The L Word: Generation Q (2019) é uma continuação de The L Word (2004–2009), série que aborda a vida da comunidade LGBTQ+ de Los Angeles, Califórnia. A obra trouxe à tona a existência de mulheres lésbicas e bissexuais, acompanhando os dramas que elas enfrentam no dia a dia, seja pelo preconceito ou pelas suas relações amorosas.
Idealizada por Illene Chaiken, Kathy Greenberg e Michele Abbott, a série é uma produção original da Showtime, mas está sendo veiculada pelo Globoplay e pelo Amazon Prime aqui no Brasil. Quando a série original estreou, em 2004, foi um divisor de águas, trazendo à superfície assuntos relacionados à sexualidade e à identidade de gênero, que costumavam ser invisibilizados.
A tradução literal seria “A palavra com L” – “Word”, não “World”, palavra com a qual poderia ser confundida se vista rapidamente. Esse título apresenta uma carga conceitual que envolve as denominações de contextos e emoções vivenciadas diariamente pelas personagens: “lesbian” (lésbica), “life” (vida), “longing” (desejo), “loneliness” (solidão), “lust” (luxúria), “laughter” (riso), “lies” (mentiras) e Los Angeles (cidade onde se passa a série).
The L Word: Generation Q chega “enfiando o pé na porta” – do jeitinho que a gente gosta. A temporada principia com uma cena de sexo em que uma das garotas está menstruada, algo perfeitamente normal e bastante comum de acontecer, mas de que ninguém fala. Eu, particularmente, nunca havia presenciado uma abordagem sobre esse assunto em nenhuma outra série de TV. O seriado consegue entregar uma identificação real, com personagens reais, em situações reais.
Além disso, as cenas de sexo, constantemente presentes na obra, mas sempre de maneira justificada, são extremamente sensíveis e realistas. Dirigidas por mulheres que compreendem o universo LGBTQ+, essas cenas nos mostram uma perspectiva verossímil de como funcionam, na vida real, as relações e os sentimentos dessas pessoas.
Lançada dez anos após a exibição do último episódio da primeira versão da série, Generation Q trata sobre temas e discussões que estão em voga no momento, nada deixando a desejar quanto à profundidade e à sensibilidade com que os assuntos são abordados. Ao longo da série existem diversas referências a The L Word, bem como várias participações de atrizes e outras celebridades que se destacaram, nos últimos anos, na causa LGBTQ+ – como Megan Rapinoe e Roxane Gay.
Somente três personagens da versão anterior estão presentes: Bette Porter (Jennifer Beals), Shane McCutcheon (Katherine Moennig) e Alice Pieszecki (Leisha Hailey) – minha favorita. As mencionadas atrizes também retornam como produtoras executivas. Em The L Word: Generation Q, somos apresentados a outras personagens que transitam por universos bem diferentes, como Angie (Jordan Hull), filha de Bette e de Tina (Laurel Holloman). Por intermédio dela, vemos a perspectiva de uma adolescente negra de 16 anos que está descobrindo sua sexualidade e seu lugar no mundo.
Nesta temporada, Bette Porter concorre ao cargo de prefeita de L.A. Acompanhamos a sua jornada em um meio machista, para se estabelecer enquanto mulher, negra e lésbica. O subtítulo “Generation Q” vem de “queer”, termo que abrange as pessoas que estão fora do padrão heteronormativo e não querem ser rotuladas quanto à sexualidade e ao gênero.
A busca pela representatividade na série é patente também dentro do elenco, composto por artistas que realmente fazem parte da comunidade LGBTQ+. Além disso, é possível notar a presença de alguns rostos conhecidos, como o de Jamie Clayton (Nomi, de Sense8), que interpreta Tess. Leo Sheng (Micah) é trans na vida real e representa um homem trans na série, desempenhando um papel fundamental na discussão sobre a vida sexual desse grupo de pessoas.
Sempre vista como uma série inclusiva e que cumpre um papel social, The L Word: Generation Q traz uma vasta diversidade de personagens, desde pessoas com deficiência a uma grande variedade étnica e racial, com muitas referências à cultura latina, já que Los Angeles tem uma das maiores comunidades latinas da Califórnia.
Ao longo da narrativa, nos deparamos com diversas discussões sobre relacionamentos afetivos – amorosos ou não – e como eles afetaram e afetam a construção da personalidade e do caráter das personagens. O “plus” de ser LGBTQ+ proporciona uma carga dramática ainda mais pesada. Cada personagem tem sua própria guerra para travar e seu próprio muro de Berlim para transpor.
Sarah Finley (Jacqueline Toboni), que inicialmente parece um protótipo de Shane, não se assemelha em nada a ela. É tudo ao contrário. Finley é insegura e péssima com as garotas, mas é uma ótima amiga. Ela possui uma relação distante com a família e é possível perceber que teve péssimas experiências com a religião. Isso se torna ainda mais evidente quando ela se relaciona com Rebecca (Olivia Thirlby), uma ministra protestante.
No caso de Dani Núñez (Arienne Mandi), mesmo que ela seja uma executiva de sucesso, seu pai sempre a trata como se ela fosse uma adolescente passando por uma “fase”. Desta forma, ela sente a necessidade de se afirmar a todo tempo, o que pode ser bastante cansativo. O relacionamento dela com Sophie (Rosanny Zayas) nos faz refletir sobre a importância do diálogo, sobre a complexidade das personalidades e das escolhas que precisam ser feitas na vida.
Alice tem um programa de TV, voltado para o público Queer, namora Nat (Stephanie Allynne), que já tem dois filhos, e se vê, de repente, em um relacionamento poliamoroso, precisando encarar os desafios que isso traz. Sempre aberta a novas experiências, ela recua e nos mostra um outro lado de sua personalidade. Afinal, não é porque ela aceita que o poliamor existe que precisa, necessariamente, praticá-lo. Por fim, ela ainda tem de lidar com o machismo fustigante dentro da indústria cultural.
Shane, por sua vez, parece não ter sentido em nada os sinais do tempo, mas, mesmo assim, está muito diferente de dez anos atrás. Aparentemente, a maturidade chega para todas. Casada – quem diria, né? – com Quiara (Lex Scott Davis), que a compreende em sua essência, ela se depara com os desafios e as incertezas de formar uma família.
Para quem faz parte da comunidade LGBTQ+ é difícil não se identificar e se emocionar com as histórias e as dificuldades pelas quais as personagens passam. A trama nos traz um turbilhão de emoções e tomamos partido em cada situação. Apesar de sabermos que, como disse Bette, “não há escolhas certas ou erradas, são apenas escolhas”.
A série tem uma fotografia muito interessante, que entrega bem o que propõe e consegue retratar a vida das personagens em seus melhores e piores momentos. Como sempre, há diversas cenas sensuais, que expõem a consumação da homossexualidade feminina em sua plenitude. São cenas muito bonitas, cheias de emoção, e sem qualquer vulgaridade. A uniformidade da paleta de cores, composta primordialmente por azul e laranja, preenche a ambientação, tornando as tomadas ainda mais harmoniosas e envolventes.
A trilha sonora é muito boa, com excelentes escolhas musicais. Existe uma consonância singular entre a letra e a melodia das músicas, que permeiam as cenas, com os sentimentos vivenciados pelas personagens, tornando cada momento ainda mais denso emocionalmente. Eu já conhecia muitas das canções e adicionei várias outras à minha playlist.
O final de The L Word: Generation Q, ao som de What About Us, da P!nk, é emocionante e conversa perfeitamente com a trama, fechando a temporada com chave de ouro. A série é consistente e densa, por isso espero que não demore muito para estrear a segunda temporada. Aquele final ainda está mexendo com meus nervos. O que será que vai acontecer a seguir?
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