Após 4 anos de polêmicas, teorias e brigas dentro do estúdio da Warner Bros, finalmente saiu agora em março de 2021 a Liga da Justiça na versão de Zack Snyder, também conhecida como Snyder Cut. Com lançamento na plataforma HBO Max nos Estados Unidos e na HBO Go em outras partes do mundo, o filme, que começou como uma teoria da conspiração dos fóruns da internet, realmente ganhou força e acabou vindo às telas como uma versão “corrigida” da Liga da Justiça de Joss Whedon, de 2017. Snyder é um diretor que divide opiniões e a confirmação do lançamento do filme em meados do ano passado já trouxe as perguntas: seria melhor que a versão de Whedon? Quão diferente é essa versão da que foi para o cinema? O Snyderverso tem futuro na Warner?
O que já surpreende de cara ao dar play no streaming é a duração do filme: 4 horas. Zack Snyder é famoso por filmar muito e também por ser bastante prolixo em suas narrativas. Isso ficou claro em 2016 com Batman vs. Superman, que necessitou de uma versão estendida com mais de 3 horas para explicar várias pontas que ficaram soltas na versão de 2 horas e meia que foi para o cinema. Na nova Liga da Justiça, esse tamanho tem justificativa, mas, no decorrer da obra, dá para perceber que são dois filmes em um. Uma primeira sessão inicial de apresentação dos heróis e reunião da equipe e uma segunda que é a resolução do conflito, em que o ápice é a ressurreição do Superman. Uma divisão clara, tendo em vista que o filme foi dividido em 6 partes e 1 epílogo, ficando evidente poder assistir às primeiras três partes como um filme e ao restante como a continuação, ou também como uma minissérie de 6 episódios. Aliás, ser lançado como minissérie foi cogitado pela HBO Max.
O roteiro do filme, em si, é igual ao da versão do Whedon, com seus mesmos erros e furos. O grande ponto e vantagem é um melhor desenvolvimento da história do Ciborgue, que ganhou um papel central a partir do terceiro quarto do filme. Vale lembrar que um dos motivos da saída de Snyder da produção em 2017 foi o trágico suicidio de sua filha. Enquanto produzia o longa, a sua filha Autumn sofria de forte depressão e vemos muitas mensagens e diálogos de Ciborgue e seu pai sobre esse tema. Talvez os momentos mais tocantes e interessantes do filme sejam essas interações, uma homenagem de Snyder à sua filha que infelizmente se foi. Além do foco nos personagens secundários, temos uma melhor explicação da ameaça do Darkseid, quem é o vilão e como ele poderia destruir o mundo. Foi uma parte negligenciada por Whedon, que se concentrou no Lobo da Estepe. Sua versão não teve um aprofundamento, enquanto a atual tem um melhor desenvolvimento e uma elevação de seu nível de força/ameaça.
As cenas de batalha melhoraram bastante. A cena na ilha das amazonas é épica e sensacional. Dá para ter noção do quão poderosa é a invasão e de que, sem o Superman, não é possível superar a destruição do mundo. Há um teor épico declarado, ao ponto de referenciar a “união das raças” da Sociedade do Anel de modo literal na união de humanos, amazonas e atlantes contra os parademônios e Darkseid. O visual, a sequência e a luta gigantesca aquecem o coração de quem sente falta das aventuras tolkenianas nas telas do cinema. O filme, em geral, tem um tom mais escuro que a versão do Whedon, mas não esconde a computação gráfica nesse escuro, o que poderia ser esperado. O uso de contrastes e sombras característicos de Snyder estão presentes, assim como as cenas em câmera lenta. E haja câmera lenta, especialmente no começo. É um excesso que se dilui mais para o final, sendo usado mais para simbolizar o poder do Flash. Snyder ama câmeras lentas para realizar “quadros” marcantes em suas obras, “tirar as páginas dos quadrinhos para a tela”, e aqui temos muito disso. Se de certo modo foi exagerado, no final não deixa um amargor na impressão geral do filme.
A grande mensagem do filme é sobre ter fé e esperança, especialmente pela volta do personagem que representaria isso no universo DC: o Superman. Snyder leva claramente a ideia do “Gods Among Us” dos heróis da DC muito a sério e são explícitas as referências religiosas aos personagens, como fica claro logo no início, com Aquaman e Mulher-Maravilha sendo louvados e a bandeira com o S do Superman. Aliás, o jogo Injustice: Gods Among Us é diretamente referenciado desde BvS, sendo o universo do pesadelo o cenário em que o Superman vira um vilão e tirano, assim como no jogo. Para levar esperança e evitar o futuro distópico, a razão não basta e é preciso trazer de volta o Superman para que o futuro seja salvo. Mesmo que tudo aponte para que dê errado, temos de acreditar e ter fé — e crer que os roteiristas resolverão esse problema.
Para que o Superman não vire vilão, Lois Lane é a chave. É ela que traz a humanidade para o deus e que traz as boas sensações para ele. Entretanto, os roteiristas desperdiçam a oportunidade de dar uma boa resolução para isso. Mesmo com um excelente diálogo da Lois com a famigerada Martha, o que temos é ela repetindo as atitudes e estando no lugar conveniente para lembrar Kal-El de quem ele é, sem nenhuma explicação, apenas pela conveniência de local e espaço do roteiro. Em geral, esse é um problema do Snyder, ao deixar as personagens femininas de modo secundário, sendo guiadas por um homem. Isso quando se tem personagens femininas relevantes em suas histórias.
Acerca dos efeitos especiais, fica patente que não estão no mais alto nível. Em vários momentos o Ciborgue está estranho, variando entre total computação gráfica e trechos do ator Ray Fisher. Há um excesso de fundo verde no filme e é muito perceptível. Em alguns momentos parece que estamos assistindo a uma nova versão de 300; em outros, quando o Flash utiliza seu poder, os atores ao seu redor são trocados por bonecos 3D, com pouca verossimilhança. Em um filme que custou mais de US$ 200 milhões, poderiam ter tido mais esmero. A vantagem é que a coreografia da batalha não é confusa e conseguimos acompanhar o que ocorre.
Zack Snyder’s Justice League é um filme longo que poderia muito bem ter sido uma minissérie, mas que infelizmente é cancelada na sua primeira temporada. Por conta dos fãs e dos executivos da HBO Max, essa versão saiu para o público e abre uma nova chance para filmes de super-heróis no streaming. Jamais a Warner lançaria um filme de 4 horas em formato 4:3 no cinema, o que a HBO Max permitiu e aparentemente deu certo. Deu tão certo que quase não ouvimos sobre o lançamento inédito da plataforma, que é Godzila vs Kong, que sairá nesta semana.
Recomendo assistir por partes, pois as 4 horas podem parecer cansativas. O roteiro é o mesmo da versão de 2017 quando imaginamos os arcos, de onde a história parte e para onde vai. É um novo modo de contar uma história conhecida. Comparar com Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato é covardia, tendo a Marvel construído seu universo em mais de 20 filmes e a DC em apenas 3. Mesmo que não tenha esses detalhes, o Snyder Cut diverte e é, sem sombra de dúvidas, uma graphic novel em formato de cinema. E com vasto espaço para uma quase impossível continuação.
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