Após dezessete anos de muito sucesso, milhões de discos vendidos, programas de TV e carreira internacional, os irmãos Sandy e Junior decidiram dar um tempo na carreira em dupla para seguirem seus próprios caminhos. Dessa forma poderiam construir uma carreira cuja sonoridade tivesse mais a ver com quem eles eram naquele momento da vida, em 2007.
Em 2019, com doze anos de hiato, depois da insistência da família e amigos, decidiram dar um presente para os fãs: uma grande turnê de revival para comemorar os 30 anos desde o início da dupla. Foram dezoito shows passando por várias cidades do Brasil, além de passarem também por Estados Unidos e Portugal, relembrando sucessos da dupla ao longo de todos esses anos. E não parou por aí: eles também deixaram de presente o registro do show na íntegra e um documentário que conta a história dos dois desde o início, ambos lançados exclusivamente no Globoplay. É sobre esse documentário, em formato de minissérie de sete episódios, que falarei neste texto.
Sandy e Junior: A História começa mostrando como foi o fim da dupla e o que os levou a tomar essa decisão, além de como ela foi recebida pela família, gravadora e outros artistas que acompanharam o sucesso deles. E, voltando ao início, vemos não só o início da dupla em sua primeira apresentação, mas também como os pais, Xororó e Noely, se conheceram e como foi a criação dos irmãos.
Para quem cresceu acompanhando a dupla, esse documentário é uma verdadeira viagem no tempo cheia de nostalgia. Ele volta lá na primeira apresentação dos dois, por volta dos 6 anos de idade, em 1989, cantando Maria Chiquinha no programa Som Brasil, apresentado por Lima Duarte. O que era só uma apresentação despretensiosa tomou uma proporção gigantesca.
A passagem deles pelo programa foi um sucesso, chegando a tocar nas rádios. Esse foi o pontapé para o que se tornou a grande carreira com todos os hits que conhecemos. Começaram com pequenos hits infantis, passando por versões de músicas de outros artistas, como Bee Gees, Roberto Carlos, Whitney Houston, entre outros, até chegar no grande marco da carreira que foi o álbum As Quatro Estações.
O tamanho da dupla só aumentou ao longo dos anos. Ganharam um programa de auditório apresentado pelos dois, mas que durou pouco tempo, e um seriado bem ao estilo Malhação que durou quatro temporadas, entre 1999 e 2002. Nesse meio-tempo em que o seriado esteve no ar, eles ainda fizeram o melhor show da noite pop no Rock in Rio 2001, lotaram o Maracanã e levaram 1,2 milhão de pessoas para a praia de Tambaú, em João Pessoa. Tudo isso os levou ainda a uma carreira internacional, que também foi um sucesso.
Foi uma carreira gigantesca, mas nem tudo foi só alegria. Com a fama vem todo o assédio e especulações em torno da dupla. Levantando questões como a sexualidade do Junior e seu papel na dupla, sendo chamado de sombra da irmã, pondo em dúvida seu talento como artista. Já pelo lado da Sandy, muito se especulou sobre sua vida sexual, se ainda era virgem ou não. A melhor resposta que os dois puderam dar foi através da música, de composições cada vez melhores e mais profissionais. O episódio que conta essa parte da história encerra da melhor forma com a performance de Super-Herói no Allianz Parque em 2019. Esse é um dos pontos altos do documentário.
Os dois, então, sentindo que a dupla não era mais o que eles queriam fazer e já não brilhava seus olhos, decidem seguir por caminhos separados. Sandy começou uma carreira solo fazendo shows mais intimistas em teatros e Junior tocou em algumas bandas como a Nove Mil Anjos até se encontrar na música eletrônica, que é onde está até hoje. Mesmo após o fim da dupla, “Sandy & Junior” nunca foi esquecido.
Ao longo desse período de hiato, sempre houve a expectativa de que os dois se juntassem nem que fosse para uma turnê. Era um desejo de todos em torno deles, inclusive dos pais. Xororó diz no documentário que eles precisavam “se lembrar de quem eles foram, de quem eles são” e da importância que eles têm para os fãs e cenário musical brasileiro. Após uma reunião em família planejada pelos pais para convencê-los a fazer um revival, Sandy e Junior finalmente aceitaram fazer essa turnê comemorativa.
Nesses dezoito shows eles passaram por vários hits da carreira e emocionaram as mais de 600 mil pessoas que puderam acompanhar. O sucesso dessa turnê foi tão grande que ficou como segunda maior turnê do mundo em 2019, segundo o jornal Washington Post, ficando atrás apenas de Elton John — que estava viajando o mundo em sua turnê de despedida e promovendo o filme Rocketman, que é uma biografia sua.
Essa turnê foi muito importante também para comprovar a relevância que eles têm na música brasileira e como as músicas envelheceram bem e ainda faz sentido que sejam tocadas até hoje. Além disso, mostrou como os dois evoluíram artisticamente, Sandy cantando melhor do que nunca e Junior como um grande instrumentista. Mostrou como estava errado quem o chamava de sombra da irmã e como a dupla é formada por duas pessoas, que se somam com o que cada um faz de melhor.
A história de Sandy e Junior é muito marcante para toda uma geração. Mesmo para quem não acompanhou assiduamente, é muito difícil não ter sido tocado pela música dos dois. Esse é o meu caso. Parei de acompanhar ainda criança, mas sempre que os dois apareciam na televisão eu parava para ver, pois marcou muito minha infância e guardo uma memória afetiva até hoje. Não pude estar presente, mas acompanhei a turnê Nossa História pelos stories no Instagram e assisti ao documentário e show do Allianz Parque assim que saíram no Globoplay.
Uma grande particularidade da dupla é que tudo foi feito sempre em família. Cada passo dado na carreira foi acompanhado de perto pelos pais desde aquela apresentação de brincadeira no Som Brasil. E, mesmo hoje, Xororó e Noely estão sempre ao lado, com a adição de Lucas Lima e Mônica Benini, marido da Sandy e esposa do Junior.
Assistindo ao documentário percebe-se que a turnê de 2019 não é apenas dos dois. Eles estão no palco, mas o show é de toda uma família que sempre esteve unida se ajudando para superar todas as dificuldades e trabalhando muito para entregar a melhor música e melhor espetáculo para os fãs. Para mim essa é a grande mensagem do documentário e legado da dupla. Quando uma família é unida e trabalha junto por um objetivo comum, é possível chegar a lugares muito altos. O sucesso da dupla não foi à toa ou ao acaso, mas é consequência do grande somatório do talento e dedicação da dupla, aliado ao trabalho conjunto da família Lima em cada passo.
Post relacionado:
Mais sobre MÚSICA
5 documentários da música brasileira que você precisa ver
Sem bairrismo, podemos dizer que a música feita no Brasil está entre as melhores do mundo. O Brasil é uma …
Opinião Sincera | Sandy — Nós, VOZ, Eles 2 (2022)
Em paralelo a seu retorno aos palcos, Sandy também lança um novo projeto: a segunda edição de Nós, VOZ, Eles, …