Tão de surpresa quanto o próprio álbum em julho, Taylor Swift agora nos presenteou com um show acústico/documentário dedicado ao folklore. O especial folklore: sessões no long pond studio é exclusivo da Disney+ e foi lançado mundialmente às 5h da manhã de 25 de novembro — menos de 20 horas depois do anúncio.
Pode-se dizer que o formato é parecido com o do 1989 World Tour Live, lançado exclusivamente no Apple Music em dezembro de 2015, mas mais intimista, como pede o álbum. As versões ao vivo são intercaladas com cenas onde Taylor e seus dois colaboradores, Jack Antonoff (Bleachers) e Aaron Dessner (The National), conversam sobre a música seguinte, o processo de composição e a pandemia. Os três estão no estúdio particular de Dessner: uma casinha no meio do nada, no interior do estado de Nova York, onde aconteceu boa parte da gravação do álbum.
Se existe um álbum na discografia da Taylor que parece ter sido feito para ser tocado na íntegra em uma sessão acústica — ou ao menos semiacústica — é o folklore. Ela, Jack e Aaron se revezam nas várias linhas de violão, piano, guitarra e baixo das 17 faixas e o som é extremamente próximo do original. Certas vezes, até melhor: eu achei o arranjo de mirrorball mais legal aqui, por exemplo.
Enquanto isso, as conversas intercaladas revelam um pouco mais da inspiração das músicas e de como elas começaram. Não sei quanto disso você particularmente considera como spoiler, mas, por via das dúvidas, a partir daqui o texto pode conter “spoilers”.
Na época do lançamento do álbum, Taylor comentou que três faixas contavam a mesma história dos pontos de vista de três personagens diferentes, um trio que ela apelidou de “Triângulo Amoroso Adolescente”. Analisando as letras, já tinha ficado óbvio que se referia a cardigan, august e betty, mas no especial ela desenvolve um pouco melhor essa relação. Para ela, cardigan se passa alguns anos depois de august e betty, como se fosse a Betty olhando para trás. Ela também acredita que Betty tenha perdoado James e que os dois acabem ficando juntos.
E não, a terceira personagem do triângulo amoroso não é a Inez citada na música, mas alguém que Taylor chama de Augusta ou Augustine. Inez é apenas uma colega fofoqueira e pouco confiável mesmo. Ao falar sobre Augusta/Augustine, ela levanta uma perspectiva mais madura da situação: a garota não é nenhuma vilã que “roubou o homem” da Betty, porque isso não existe. É só alguém que se apaixonou por alguém e foi enganada e descartada. Na Opinião Sincera do folklore, falei que lembrava a perspectiva da personagem dela no clipe de Babe, do Sugarland, e é verdade.
Isso tudo me faz pensar como vai sair a regravação de Better Than Revenge, do Speak Now (2010). Se é que vai. Taylor já tinha superado a música e passado a se envergonhar dela, de certa forma, tanto pelo slut-shaming envolvido quanto por acreditar que “ninguém é capaz de tirar alguém de você se a pessoa não já quiser ir embora”. Esse trecho do documentário é só a cereja do bolo.
A conversa sobre august também rendeu um dos momentos mais divertidos do documentário, quando Jack Antonoff diz “é uma experiência estranha trabalhar com você, e agora Aaron entende isso também”.
De fato, os créditos de composição e produção do álbum têm apenas cinco nomes: Taylor Swift, Aaron Dessner, Jack Antonoff, Justin Vernon (Bon Iver) e… William Bowery? “Quem é William Bowery?”, você se pergunta. Os fãs mais espertos já tinham teorias de quem seria o colaborador misterioso de exile e betty, e Taylor finalmente confirmou que é um pseudônimo do namorado Joe Alwyn.
Ela explica que os dois não pretendiam compor juntos, mas que ficou meio difícil não querer tentar quando ele simplesmente começou a tocar (e cantar!) coisas como a primeira parte de exile e o refrão de betty. Sozinho. Aparentemente do nada. Já que estavam em quarentena juntos e o que ele estava criando tinha tanto potencial, por que não desenvolver essas ideias, certo?
Tanto Taylor quanto Joe são muito fãs do Bon Iver, que foi justamente quem o produtor Aaron Dessner visualizou para a colaboração em exile. Ele participa das sessões no long pond studio de forma remota, gravando em Wisconsin e com um lenço na cara. Aliás, essa é a única das novas versões cujo vídeo está completo no Youtube:
Em certos momentos, como em my tears ricochet, mad woman e the lakes, é impossível não prestar atenção nas expressões faciais da Taylor. É onde a raiva dela fica mais evidente. Já em the last great american dynasty e august, fica evidente o orgulho que tem (ou têm, os três) do resultado da composição. Afinal, Jack Antonoff orgulhoso tocando violão é a imagem que precisamos para começar bem o dia.
O momento de segurar o choro, ou não, é a conversa entre Taylor e Jack antes de this is me trying. Ouvir pessoas que você acompanha e admira há tanto tempo falarem do esforço mental diário de pessoas exatamente iguais a você é algo meio inexplicável. Essa música sempre bateu forte, mas aqui é ainda mais forte. Um dos pontos altos do especial.
Outro dos pontos altos é quando ela conversa com Aaron sobre a inspiração de epiphany. Quem já viu This is Us vai reconhecer o Jack Pearson no avô dela, que se recusava a falar sobre os horrores que encarou na guerra. Vai reconhecer no pai da Taylor o filho do Jack, que foi pessoalmente atrás de respostas para tentar entender o que ele enfrentou no passado e por que era tão traumático relembrar.
Mas ela explica a relação direta que fez com a pandemia: quem trabalhou na linha de frente, ou conhece alguém que trabalhou na linha de frente, vai reconhecer essas pessoas. As pessoas que estão “fazendo uma pausa de vinte minutos entre os turnos em um hospital” estão passando por esse tipo de trauma agora. E talvez elas, também, não consigam falar sobre isso no futuro.
E o que pode ser considerado spoiler termina aqui.
O especial folklore: sessões no long pond studio é um belo presente que complementa um álbum de alto nível. Essencial para os fãs, interessante para quem gostaria de entender como funciona fazer um álbum de forma remota durante a pandemia e perfeito para quem já ama o folklore. Uma edição estendida do álbum com todas as versões ao vivo já está disponível nas plataformas de streaming de música.
Obrigada, Disney+. Parece que a assinatura anual já compensou.
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