Na primeira vez que vi o trailer de Soul, estava no cinema com uma amiga esperando começar o filme Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, que, assim como Soul, também é da Pixar. Lembro de ter comentado com minha amiga como o filme parecia ser bom e que estava no aguardo desde então para o lançamento. Como uma boa amante das produções da Pixar, a minha expectativa era alta, mas nada me preparou para o filme genial desenvolvido por Pete Docter, diretor que desenvolveu outros filmes geniais como Divertidamente, Up: Altas Aventuras e Monstros, S.A.
Pete Docter confirma, para quem tinha alguma dúvida, que ele possui uma sensibilidade incrível para abordar assuntos importantes de uma forma bastante criativa e real. Ele faz você não só se comover com o roteiro criado, como também pensar sobre a vida e todas as coisas que realmente importam. Foi assim com todos os seus outros filmes e com Soul não seria diferente.
A proposta por si só, de tratar sobre a vida e a morte, já é intrigante o bastante para nos prender diante da tela. No entanto, meu pensamento quando deu o primeiro minuto de filme foi: “como Pete vai abordar esse tema de uma forma interativa que funcione para o público infantil?”. E apesar de pensar que o filme é agradável para todas as idades, acredito que Soul, ao abordar questões metafísicas e sobre o sentido da vida, nos mostra que Pete não tem (mais) tanto o público infantil como alvo.
Soul desde o início apresenta uma dinâmica marcante, que me fez sentir representada tanto com Joe Gardner quanto com a 22, que são praticamente dois opostos. Joe é um apaixonado por música e tem o sonho de ser um artista de Jazz. Tem na música o seu “propósito de vida”, perseguindo o sonho de ser artista por toda sua vida. A 22 é uma alma que se encontra na “pré-vida”, formando sua personalidade para estar pronta para viver uma vida pela qual ela não tem o menor desejo. A partir da relação dos dois, podemos ver duas perspectivas diferentes da vida, mas que são complementares e que com certeza todos já sentiram. Afinal, quem não já se sentiu perseguindo o seu propósito de vida a todo custo? Como se não existisse nada que importasse a não ser a realização desse sonho? Ou quem não já perdeu a capacidade, nem que seja por instantes, de apreciar a beleza da vida, que se encontra nas pequenas coisas, nos pequenos detalhes?
Eu achava que era um terror. Mas (…) a sua mãe costurou seu terno com essa linha minúscula, eu estava nervosa e o dez me deu isto, aí um cara no metro gritou comigo, eu fiquei assustada, mas eu gostei de sentir aquilo. (…) E se admirar o céu for a minha missão? Ou andar? Eu sou muito incrível andando.
A 22 e o Joe me fizeram pensar sobre como é importante o singelo sentir. Ser vulnerável ao sentir. Aos sentidos. Perceber as pequenas coisas. O existir singelo das pessoas que passam ao seu redor, sentir o vento te abraçando, apreciar o céu. Se atentar aos pequenos detalhes porque são eles que importam no final, são eles que compõem a vida. É o sentir. Sentir raiva, sentir medo, sentir, sentir, sentir. Permitir-se sentir. Permitir-se ser vulnerável ao outro para que ele possa te tocar de alguma forma. Mesmo com todos os machucados que você possa obter durante essa jornada.
Tem uma história sobre um peixe. Esse peixe foi até um ancião e disse: “Tô procurando um negócio. Um tal oceano.”
“O oceano?” O ancião falou. “Você está no oceano.”
“Isso?” Disse o peixinho. “Isso aqui é água. O que eu quero é o oceano.”
O Joe, ao morrer logo no dia em que iria realizar o seu grande sonho, deixa explícito por que é importante aproveitar os pequenos momentos. Que não percamos a capacidade de apreciar a vista dessa curta viagem de trem que é a vida, porque ela vai acabar em um piscar de olhos.
Soul me fez rir, pensar e chorar. Me fez sentir quão raro e belo é o existir. Se você está buscando um filme para te deixar pensativo e te fazer apaixonar-se novamente pelo singelo existir, assista.
O que importa é a jornada, e não o destino final.
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