O que é uma história de amor para você? Quantas foram vividas ao seu lado e você nunca percebeu? Em 31 de outubro de 2004, o The New York Times abriu um novo espaço para celebrar o amor, a coluna “Modern Love”. Depois de quinze anos a Amazon trouxe para as telas as crônicas mais amadas, deixando os fãs de comédias românticas com o coração quentinho.
São oito episódios independentes entre si, que narram histórias de amor em Nova York. Apesar de a coluna ter mais de uma década, suas crônicas têm uma perspectiva autêntica, que permanece autêntica ao longo dos anos. Sob a direção de John Carney e com um elenco que cria muitas expectativas, já que temos atores como Anne Hathaway, Tina Fey, Dev Patel, John Slattery, Modern Love tinha muitas possibilidades para estabelecer um marco no gênero.
O primeiro episódio, “When the Doorman Is Your Main Man”, é uma escolha que pode dividir opiniões para ser a primeira impressão dessa série. A história incomum é protagonizada por Cristin Milioti, que faz um belíssimo trabalho dando vida à personagem Maggie, uma jovem que vive em um antigo apartamento da família e, por isso, há anos conhece o porteiro Guzman. São trinta minutos que revelam brevemente um momento chave na vida de Maggie, que, apesar de nem sempre ter percebido, sempre esteve acompanhada de um grande amigo. A complexidade do relacionamento dos personagens acaba não sendo tão bem trabalhada ao longo do episódio, dando uma sensação de que precisávamos de mais alguns minutos para conhecê-los melhor. Ainda assim, é um desafio não sorrir ao final e concordar quando Guzman diz que as respostas sempre estiveram com Maggie.
Já no segundo episódio, “When Cupid Is a Prying Journalist”, protagonizado por um jovem empresário chamado Joshua (Dev Patel) e uma jornalista chamada Julie (Catherine Keener), são narradas através de flashbacks duas histórias de amor que acabaram antes do tempo. Os trinta minutos que anteriormente pareceram insuficientes agora são precisos e seguem uma linha de evolução cativante, em que Joshua e Julie compartilham grandes amores de seus passados. São histórias fofas e que fazem a gente entender que nem todo relacionamento tem um “felizes para sempre”. Às vezes as lembranças boas ficam porque o relacionamento durou o suficiente para marcar uma história e deixar sempre um gostinho de saudade.
“O amor que vivemos no passado, inacabado, não testado, perdido, pode parecer fácil e infantil pra quem decide casar e sossegar. Mas, na verdade, é o mais puro e intenso que há.”
“Take Me as I Am, Whoever I Am”, provavelmente um dos episódios que mais deu o que falar, começa surpreendente com cenas que poderiam ser de um musical da Disney. A narrativa se inicia com Lexi (Anne Hathaway) acordando estupidamente feliz e decidindo que precisava comprar um pêssego. No supermercado ela encontra o que parece ser um cara sensacional e os dois marcam um encontro dali a alguns dias. A verdade é que nos primeiros minutos tudo que falei sobre histórias verossímeis parece não fazer sentido algum. Afinal, quem acorda cantando como em um musical e conhece um possível amor da sua vida logo nas primeiras horas da manhã em um supermercado? Até que entendemos a complexidade da protagonista: Lexi tem transtorno bipolar. E nesse momento surge uma nova faceta dessa série, a delicadeza com que tocam em questões complexas é precisa e Hathaway brilha em seu papel.
Na sequência, a dupla Tina Fey e John Slattery vivem um casal em meio a uma crise matrimonial no capítulo “Rallying to Keep the Game Alive”. A verdade é que o amor nem sempre é uma linha contínua com apenas momentos felizes, e o casal Sarah e Dennis dá vida a um dos momentos mais delicados de qualquer relacionamento. Retratando uma família ordinária, com diálogos bem construídos e atuações genuínas, Fey deixa claro (para quem ainda não sabia) que seu talento vai muito além da comédia. Mesmo com tantos pontos fortes, porém, por vezes o episódio é lento e seu ritmo destoa dos demais.
“At the Hospital, an Interlude of Clarity” traz o humor em uma nova perspectiva. Um jovem casal vive em seu primeiro encontro uma situação desconcertante e a noite acaba em um hospital. Sofia Boutella e John Gallagher Jr dão vida ao capítulo mais trivial possível, e com uma química inigualável. A sensibilidade nas relações dos personagens e complexidades em seus backgrounds transparece em diálogos banais com entrelinhas cheias de história. Um respiro necessário depois de tramas que pegam o telespectador desprevenido.
O sexto episódio se chama “So He Looked Like Dad. It Was Just Dinner, Right?” e é o oposto do anterior. A narrativa é insuficiente, chegando a causar um incômodo muitas das vezes. Maddy (Julia Garner) é como uma brisa leve de primavera, mas as questões mal resolvidas com seu pai fazem com que a protagonista o projete em homens que ela admira. As coisas começam a ficar estranhas quando seu chefe a convida para jantar e, com certeza, cada um tem uma visão bastante distinta dessa relação.
O único episódio que retrata uma história homoafetiva é “Hers Was a World of One”, com Olivia Cooke, Andrew Scott e Brandon Kyle Goodman. O casal bem sucedido e inter-racial Andy e Toby está junto há muitos anos quando os dois decidem que estão prontos para um novo desafio: ter filhos. No processo de adoção, conhecem Karla, uma mulher excêntrica que está em busca da família perfeita para seu bebê. Mas é claro que as coisas nem sempre são tão simples como parecem e, além da mamãe, o casal também passa por mudanças durante a gravidez. Seu único defeito é que ele termina. A química entre o trio é tão presente que por trinta minutos senti que esses personagens eram meus amigos de verdade.
Por fim, o oitavo e último episódio dessa temporada, “The Race Grows Sweeter Near Its Final Lap”, que faz qualquer fã de comédia romântica reacender a esperança de que nunca é tarde para viver o amor em sua vida. Jane Alexander vive a recém-viúva Margot e James Saito interpreta o também viúvo Kenji. Intercalando entre o passado e presente, o capítulo faz um breve resumo de como Margot e Kenji se conheceram já idosos e viveram, mesmo que brevemente, seu romance. É quase impossível não se emocionar com o monólogo da personagem de Jane, a atriz é a única possível protagonista desse episódio.
As crônicas escolhidas são interessantes, mas a série deixa a desejar com sua oscilação entre episódios incríveis e outros bem ruins, como é o caso da história “So He Looked Like Dad. It Was Just Dinner, Right?”. Outro ponto que poderia ter sido melhor explorado é a diversidade do elenco. Por mais que pontualmente existam atores de diferentes etnias, cada vez mais demandamos representatividade nas produções.
Dito isso, Modern Love é uma série complexa cujas histórias poderiam ter sido escritas por seus vizinhos ou conhecidos e você, provavelmente, nunca iria saber. Enquanto a segunda temporada não chega, você pode conhecer mais histórias enviadas ao The New York Times pelo podcast ou livro.
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