Em seus últimos lançamentos com foco na adolescência, como Euphoria, a HBO buscou explorar bastante alguns pontos centrais dessa fase conhecida por ser caótica. Generation (estilizado como Genera+ion), a nova aposta para conquistar o público juvenil, percorre a adolescência da Geração Z e seus dilemas a partir da tentativa de explorar a sexualidade desse grupo. Criada por Zelda Barnz, de apenas 19 anos, e seu pai, Daniel Barnz, a série adentra o universo da descoberta e afirmação sexual dos adolescentes. No entanto, apesar do que isso possa te fazer pensar, tal descoberta não tem nada a ver com sexo, mas sim com identidade.
A sexualidade é descrita aqui enquanto atravessada de modo cultural, político e histórico. Assim sendo, ela constrói o sujeito não de forma essencialista, mas como parte de seus atos cotidianos e corriqueiros. Uma das coisas que mais gostei da série foi justamente isso, pois demonstra como a sexualidade não deve pressupor o sujeito.
Por abordar a Geração Z, nascida no mundo digital, temos em Generation adolescentes íntimos do mundo da internet, que exerce bastante influência sobre quem eles são. Os primeiros episódios explicitam muito isso, sendo cômicos ao retratar essa relação atravessada de dualidades, onde na rede se existe uma projeção irreal de si totalmente diferente da realidade.
O fato de a série ser criada por uma jovem de 19 anos permite que ela esteja em congruência com a realidade, não replicando os estereótipos existentes sobre tudo que a série se propõe a abordar acerca da adolescência: sexualidade, saúde mental, solidão, preconceitos, a relação entre a Geração Z e outras gerações mais velhas, entre outros.
Daniel, em uma entrevista à imprensa latino-americana, fala sobre como a participação de Zelda ajudou nisso: “Eu queria muito que as coisas não parecessem filtradas pelas lentes dos adultos”. Então, Zelda proporciona que a série aborde a adolescência não a partir da perspectiva de um adulto, mas através das próprias lentes de um adolescente. “Eu consigo me conectar à audiência mais jovem justamente porque minha idade é muito similar à deles”, diz ela. “Tenho um conhecimento sólido para conseguir fazer essa conexão e passar uma sensação de vida real.”
Assim, ao não ser desconectada do real ou permeada de estereótipos, Generation passa fidedignidade para o espectador. Principalmente quando se propõe a demonstrar o abismo – seja no modo de falar, de se portar nas redes sociais, de se vestir ou de agir – entre as gerações, o que é uma das partes mais cômicas da série.
A representatividade de Generation também é um de seus pontos altos. A série é permeada de diversidade. Temos uma atriz transexual, Nava Mau, que faz o papel de Ana, tia de Greta (Haley Sanchez), e também outros atores que fazem parte e são de diferentes etnias. No fim das contas, o foco central da série talvez seja a própria diversidade e o modo como a nova geração tenta abraçar o diferente saindo do que é normalizado como natural pela sociedade, como o binarismo.
Um dos personagens, Nathan (Uly Schlesinger), é bissexual e sofre com a repressão dos pais que não conseguem aceitar sua sexualidade, invalidando totalmente a bissexualidade ao replicar a ideia de que “ou você é gay ou heterossexual”. A construção do personagem, assim como dos outros, me remeteu a um vídeo da drag queen Rita Von Hunty, que aborda os assuntos mais diversos possíveis em seu canal no Youtube, chamado “Tempero Drag”. No vídeo em questão, do projeto chamado “Primeira Pessoa” da GQ Portugal, ela fala em determinado momento sobre como é crescer sendo LGBTQIAPN+ em uma sociedade que diz que você não pode existir. Em uma parte do vídeo que gostaria de destacar, ela fala: “você cresce uma criança queer (…) começam a tirar tudo de você, ‘não pode sentar assim, não pode falar assim, não pode gesticular assim’ (…) vão te despindo de tudo, até que não sobra nada em você. (…) ser uma criança queer é ser inserido no campo de lei simbólica que nos precede, que já estava todo organizado e que quando a gente chega a gente fala ‘não tem lugar pra mim, então eu vou ter que inventar uma outra coisa’.”.
Temos na série, portanto, vários adolescentes que estão tentando inventar essa outra coisa, o seu lugar no mundo, quando se há tantas pessoas esbravejando que não existe e nunca existirá tal lugar. Então, a descoberta de si em Generation está entrelaçada com a reafirmação desses sujeitos que são constantemente excluídos da sociedade, tendo sua existência invalidada de vários modos.
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