A série sueca Young Royals foi adicionada recentemente ao catálogo da Netflix e já há altas expectativas para sua renovação. A trama narra a história do príncipe Wilhelm (Edvin Ryding), que, após envolver-se em uma confusão amplamente repercutida na internet, é transferido para o internato Hillerska. A família real decide matricular Wilhelm na mesma escola em que seu irmão Erik (Ivar Forsling) – o príncipe herdeiro – estudou, com o objetivo de limpar a imagem de Wilhelm e fazer com que este se dedique a seus estudos nos próximos três anos. Assim, desde o início da série é possível perceber que, mesmo não sendo o herdeiro da coroa, Wilhelm é afetado diretamente pela necessidade da monarquia em preservar a própria reputação.
Wilhelm tem uma relação bem íntima com seu irmão, que o apresenta a August (Malte Gardinger), seu primo de segundo grau. August é bastante ativo em relação às atividades do internato e promete fazer com que a chegada do príncipe seja o mais acolhedora possível – mesmo que por trás dessa calorosa recepção haja diversos interesses pessoais.
Logo após sua chegada, Wilhelm conhece Simon (Omar Rudberg), bolsista e não residente do internato. Inicialmente o que parece chamar mais atenção de Wilhelm em Simon é a sua maneira de expressar as próprias convicções, mesmo em um ambiente em que as pessoas deixam nítido que a sua presença ali não é bem vinda. A sensação de deslocamento sentida por Wilhelm parece se refletir também em Simon, o que faz com que o príncipe passe a buscar uma maior proximidade entre ambos.
A premissa da série não é em si inovadora, porém a construção da relação entre Wilhelm e Simon é feita de uma maneira extremamente sensível. Os acontecimentos não ocorrem de maneira rápida, mas com uma lentidão envolvente. A atração entre os protagonistas é desenvolvida de maneira natural, o que a química entre os dois só faz intensificar. As cenas protagonizadas por eles destacam a beleza presente nos pequenos gestos e toques: detalhes muitas vezes despercebidos, mas que garantem uma construção singular para a relação dos personagens. Além disso, a construção do romance foge da hipersexualização e, por mais que haja cenas mais quentes, a intimidade entre ambos se dá de uma forma muito mais ampla.
A escolha de atores condizentes com a idade dos personagens é essencial para a construção de uma história muito mais real. Um exemplo disso são as cenas que destacam “imperfeições” corporais – quase sempre ocultas em produções hollywoodianas – e personagens que fogem de padrões estéticos inalcançáveis. Além disso, Young Royals consegue mesclar dilemas cotidianos para a faixa etária dos personagens juntamente com as pressões familiares intensas. Afinal, os alunos fazem parte de uma elite financeira constantemente atravessada por interesses pessoais, ganância e jogos de poder.
Outro ponto positivo no desenvolvimento da trama, em minha opinião, é a naturalidade com que os personagens lidam com suas orientações sexuais. Simon é abertamente gay e as questões mais presentes na construção do seu personagem são a vulnerabilidade financeira e a desestrutura familiar, composta por uma mãe solo e um pai alcoólatra. Quanto ao príncipe, a questão que fica evidente é a confusão interna entre assumir o amor que sente por Simon e viver o romance abertamente ou aceitar as imposições familiares, justificadas pela necessidade de lealdade à monarquia.
Você e seus futuros filhos assumirão o trono. Então é importante que seja um exemplo. Não pode mais cometer erros.
Alguns personagens também se destacam ao longo da trama, como Sara (Frida Argento), irmã de Simon, diagnosticada com Asperger e TDAH. A personagem ganha destaque em muitos momentos da série, sobretudo por estar em uma constante tentativa de adequar-se aos costumes e comportamentos da elite de sua escola. Outra personagem que ganha espaço de uma forma diferente do esperado é Felicity (Nikita Uggla), que constrói uma amizade inusitada com Sara e, apesar dos dilemas familiares, toma decisões importantes ao longo da trama. Por fim, August (Malte Gårdinger) também protagoniza momentos decisivos na série e a construção de seu personagem se dá de maneira complexa, expondo cruamente suas expectativas, falhas e contradições. Apesar de suscitar questões extremamente importantes em relação a esses personagens, a quantidade de episódios não favoreceu o desenvolvimento mais aprofundado deles. Isso é algo que se espera que aconteça em uma possível segunda temporada.
Young Royals consegue construir um enredo que escapa do clichê e expõe problemáticas que vão além do esperado. Mesmo em poucos episódios, a construção dos personagens permite que o público experimente diversos sentimentos em relação às escolhas feitas ao longo da trama. A perfeição que o ambiente exige se mostra ilusória, uma vez que a realidade dos personagens é recheada de sentimentos e ações complexas, fugindo de uma dicotomia vilão/mocinho. A série engloba problemáticas familiares, convenções sociais, ambições, amor e escolhas, tudo isso transmitido através de um olhar sensível à vulnerabilidade que atravessa os personagens.
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