Sem previsão de lançamento no Brasil, mas com direitos de exibição pela Disney+, Link: Eat, Love, Kill (“Comer, Amar, Matar”, em tradução livre, 2022) é um suspense sensível e romântico. Vinda dos sucessos Suspicious Partner (2017) e Hello Monster (2015), a roteirista Kwon Ki Young entrega mais um kdrama de comédia romântica com grande peso de suspense. Com qualidade superior a seus antecessores, se é que essa possibilidade existe, Link anda no mesmo caminho dos dois dramas anteriores, mas tem uma leveza e um ligeiro realismo mágico que o torna uma obra única. Kwon Ki Young volta a abordar temas recorrentes pelos quais já havia se interessado antes, como a culpa fraternal em Hello Monster e a ligação através de um trauma em Suspicious Partner, mas dessa vez de forma mais profunda, psicológica e extremamente pessoal.
No passado, Eun Gye-Hoon (Yeo Jin-Goo) tinha um laço sentimental com sua irmã gêmea, Eun Gye-Young (Ahn Se-Bin), que fazia com que ele sentisse tudo o que ela sentia. Mas esse laço foi cortado após ela desaparecer, quando os dois tinham 10 anos. Naquele momento Eun Gye-Hoon teve a certeza que sua irmã tinha morrido, e esse desaparecimento destruiu sua família: seu pai continuou procurando pela garota, enquanto a mãe o culpou pela morte.
Dezoito anos se passam sem que Eun Gye-Hoon tenha pista alguma sobre o acontecido. Ele tentou seguir em frente da melhor forma que podia, tornando-se um chef requisitado com uma carreira consolidada. Mas algo estranho sem explicação começa a acontecer: depois de duas décadas sem sentir emoções de outra pessoa, ele começa a sentir sensações que não são suas, algo que só acontecia quando sua irmã estava viva. Certo da morte de Eun Gye-Young, Eun Gye-Hoon acaba por encontrar a fonte dessas emoções invasoras: a moça No Da-Hyun (Mun Ka-Young), com quem ele vem esbarrando por diversas vezes. Com a volta desse laço, Eun Gye-Hoon decide voltar à antiga vizinhança em que sua irmã desapareceu para finalmente descobrir a verdade.
O realismo mágico de Link é apresentado de forma natural e sem muitas explicações. O laço, ou link, que une Eun Gye-Hoon e No Da-Hyun é recebido com resistência pela parte dele e estranheza e amabilidade por parte dela. No Da-Hyun também tem seus demônios e dificuldades, sendo tão ou mais complexa que Eun Gye-Hoon, mas aparece ao público com suavidade e doçura. Ambos personagens principais entregam um romance que convence e faz com que o espectador torça para que fiquem juntos, apesar de tudo o que parece tentar separá-los. O slowburn do romance é bem construído, sem nenhum dos clichês ruins que separam casais, mas impedimentos reais.
Ao lidar com o tema da culpa familiar de modo geral em tantos núcleos, Kwon Ki Young entrega na vizinhança de Jihwa um microcosmo social com tipos suspeitos. Ali, cada morador esconde um segredo e uma culpa pelo desaparecimento de Eun Gye-Young, segredos que vão sendo revelados sem pressa durante os episódios. Link tem uma narrativa programada perfeitamente, que alterna em resolver mistérios e apresentar novos impasses de maneira efetiva, instigando o espectador a continuar assistindo ao próximo episódio.
Todos os episódios terminam em ganchos intrigantes que acabam por se resolver no momento exato que tinham que ser resolvidos, o que mantém o ritmo do drama sem deixar que a qualidade do suspense caia em momento algum. A autora já tinha apresentado um sistema parecido em suas obras anteriores, porém Link aborda um lado sentimental mais profundo. Em comparação a Suspicious Partner, se aprofunda no lado sentimental e traumático de eventos violentos, trazendo diversas perspectivas e relatos sobre um momento; em relação a Hello Monster, também deixa de lado o mistério psicológico em prol de um thriller mais humano. Usando do estilo desses dramas anteriores, Link parece ser uma versão mais completa e complexa da abordagem dos dois.
Kwon Ki Young prova que consegue mais uma vez fundir suspense, romance e comédia não apenas de forma satisfatória, mas de um jeito inigualável, até mesmo para ela, o que faz com que o espectador queira sempre voltar para mais. Tratando de sentimentos tão complexos como a culpa, a roteirista entende a necessidade de uma abordagem cuidadosa à história que conta, e coloca em seus personagens, principais e secundários, todas as nuances para escrever Link com toda a sensibilidade e emoção que esse tipo de situação merece. Sem demagogias, dentro de seu drama a autora permite que seus personagens tenham todo tipo de sentimento, e mostra que ser humano é uma constante lição sobre perdão, inclusive de si mesmo.
Mais sobre A-WORLD
Opinião Sincera | See You in My 19th Life
Em See You in My 19th Life, Jieum se lembra de suas vidas passadas. Após a morte precoce na 18ª …
Opinião Sincera | Publishing Love
Publishing Love é um webtoon de comédia romântica escrito por Rosa (Yeondu) e ilustrado por Song Yi. Também conhecido como …