mas se arrepende e se desculpa — até estar irritado novamente. Quando Lígia diz que quer voltar a cantar, então, a coisa só piora.
Já Thereza (Mel Lisboa) é uma mulher que se apresenta como moderna: quebra paradigmas e preconceitos e trabalha como editora em um revista feminina. Mas, em sua essência, possui um “quê” de conservadora e obedece, ainda que sem perceber, a algumas regras típicas da época nas quais ela está imersa.
O fato de ela e marido Nelson (Alexandre Cioletti) terem um relacionamento “aberto” já seria um escândalo — talvez fosse até hoje. O envolvimento de Thereza com Helô (Thaila Ayala) reforça um estereótipo que a comunidade LGBTQ+ tanto se esforça para combater: da bissexual de ocasião, que sai com mulheres somente por diversão.
É interessante ver como essas histórias se cruzam — às vezes mais do que se imagina —, se completam e, mesmo com tantas diferenças, têm muitas semelhanças. É uma produção muito bonita, com uma fotografia magnífica, com tons sépia, que remetem a um conceito mais vintage. Os figurinos são estonteantes e a trilha sonora, impecável. Coisa Mais Linda já tem duas temporadas, cada uma com 13 episódios. É uma série que apresenta temas delicados de forma sensível, que critica, mas não deixa de ser divertida.
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