Ganhador da estatueta de Melhor Roteiro Adaptado no Oscar 2021, Meu Pai (2020), do diretor e dramaturgo francês Florian Zeller, é um forte relato íntimo sobre a evolução do Alzheimer e seu impacto na vida dos familiares. O filme também garantiu a Anthony Hopkins, intérprete do personagem principal, o prêmio de Melhor Ator Principal, o segundo em sua carreira, pondo um fim ao jejum de 29 anos do ator como vencedor da categoria.
Traduzida por Christopher Hampton e co-escrita por Zeller, autor de Le Père (O Pai), peça que inspirou a adaptação para o longa, a produção pessoal e emocional, assim descrita pelo próprio Zeller, é certeira em entregar ao veterano Hopkins (O Silêncio dos Inocentes, Hannibal) e à expressiva Olivia Colman (A Favorita, The Crown) a dificílima missão de contar essa história. Vale lembrar que, assim como seu parceiro de cena, Colman venceu o prêmio de Melhor Atriz Principal no ano de 2019.
Meu Pai mostra o recorte mais comovente da vida de Anthony, um engenheiro aposentado de 81 anos, que luta para não deixar o seu apartamento enquanto duvida da realidade à sua volta e lida com os sintomas avançados da sua doença de danos neurológicos progressivos.
Anne (Olivia Colman) está de mudança para Paris, mas não pode deixar seu pai Anthony (Anthony Hopkins) vivendo em Londres sozinho na sua atual condição. As cuidadoras contratadas para cuidar da saúde do seu pai não duravam o bastante, graças ao temperamento do próprio velhote, e a solução discutida é acomodá-lo numa casa de repouso, mas Anthony não pretende deixar o seu lar assim tão facilmente.
O que haveria de tão importante neste apartamento que faz com que Anthony seja tão apegado a ele? Seriam as memórias que ainda viviam ali? O símbolo do seu triunfo material? Seja o que for, a sensação nítida e espaçosa que se tem é que o apartamento simboliza a mente do protagonista, que luta bravamente por domínio. Uma prova disso é que o filme se passa praticamente em um só cenário: o apartamento, único espaço em que Anthony transita livremente.
À medida que os acontecimentos vão sendo apresentados, a confusão dentro do apartamento fica tão vívida quanto a confusão dentro do cérebro de Anthony. São situações que fazem zigue-zague, mas que no fim das contas encontram um caminho reto, como, dentre muitas situações, as cenas que se repetem, a mudança de mobília nos cômodos do flat, os personagens que se confundem e os fatos da vida do seu pai contados e desmentidos por Anne.
No cinema, retratar o cotidiano de uma pessoa com Alzheimer não é algo original, embora sempre seja sensível. O que faz de Meu Pai um filme, acima de qualquer coisa, interessante, é o fato de que ele foi feito sob a perspectiva interna da mente de Anthony, que tenta de formas educadas – ou não – manter o controle da situação, mostrar para si e para Anne que ele detém posse do seu próprio espaço e que não precisa de validação para que isso se torne realidade. O espectador vive o personagem, vivencia tudo aquilo, se confunde tanto quanto Anthony e duvida da história contada tanto quanto ele.
Mas essa é a minha visão como espectador, que pode ser contrariada pelo diretor com outra explicação para tudo o que acontece no filme. O fato importante é que não importa o que cada frame significa semioticamente, no momento em que você mergulha na história de Anthony e Anne, Meu Pai se torna um filme inesquecível.
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