Com More Than Maybe, seu segundo livro, Erin Hahn entrega mais um romance jovem adulto feito sob medida para amantes de música — mas em um cenário diferente. You’d Be Mine, sua obra de estreia, se passava na cena country sulista, com dois jovens artistas cheios de traumas do passado. Já aqui nós temos ex-astros punk, um bar alternativo de uma pequena cidade do norte, um blog e um podcast. Onde isso vai parar?
Os dois protagonistas, Luke Greenly e Vada Carsewell, narram capítulos alternados. Ambos têm 18 anos, estão no último ano da mesma escola e se gostam de longe, não são muito próximos um do outro. Luke é filho de um músico punk aposentado e herdou dele o amor pela música, mas não pela fama nem pelos palcos. Sabendo que qualquer indício de interesse em compor, cantar ou tocar seria levado como obrigação de seguir os passos do pai, ele esconde isso de toda a família. Prefere continuar apenas apresentando o podcast que tem com o irmão gêmeo intrometido, Cullen, que também namora seu melhor amigo, Zack. Vada comanda um blog sobre música e trabalha meio-período no bar de Phil, que é uma espécie de lenda local e namora a mãe dela. Ela tem um sonho bem definido: estudar Jornalismo Musical em Berkeley e algum dia escrever para a Rolling Stone. Parece tudo encaminhado, exceto por possíveis problemas com dinheiro e o difícil relacionamento com o pai que a abandonou, mas que vive aparecendo para atormentar sua vida.
Vada e Luke acabam se aproximando através de um projeto em que duas matérias da escola se juntam, mas é tudo meio escondido porque são matérias que eles pegaram sem contar a mais ninguém — ele, de música e composição; ela, de dança e expressão corporal. A partir daí, a história se desenvolve entre turnos no bar, caronas, gravações secretas de músicas mais secretas ainda e muitas indicações musicais por mensagem.
Uma coisa que eu gostei muito, tanto no You’d Be Mine quanto agora no More Than Maybe, é justamente essa presença tão forte da música na narrativa e nos personagens. Aqui, isso funciona muito mais com referências, que vão de Britney Spears a Foo Fighters, do que com composições próprias, e meu ritmo de leitura agradece por não ter que parar e ficar tentando imaginar o som que move cada letra.
A relação dos dois protagonistas parece natural. Eles já se admiravam de longe e conviviam nos mesmos círculos — Luke grava o podcast “The Grass is Greenly” com o irmão no estúdio do bar onde Vada trabalha —, mas se conhecem e aproximam melhor aos poucos. Bem aos poucos mesmo, para a tortura de todas as pessoas próximas de ambos, que se desesperaram com a lentidão como as minhas amigas se desesperam quando os protagonistas de um drama asiático levam 10 episódios pra segurar as mãos um do outro.
Aliás, todas as relações em More Than Maybe são bem-construídas, particularmente com as mães e os pais, peças-chave no desenvolvimento dos arcos pessoais dos dois protagonistas no momento em que os encontramos. É melhor eu explicar isso direito.
Vada mora só com sua (incrível) mãe e as duas têm um ótimo relacionamento. Ela também se dá muito bem com o namorado da mãe, seu chefe Phil, que se mostra como figura de inspiração e segurança, em contraste com o pai que as abandonou e aparece em momentos aleatórios cujo resultado nunca é positivo. Mas, por ser seu pai, ela deixa muita coisa passar e acaba não se libertando dele, nunca o enfrentando de fato. Luke também tem uma ótima relação com a mãe e precisa enfrentar o pai, mas para convencê-lo de que não quer ser famoso, não quer os palcos nem nada do tipo. Seu irmão gêmeo Cullen é quem tem a personalidade para isso, mas foi ele quem herdou o talento musical, então a pressão na família é grande e acaba recaindo inteiramente sobre ele.
A história se passa em momentos em que essas tensões estão quase explodindo, e os personagens precisam do enfrentamento, precisam deixar isso pra trás e começar novos ciclos na vida. Nisso, Luke e Vada acabam tendo um papel importante um para o outro. E vale, mais uma vez, mencionar Phil, que é essencial para a jornada de ambos e também protagoniza meu momento favorito do livro:
“Não estou indo embora porque você chorou. Estou saindo porque preciso. Mas, se não precisasse, não iria. Você entende a diferença, né? Entende o que estou dizendo?”
As tensões e os conflitos de More Than Maybe não deixam a história pesada — You’d Be Mine é bem mais pesado. Aliás, a leitura flui bem rápido e é divertida, particularmente quando a escrita imita o sotaque britânico puxado da família de Luke. Várias das resoluções foram um pouco previsíveis, mas não de um jeito ruim: de um jeito que te deixa feliz por ter acontecido o que você imaginou. Espero que essa explicação tenha feito sentido.
Vale a pena entrar um pouco nas referências musicais também, e a própria autora disponibilizou no Spotify uma playlist com todas as músicas citadas no livro. Exceto as autorais, obviamente.
Fizemos essa Opinião Sincera como parte do Blog Tour de More Than Maybe, que vai de 21 a 28 de julho. Obrigada, NetGalley e Wednesday Books, pela cópia antecipada! O livro ainda não foi lançado em português, nem há uma previsão de quando isso aconteceria, mas duas formas de ficar de olho são as redes sociais da autora e o perfil do Sem Spoiler no Twitter. Se quiser ler em inglês, ele está disponível para compra na Amazon Brasil.
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