Talvez você tenha lido o texto sobre como começar no mundo dos jogos de mesa. Um dos jogos listados lá é um favorito pessoal, o Pandemic. Depois disso, também rolou texto sobre as três expansões do Pandemic, agora todas disponíveis ou ao menos anunciadas no Brasil: À Beira do Caos, No Laboratório e Estado de Emergência. Mas a linha Pandemic já conta com mais de quinze jogos, entre eles uma série de edições “alternativas” que foi batizada de Survival Series.
Essa série é um trio de jogos que usam o “Sistema Pandemic” em outros contextos, com algumas pequenas adaptações, como fez o Pandemic: Reino de Cthulhu em 2016 com o universo Lovecraftiano. No caso da Survival Series, são momentos históricos. Ela tem esse nome porque os campeonatos competitivos anuais de Pandemic levam o nome de Pandemic Survival e, originalmente, os jogos foram edições limitadas lançadas na época das finais dos campeonatos de 2016 a 2018.
Falei sobre os três recentemente lá no perfil do BG das Minas no Instagram, onde tem mais fotos, então já aproveitei para preparar também uma Opinião Sincera com mais detalhes de cada um. De certa forma, acho que o trio de posts e a Opinião Sincera tripla se complementam.
Cada um dos três títulos da Survival Series foi feito por Matt Leacock, designer original do Pandemic, em parceria com outro designer local ou que fale o idioma da região no qual o jogo se passa. Pandemic: Iberia (2016), o primeiro, foi feito com o argentino Jesús Torres Castro, de Watson & Holmes, e tem arte de Atha Kanaani e Chris Quilliams. Já Pandemic: Rising Tide (2017) foi feito com o holandês Jeroen Doumen, de Food Chain Magnate, e tem arte de Kanaani. E Pandemic: Fall of Rome (2018) foi feito com o italiano Paolo Mori, de Ethnos e Vasco da Gama, e conta com arte de Kanaani, Olly Lawson e Antonio Maínez.
1. Pandemic: Iberia / Ibéria (2016)
Pandemic: Iberia, lançado em 2016, nos leva a meados do século XIX na Península Ibérica.
O primeiro jogo da Survival Series é o menos diferente do Pandemic original em termos de temática, pois ainda envolve quatro doenças que assolam a região. Neste caso, por fatores históricos, elas até são identificadas: malária, febre tifoide, cólera e febre amarela. Os 2-5 jogadores são profissionais de uma expedição de combate a essas doenças e devem trabalhar juntos para vencer.
Mas ainda se trata de uma versão histórica, então algumas restrições e mudanças de mecânica são implementadas e fazem uma boa diferença na hora de jogar. Entre elas, a principal é a de não poder se locomover por meio de voos diretos ou fretados entre as cidades. Afinal, o avião foi inventado no século XX. Em vez disso, o jogo se passa em um escopo menor, apenas em Portugal e Espanha, e permite a construção de trilhos e ferrovias entre as cidades para agilizar a locomoção.
Outra diferença é que aqui não se encontram curas. No Pandemic original, seu objetivo é encontrar a cura das quatro doenças. Ao encontrar a cura de uma das doenças, você pode limpar os cubos dessa doença mais rapidamente e pode até erradicá-la se tudo der certo. No Pandemic: Iberia, isso não é uma possibilidade: não existe cura e o seu objetivo é apenas de pesquisar as quatro doenças. O único efeito que a doença pesquisada traz para facilitar o jogo é a possibilidade de purificar a água dos locais da cor correspondente, o que as protege e atrasa um pouco as próximas infecções.
Também não é possível pesquisar as doenças em qualquer lugar. Cada região, representada pela cor da doença correspondente, deve ter seu próprio hospital, e a doença só pode ser pesquisada no hospital da cor correspondente.
Pandemic: Iberia traz dois desafios adicionais: o influxo de pacientes, que simula um aumento na chegada de pacientes aos novos hospitais construídos na região, e as doenças históricas, que adicionam obstáculos às já nomeadas doenças. É como se fosse uma miniexpansão exclusiva para ele.
É tudo muito bem trabalhado. Até as cartas de evento são inspiradas em momentos históricos de Portugal e da Espanha, e o manual explica tudo direitinho. Esse também é o primeiro e, até agora, único jogo da linha Pandemic a incluir um pequeno livro de arte com ilustrações. É bem pequeno e só tem quatro páginas, mas já é interessante e dá um gostinho.
2. Pandemic: Rising Tide / Subida da Maré (2017)
Se eu tivesse que escolher um favorito entre os três, até agora seria esse. Pandemic: Rising Tide se passa na Holanda, ou nos Países Baixos, durante a Revolução Industrial. Quase um terço da Holanda fica abaixo do nível do mar, por isso o nome “Países Baixos”, e cerca de dois terços dele estão constantemente vulneráveis a enchentes. Existem até órgãos dedicados ao controle de enchentes no país.
O objetivo de Rising Tide não tem nada a ver com doenças: os 2-5 jogadores devem construir quatro estruturas hidráulicas para conter o avanço da água, que é a ameaça representada por cubinhos azuis nessa versão do jogo. Com isso, impedirão que o país fique completamente submerso.
Embora o jogo seja inspirado na Revolução Industrial e no século XIX, as quatro estruturas foram inspiradas em projetos e construções mais modernos, do início do século XX até os dias de hoje. Uma delas, a Deltawerken (Delta Works), é até considerada uma das novas maravilhas do mundo moderno.
Para construir essas estruturas, o método é parecido com o do Pandemic original, afinal ainda é inspirado nesse sistema. Você deve juntar as cinco cartas da cor correspondente e levar a um local específico do mapa, onde a estrutura será construída. Cada uma delas fica em uma parte do mapa, representada por uma cor, e tem um efeito especial ao ser construída. Esse efeito especial, inclusive, é baseado no que a construção ou projeto representou de verdade, como o gigante dique Afsluitdijk, que fecha o mar Zuiderzee e cria um lago mais controlado.
Aliás, pronunciar os nomes em holandês que aparecem no Pandemic: Rising Tide é um desafio à parte. Um jogador do país chegou a compartilhar, na época, um guia de pronúncia para todos os nomes que aparecem no mapa e nas cartas. Pode ser útil, se você quiser tentar. Ou pode confundir ainda mais.
Os componentes e a arte são belíssimos. Cubinhos azuis representam a água presente em cada local, que você pode secar gastando ações ou através das estações de bombeamento. Essas estações de bombeamento são moinhos laranja, que vão secando os locais inundados a cada rodada em uma mecânica muito interessante. (Aliás, sabe os famosos moinhos holandeses? Eles servem também justamente para isso.) As peças marrons que simulam madeira representam as barragens, que freiam o avanço da água e podem ser destruídas e reconstruídas várias vezes ao longo da partida. E as peças pretas representam os portos, que são a principal forma de se movimentar por longas distâncias no mapa.
Assim como o Iberia, Pandemic: Rising Tide também tem desafios adicionais. Com os Objetivos Variáveis, há 12 cartas de objetivo e 4 delas devem ser sorteadas para uso na partida. Esses objetivos podem ser de três tipos: básico, especial e de população. Os de população acrescentam ao jogo os cubos laranja, que representam habitantes dos locais e interagem com os cubos azuis da água de uma forma desafiadora. Caso uma região já tenha o número máximo de cubos, incluindo os de população, e precise ser inundada, isso causa uma perda populacional. Caso cinco cubos laranja sejam descartados dessa forma, o jogo acaba em derrota, pois pessoas demais morreram devido às enchentes.
Rising Tide é uma das variantes mais interessantes da linha Pandemic, tanto em mecânicas quanto em visual. Ela consegue manter a urgência da necessidade de salvar a população, mas mudando completamente o contexto em que isso acontece.
3. Pandemic: Fall of Rome / Queda de Roma (2018)
Por fim, o terceiro jogo da Survival Series, que é o único anunciado no Brasil até o momento: Queda de Roma. Por ser o único oficialmente anunciado aqui, é também o único que eu vou chamar pelo título em português.
Pandemic: Queda de Roma se passa na época de instabilidade e declínio do Império Romano, em que vários povos bárbaros invadiram e conquistaram territórios do Império. É o que vai mais longe no tempo, não só na Survival Series mas em toda a linha Pandemic. Aqui, foram representados seis desses povos, em cinco grupos: Anglo-Saxões e Francos (laranja), Vândalos (preto), Hunos (verde), Visigodos (branco) e Ostrogodos (azul). Em vez de precisar encontrar a cura para quatro doenças, agora os 1-5 jogadores precisam eliminar os cinco grupos bárbaros ou se aliar a eles. Você pode também eliminar alguns e se aliar a outros, dependendo do que estiver mais viável na sua partida.
O mapa de Pandemic: Queda de Roma mostra a região do Império Romano, com suas principais cidades, da própria Roma a Constantinopla e Atenas. Cada cidade mostra uma ou mais cores, que representam os grupos bárbaros que ficariam por ali — culminando em Roma, que é dividida entre as cinco cores. É importante lembrar que, apesar de ser baseado em uma boa pesquisa, o jogo não se propõe a fazer uma simulação 100% correta da História e, até por questões de balanceamento, por vezes prioriza a mecânica à precisão. Isso acontece em toda a Survival Series, mas principalmente aqui, onde as informações são mais antigas e difíceis.
Ainda se trata de um Pandemic que segue o sistema da série, então o funcionamento ainda é parecido com o de sempre: junte o número determinado de cartas da mesma cor em uma cidade para forjar uma aliança com o povo correspondente. Precisa haver ao menos uma tropa bárbara daquela cor na cidade. O movimento das tropas também é feito de forma interessante. Ao final do turno, quando acontece a fase “de infecção”, aqui chamada de Invasão por motivos óbvios, são reveladas as cartas das cidades que serão invadidas. No entanto, não é necessariamente nelas que as tropas vão entrar. Caso não haja nenhuma tropa daquela cor no local, antes é preciso traçar um caminho da migração dela até a cidade da carta. Isso faz muito mais sentido tematicamente, além de espalhar mais os cubos, o que tanto facilita quanto dificulta a situação dos jogadores.
Mas não seria um jogo baseado em guerras por território sem as próprias guerras por território, e o que acontece aqui é a implementação de uma pequena mecânica de sorte com as Legiões. Legiões são as tropas do próprio Império, representadas por miniaturas de madeira; elas saem dos Fortes construídos nas cidades e enfrentam as tropas bárbaras, que são representadas pelos cubos coloridos. Ao batalhar, dependendo do número de Legiões que você usar, você deve rolar 1-3 dados de 6 lados, que podem eliminar as suas tropas ou as bárbaras. Esses dados também podem ativar a habilidade especial do seu personagem — cada personagem tem uma diferente, e ela só pode ser ativada com esses dados.
Outra inovação de Queda de Roma em relação ao resto da Survival Series é a presença de um modo solo oficial nas regras. Na maior parte dos jogos cooperativos mais conhecidos, é possível dar um jeito de jogar solo, mas nem sempre é uma boa experiência. Além disso, raramente há instruções definidas para isso nas regras do jogo, o que é bem importante para trabalhar o balanceamento de se jogar sozinho. Aqui, jogar solo coloca o jogador na posição de Imperador, controlando três personagens e seguindo uma série de ajustes para que tudo funcione bem.
A Survival Series da linha Pandemic traz três jogos inovadores e belíssimos, mas usando o mesmo sistema do jogo que já conhecemos. Se você é fã do sistema, provavelmente vai amar os três. Se a temática de pandemia estiver ficando um pouco pesada e você precisar de uma mudança de ares, os dois mais recentes são opções ainda mais interessantes. É bom saber que em breve vão começar a ser lançados no Brasil.
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